Apesar de o presidente norte-americano, Donald Trump, insistir que a Ucrânia deveria avançar para eleições presidenciais e acusar Kiev de estar a “usar a guerra para não realizar o escrutínio”, os dados mostram quem lideraria uma eventual corrida eleitoral, caso o país fosse hoje às urnas. O tema ganhou força depois de Trump afirmar, em entrevista ao Politico, que este seria “um momento importante” para a realização do voto.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu de imediato, garantindo estar pronto para ir a eleições num prazo de 90 dias, desde que os parceiros ocidentais assegurem condições de segurança. “Tenho vontade e estou preparado para isso”, declarou. Zelensky sublinhou que está a pedir aos Estados Unidos e à Europa apoio direto para garantir a realização do processo eleitoral em ambiente de guerra. “Peço agora, e digo isto abertamente, que os EUA me ajudem. Em conjunto com os nossos parceiros europeus, podemos garantir a segurança necessária para realizar eleições. Se isso acontecer, a Ucrânia estará pronta para votar nos próximos 60 a 90 dias”, afirmou.
A lei impede eleições em plena guerra
A legislação ucraniana atual proíbe a realização de eleições enquanto vigora a lei marcial. Esta regra foi ativada após a invasão russa em grande escala, há quase quatro anos. Zelensky já pediu ao parlamento que prepare propostas legislativas que permitam alterar esta limitação, abrindo caminho a um eventual escrutínio ainda durante o conflito.
Paralelamente, o presidente procurou deixar claro que não está agarrado ao cargo: em setembro, afirmou que não pretende candidatar-se a um segundo mandato quando a guerra terminar. “Se acabarmos a guerra com os russos, estou preparado para não avançar para um segundo mandato, porque eleições não são o meu objetivo. O meu objetivo é terminar a guerra”, disse.
A popularidade de Zelensky após quatro anos de guerra
Zelensky chegou ao poder em 2019 com uma vitória avassaladora: mais de 73% na segunda volta, contra 24% do ex-presidente Petro Poroshenko. Poucos meses depois, o seu partido, Servo do Povo, conquistou a maioria absoluta no parlamento.
Nesse ano, cerca de 80% dos ucranianos confiavam no presidente. O número caiu para 37% em fevereiro de 2022, mas recuperou de forma explosiva para 90% após o início da invasão total da Rússia.
Segundo um inquérito do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KIIS) realizado no início do outono, Zelensky mantém 60% de apoio popular — um valor ainda alto, embora inferior ao pico registado nos primeiros meses do conflito.
Quem venceria as eleições?
Um estudo recente da Info Sapiens, publicado na terça-feira, indica que Volodymyr Zelensky continua a ser o candidato mais forte: 20,3% dos inquiridos votariam nele.
Embora este número esteja distante dos 73% que obteve em 2019, Zelensky permanece à frente de todos os potenciais adversários e venceria uma eleição presidencial realizada hoje, segundo o mesmo levantamento.
A segunda figura com mais apoio é o antigo comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia e atual embaixador em Londres, general Valerii Zaluzhnyi, que surge com cerca de 19%. A sua reputação consolidou-se durante os primeiros anos da invasão russa: liderou a defesa de Kiev em 2022 e dirigiu várias contra-ofensivas até maio de 2024.
Apesar disso, Zaluzhnyi afastou categórica e repetidamente qualquer intenção política. Em outubro, reagiu aos rumores garantindo não ter planos para se envolver em partidos ou campanhas. “Não apoio a realização de eleições durante o período de guerra. Qualquer pessoa que receba uma proposta — alegadamente em meu nome — para participar em alguma iniciativa deve comunicar às autoridades competentes”, afirmou. “Não estou a criar quartéis-generais nem partidos políticos, e não tenho qualquer ligação a forças políticas.”
A terceira figura com relevância nas sondagens é o chefe da Inteligência Militar ucraniana (HUR), Kyrylo Budanov, embora com pouco mais de 5%. Budanov nunca expressou ambições políticas e é considerado essencial nas operações de espionagem e contra-espionagem da Ucrânia, conduzidas tanto dentro como fora do país.
O destaque dado a líderes militares, como Zaluzhnyi e Budanov, é entendido como reflexo da importância que o eleitorado atribui à defesa nacional e à estratégia militar, num momento em que a guerra com a Rússia continua sem um fim previsível.
Os ucranianos querem eleições agora?
As sondagens mostram que a grande maioria não quer votar antes do fim da guerra. Apenas 12% defendem a realização das eleições enquanto decorre a invasão russa. Cerca de 22% apoiam eleições após um cessar-fogo com garantias de segurança — garantias essas que ainda não foram oferecidas à Ucrânia. Para 63% dos inquiridos, o processo eleitoral só deve ocorrer depois de terminados os combates.














