A Grécia, que há uma década esteve à beira de sair da zona euro, assumiu agora a liderança do órgão europeu que a resgatou da bancarrota. O ministro das Finanças grego, Kyriakos Pierrakakis, venceu esta quinta-feira a disputa pela presidência do Eurogrupo, derrotando o vice-primeiro-ministro belga, Vincent Van Peteghem, numa corrida a dois considerada decisiva para o futuro económico da moeda única.
A vitória de Pierrakakis marca um momento simbólico para um país que, há apenas dez anos, atravessava uma crise de dívida soberana que forçou três resgates internacionais. Na altura, um dos seus antecessores descreveu o Eurogrupo como “um lugar apenas para psicopatas”, retratando a dureza das negociações que quase conduziram ao chamado Grexit.
Hoje, Atenas apresenta-se como um caso de sucesso da disciplina fiscal, tendo reduzido a dívida pública para cerca de 147% do PIB — ainda o valor mais elevado da zona euro, mas bem abaixo do pico registado durante a crise.
No documento de candidatura ao cargo, Pierrakakis destacou que “a minha geração foi moldada por uma crise existencial que revelou o poder da resiliência, o custo da complacência, a necessidade de reforma e a importância estratégica da solidariedade europeia”. Sublinhou ainda que “a nossa história não é apenas nacional; é profundamente europeia”.
A vitória improvável e o impacto da política belga
A eleição do ministro grego não era tida como provável entre os diplomatas europeus, que apontavam Van Peteghem como favorito, graças à experiência acumulada e ao prestígio que detém entre os ministros das Finanças da zona euro.
Contudo, a resistência contínua da Bélgica ao plano da Comissão Europeia para utilizar o valor dos bens russos congelados no financiamento de um empréstimo de 165 mil milhões de euros destinado a compensar a Ucrânia acabou por custar votos decisivos ao candidato belga e abrir caminho à vitória grega.
Um percurso político atípico marcado pelas reformas
Pierrakakis distingue-se dentro da Nova Democracia — partido conservador que pertence ao PPE — pela sua trajetória política pouco convencional. A sua formação ideológica inicial foi socialista: trabalhou como assessor do PASOK a partir de 2009, precisamente quando a Grécia caiu em crise financeira. Nessa qualidade, chegou a participar nas negociações com os credores internacionais.
Formado em Harvard e no MIT, aderiu à Nova Democracia em 2015 para apoiar a candidatura de Kyriakos Mitsotakis à liderança do partido, alegando então que partilhavam a mesma visão estratégica para o futuro do país.
A ascensão de Pierrakakis acelerou após a vitória eleitoral da Nova Democracia em 2019, depois de quatro anos em que desempenhou funções na direção do centro de investigação diaNEOsis. Foi então nomeado ministro da Governação Digital, onde conduziu a modernização de múltiplos processos do Estado, incluindo a digitalização das reuniões de Conselho de Ministros e das receitas médicas. O sucesso destas reformas tornou-o num dos ministros mais populares do Governo grego, frequentemente apontado pela imprensa como possível sucessor de Mitsotakis na liderança partidária.
Com a reeleição da Nova Democracia em 2023, Pierrakakis assumiu a pasta da Educação, onde apoiou legislação controversa que abriu caminho à criação de universidades privadas no país. Já em março deste ano, uma remodelação governamental levou-o ao Ministério das Finanças, cargo a partir do qual acelerou o pagamento da dívida aos credores e comprometeu-se a reduzir o rácio da dívida pública para menos de 120% do PIB até 2030.
Agora, como presidente do Eurogrupo, Pierrakakis passa a dirigir o fórum central para a coordenação das políticas económicas da zona euro — o mesmo organismo que, há uma década, desempenhou um papel decisivo no resgate financeiro do seu país.














