Abelhas em risco de desaparecer: estudo revela que precisam do triplo do espaço previsto pela UE para sobreviver

A União Europeia (UE) estabeleceu objetivos para inverter esta tendência, mas um novo estudo publicado na revista ‘Science’ conclui que essas metas não são suficientes

Francisco Laranjeira
Outubro 4, 2025
10:00

As abelhas, as borboletas e outros insetos polinizadores são essenciais para manter a biodiversidade e garantir a produção agrícola. No entanto, indicou a publicação ‘ABC’, estas espécies estão em forte declínio, em grande parte devido à perda de habitats causada pela pressão humana. A União Europeia (UE) estabeleceu objetivos para inverter esta tendência, mas um novo estudo publicado na revista ‘Science’ conclui que essas metas não são suficientes.

O trabalho contou com a participação de investigadores da Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC) e do Instituto de Agricultura Sustentável (IAS-CSIC), de Espanha. Os cientistas defendem que é necessário aumentar significativamente a área dedicada a habitats naturais dentro das superfícies agrícolas, criando verdadeiras “ilhas” de biodiversidade que possam sustentar populações de polinizadores de forma estável e duradoura.

Segundo os investigadores, não basta garantir pequenas áreas com muitas flores: é fundamental assegurar a diversidade vegetal, a qualidade ecológica e, sobretudo, a permanência a longo prazo desses espaços naturais.

A Estratégia de Biodiversidade da União Europeia recomenda que, até 2030, pelo menos 10% da superfície agrícola seja destinada a elementos paisagísticos ricos em diversidade, como terras em pousio, árvores não produtivas ou zonas húmidas. No entanto, a nova investigação mostra que esse valor está muito abaixo do necessário.

A análise de quase 180.000 registos de polinizadores em mais de 1.200 paisagens agrícolas de 19 países revelou que as abelhas solitárias precisam de cerca de 16% de habitat natural para sobreviver, os abelhões necessitam de 18% e as borboletas de 37%. Estes valores ultrapassam largamente a meta dos 10% estabelecida pela UE, indicando que as medidas atuais não chegam para travar a perda de biodiversidade.

Mais espaço, mais biodiversidade

O estudo confirma uma regra simples: quanto maior a área de habitat natural disponível nas explorações agrícolas, maior é a presença e a diversidade de polinizadores. Embora habitats ricos em flores sejam importantes, a qualidade não substitui a necessidade de espaço. Sem atingir uma superfície mínima, é impossível garantir populações de insetos saudáveis.

Por isso, os autores recomendam que se priorize o aumento da extensão dos habitats antes da gestão intensiva de pequenas áreas, mesmo que estas apresentem elevada diversidade floral.

Apoio económico aos agricultores é essencial

Os cientistas sublinham também que a conservação a longo prazo dos polinizadores só será viável se os agricultores receberem apoio económico consistente. A criação de pequenas faixas de flores ou medidas temporárias tem efeitos limitados, pois geram apenas aumentos passageiros nas populações de insetos.

José Luis González Andújar, do IAS-CSIC, defende que é necessário implementar mecanismos de apoio estáveis e de longa duração. Segundo o investiguador, apenas com compensações económicas e políticas de incentivo será possível garantir que os agricultores dediquem parte das suas terras à preservação da biodiversidade. Este esforço, acrescenta, deve ser mantido durante pelo menos duas décadas para evitar insegurança no setor agrícola e assegurar benefícios reais para os polinizadores.

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