A Rússia está a exportar petróleo bruto a um ritmo sem precedentes, mas as receitas petrolíferas estão a cair de forma acentuada. O aumento dos carregamentos está a gerar um cúmulo recorde de barris no mar, pressionando os preços e limitando a capacidade de Moscovo financiar o esforço de guerra na Ucrânia. A situação resulta ainda do impacto direto das novas sanções dos Estados Unidos, que dificultam a venda efetiva do petróleo russo.
Segundo o ‘El Economista’, Moscovo enviou 3,68 milhões de barris diários por via marítima nas quatro semanas até 7 de dezembro, o valor mais alto desde o início da invasão de 2022. No mesmo período, 38 navios-tanque carregaram quase 30 milhões de barris, fixando um novo máximo semanal.
Contudo, este aumento não está a traduzir-se em receitas. Os stocks russos no mar cresceram 28% desde o final de agosto, atingindo cerca de 180 milhões de barris, devido às dificuldades de descarregamento e às rotas cada vez mais longas, desviadas da Índia para a China. A pressão sobre os preços reduziu as receitas para cerca de 10,2 mil milhões de euros, menos 3,3 mil milhões de euros do que há um ano e muito abaixo dos níveis registados após o início da guerra.
Queda dos preços agrava impacto das sanções
Os preços do petróleo russo caíram de forma brusca. O Urals FOB Primorsk desceu para o equivalente a 40 euros por barril e o ESPO FOB Kozmino para cerca de 49 euros, refletindo o endurecimento das sanções e o recuo da procura. Os descontos em relação ao petróleo do Mar do Norte ultrapassaram os 22 euros por barril, o maior diferencial desde 2023.
Simultaneamente, os custos de transporte aumentaram, devido à menor disponibilidade de navios da chamada frota paralela. Os fretes para a Índia subiram para cerca de 10 euros por barril. A arbitragem entre mercados reforçou-se, com a diferença de preços entre a Índia e Primorsk a atingir o valor mais elevado desde 2023.
Índia e China reduzem compras
A pressão americana, salientou o ‘El Economista’, poderá levar a Índia a cortar significativamente as importações no início de 2026, para o nível mais baixo em quase quatro anos. A China segue tendência semelhante: em novembro, comprou mais petróleo à Arábia Saudita e ao Irão do que à Rússia, cujas importações caíram para 1,19 milhões de barris por dia. Especialistas citados indicam que as sanções dos EUA já estão a produzir efeitos.
Ao mesmo tempo, a Rússia continua a sofrer ataques ucranianos a refinarias, portos e navios. Kiev recorre agora a drones de longo alcance contra cargueiros ligados ao país. A contraofensiva económica também se intensifica: as sanções americanas às duas maiores petrolíferas russas podem aprofundar ainda mais a queda nas receitas.
Com despesas militares previstas de cerca de 133 mil milhões de euros para 2025, mais 25% do que em 2024, a pressão fiscal aumenta. A receita anual de petróleo e gás entre janeiro e outubro caiu mais de um quinto. O Governo decidiu subir o IVA de 20% para 22% a partir de 2026, contrariando promessas anteriores de estabilidade fiscal.
Inflação, consumo em queda e sinais de estagnação
A guerra prolongada começa a afetar o quotidiano russo. Muitos agregados familiares relatam dificuldades para comprar alimentos essenciais, com o custo semanal das compras a duplicar em dois anos. A inflação, apesar de moderada para 6,8%, reflete um consumo debilitado. A subida das taxas de juro para 21% expôs fragilidades estruturais numa economia simultaneamente militarizada e dependente de sectores civis.
Análises externas comparam o impacto económico da guerra ao de conflitos prolongados do passado. Estima-se que o esforço militar já represente 15% do PIB russo em pouco mais de três anos, muito acima dos 1% que os EUA gastaram por ano durante a Guerra do Vietname. Especialistas antecipam que as novas restrições reduzam ainda mais a capacidade russa de manter a produção e o investimento em novos projetos petrolíferos.














