Sobem 30% em cinco anos: bancos nunca ganharam tanto em comissões. Millennium bcp lidera ranking

Crescimento das comissões reflete uma tendência consolidada na última década. Desde 2020, o valor arrecadado por este tipo de encargos subiu 30%

Revista de Imprensa
Novembro 4, 2025
10:17

As comissões bancárias continuam a ser uma das principais fontes de receita para o setor financeiro português. De acordo com o jornal ‘Público’, os quatro maiores bancos privados — BCP, Santander Totta, Novo Banco e BPI — encaixaram 1.487 milhões de euros em comissões entre janeiro e setembro deste ano, um aumento de 4% face ao mesmo período de 2024.

O crescimento das comissões reflete uma tendência consolidada na última década. Desde 2020, o valor arrecadado por este tipo de encargos subiu 30%, impulsionado pela retoma da atividade económica após a pandemia da Covid-19 e pela migração dos clientes para produtos de poupança e investimento mais rentáveis — e também mais onerosos em termos de custos. Mesmo em relação a 2021, a subida é de 18%, o que representa mais 225 milhões de euros.

Durante os anos de taxas de juro negativas impostas pelo Banco Central Europeu, os bancos agravaram os preçários e reforçaram as comissões como forma de compensar a quebra das margens financeiras. Porém, mesmo após a subida acentuada das taxas em 2022 e 2023 — e a sua estabilização nos atuais 2% — as instituições não aliviaram os encargos aos clientes. As comissões voltaram, assim, a ganhar protagonismo, crescendo mais do que o índice de preços dos últimos 12 meses (2,4%).

BCP lidera em valor, Novo Banco no ritmo de crescimento

Com 629 milhões de euros em comissões, o Millennium bcp lidera o ranking nacional, com um crescimento de 4% face a 2024. O banco justifica o resultado com a expansão das suas atividades de mercado, nomeadamente na gestão e distribuição de ativos e fundos de investimento.

O Novo Banco destacou-se pela evolução mais expressiva, registando um aumento próximo de 10% e atingindo 266 milhões de euros. O crescimento foi “transversal a todas as linhas de produto”, de acordo com o comunicado oficial, com destaque para as comissões de contas e meios de pagamento (137,7 milhões, +6,5%) e de empréstimos (65,3 milhões, +22,9%). A instituição, atualmente em processo de venda ao grupo francês BPCE e envolvida em buscas judiciais, tem vindo a reestruturar operações e a reforçar o peso dos serviços prestados.

No Santander Totta, as comissões líquidas ascenderam a 365,2 milhões de euros, um aumento de 5,9%. O banco aponta o crescimento da base de clientes e a maior utilização dos meios de pagamento como fatores decisivos, sublinhando ainda o contributo dos segmentos de seguros e gestão de ativos.

Já o BPI foi a exceção entre os grandes bancos, apresentando uma ligeira quebra face a 2024: arrecadou 227 milhões, abaixo dos 244 milhões do ano anterior. O banco explica a diferença com um efeito extraordinário registado no exercício anterior, relacionado com a liquidação antecipada de participações em resultados de apólices. Excluindo esse impacto, o valor das comissões teria ficado estável. O presidente executivo, João Pedro Oliveira e Costa, garantiu que não houve aumento de preçários e admitiu que “a concorrência e a pressão dos mercados tornam difícil rever tabelas em alta”.

A Caixa Geral de Depósitos divulgará os resultados do terceiro trimestre esta semana, mas no primeiro semestre já tinha registado uma ligeira melhoria nas comissões, sobretudo associadas a meios de pagamento e à venda de seguros e fundos.

Comissões travam descida dos lucros

Nos primeiros nove meses do ano, o aumento das comissões permitiu atenuar a quebra dos lucros, penalizados pela redução das margens financeiras em quase todos os bancos. No conjunto dos quatro privados, o resultado líquido recuou 1,7%, fixando-se em 2,5 mil milhões de euros. Ainda assim, todas as instituições destacam níveis de rentabilidade acima dos dois dígitos, sinal de que os bancos continuam a ser dos setores mais lucrativos da economia portuguesa.

As comissões bancárias — que cobrem desde a manutenção de contas até à gestão de produtos de investimento — tornaram-se, assim, uma componente estrutural do negócio. A sua persistente subida, mesmo num contexto de estabilização das taxas de juro, levanta debates sobre transparência, equidade e regulação num momento em que o setor financeiro atravessa uma nova fase de elevada rentabilidade.

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