Empresário chinês liderava rede que usou mais de 400 contas para lavar milhões de evasão fiscal

Operação da PJ do Porto levou à detenção de sete suspeitos e à apreensão de dinheiro, imóveis e carros de luxo

Revista de Imprensa
Dezembro 11, 2025
9:03

Mais de 200 milhões de euros provenientes da evasão fiscal desapareceram da economia nacional nos últimos dois anos através de uma rede internacional de branqueamento de capitais com base na Varziela, em Vila do Conde, zona conhecida como a “Chinatown” do Norte.

Segundo o ‘Jornal de Notícias’, o grupo era liderado por um empresário chinês que utilizava testas de ferro para controlar cerca de 50 empresas e mais de 400 contas bancárias. A Polícia Judiciária do Porto deteve ontem o cabecilha e outros seis suspeitos, tendo apreendido 300 mil euros em numerário, nove carros de luxo e seis imóveis.

A organização oferecia serviços de lavagem de dinheiro sobretudo a empresários chineses, muitos deles conhecidos do líder, que também fazia desaparecer os valores das suas próprias vendas sem fatura. De acordo com o JN, o suspeito é proprietário de um armazém de comércio por grosso e de um restaurante na zona da Boavista, no Porto, ambos alvo de buscas.

Recrutamento de testas de ferro e criação de empresas fictícias

A partir de 2023, o líder do esquema começou a recrutar pessoas em dificuldades económicas para figurarem como proprietárias e gerentes de empresas de fachada, criadas apenas para permitir a abertura de contas bancárias. O aliciamento foi feito com apoio de um casal residente num bairro problemático do Porto, a quem o cabecilha chegou a oferecer férias num hotel de luxo no Algarve como recompensa.

Os chamados “homens de palha” eram levados a cartórios e lojas do cidadão para constituir as empresas e, de seguida, aos bancos, onde eram abertas contas e emitidos cartões multibanco e códigos de homebanking. Após receberem uma pequena quantia, deixavam a documentação entregue à rede, que passava a controlar os acessos e a movimentar os fundos.

Milhões depositados em contas de fachada

O grupo recolhia quase diariamente envelopes de dinheiro junto de empresários e depositava-os nas mais de 400 contas criadas para o esquema. Numa única conta, titulada por uma mulher do Bairro de Ramalde sem rendimentos declarados nem registo de atividade na Segurança Social, foram depositados 1,4 milhões de euros em numerário.

As contas da rede receberam 141 milhões de euros em dinheiro vivo, num total de 209 milhões movimentados. Os valores eram depois transferidos para o estrangeiro, passando por países como Alemanha e Dinamarca, tendo como destino final a China.

Operação envolveu 170 inspetores e vários organismos

Os sete detidos foram presentes ao Tribunal de Instrução Criminal para serem confrontados com as provas recolhidas no inquérito conduzido pelo DIAP Regional do Porto. A operação mobilizou cerca de 170 inspetores da PJ do Porto, Braga e Vila Real, com apoio da ASAE, e foi acompanhada por duas magistradas do Ministério Público.

Em causa estão crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais, fraude fiscal e falsificação de documentos.

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