Instabilidade política e Governo de Bayrou perto de cair: o que se passa em França e como pode Macron ‘sobreviver’?

Nomeado em dezembro último pelo presidente francês Emmanuel Macron, Bayrou tem-se esforçado por manter uma coligação minoritária numa Assembleia Nacional profundamente dividida

Executive Digest Contents
Setembro 8, 2025
7:45

França entra hoje numa nova fase de incerteza política, com o quase certo chumbo do voto de confiança proposto pelo primeiro-ministro François Bayrou à Assembleia Nacional esta segunda-feira. A decisão surge na sequência da contestação social às medidas de austeridade apresentadas em julho, avaliadas em 44 mil milhões de euros, que incluem cortes profundos na despesa pública e a polémica intenção de suprimir dois feriados nacionais.

Com uma Assembleia Nacional fragmentada em três grandes blocos, o futuro de Bayrou parece condenado. À esquerda, os socialistas, a França Insubmissa, os Verdes e o Partido Comunista anunciaram oposição frontal às medidas. À direita, o partido União Nacional, de Marine Le Pen, acusa o primeiro-ministro de “fazer sofrer os franceses”.

Somando 192 votos da esquerda e 123 do partido de Le Pen, Bayrou enfrentará 315 votos contrários de um total de 577 deputados. Para sobreviver politicamente precisa de 287 apoios, mas a sua base e aliados não ultrapassam os 210. Apenas uma reviravolta nas negociações com socialistas ou pequenos grupos independentes, como a formação Liot, poderia alterar o desfecho.

Macron diante de três opções
A eventual queda de Bayrou abriria três cenários imediatos para o presidente Emmanuel Macron, todos de elevado risco.

1. Nomear um novo primeiro-ministro
Se Bayrou for derrubado, será o segundo chefe de governo afastado desde as últimas eleições legislativas, depois de Michel Barnier. Substituí-lo por uma terceira figura poderia ser visto como excesso, mas Macron considera esta a via mais viável para estabilizar o governo até às presidenciais de 2027.
Entre os nomes mais falados está o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, conservador conhecido pela sua capacidade de negociação, incluindo com figuras próximas de Le Pen. Outra possibilidade seria um perfil social-democrata, como Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro socialista, embora tal exigisse concessões profundas à esquerda.

2. Convocar eleições antecipadas
Outra saída seria dissolver a Assembleia e regressar às urnas, encerrando o impasse político. Porém, o risco é elevado. “Se houver eleições agora, o descontentamento popular poderá levar os franceses a votar em massa na extrema-direita e na extrema-esquerda”, alertou ao canal France24 o historiador Andrew Smith, da Universidade Queen Mary, em Londres.
Na mesma linha, Stéphane Vernay, subdiretor do jornal Ouest-France, previu que o partido de Marine Le Pen poderia “duplicar o número de deputados”. Le Pen e outros adversários de Macron, como o socialista Boris Vallaud, já pedem eleições imediatas.

3. A renúncia do próprio Macron
A terceira hipótese seria a demissão presidencial, defendida por Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, e por parte da opinião pública. Embora Macron tenha rejeitado categoricamente esta possibilidade, analistas lembram que “em contextos de paralisia política e crise de dívida, até os líderes mais determinados podem recuar”.

Um outono decisivo
Com a votação marcada para 8 de setembro, a França aproxima-se de um momento decisivo. O que está em causa não é apenas o futuro de François Bayrou, mas a própria capacidade de Emmanuel Macron de manter o rumo político até ao final do seu mandato.

Até lá, a incerteza domina Paris. Como resumem vários comentadores franceses, em poucas semanas ficará claro se Macron consegue recuperar controlo político ou se o país entrará numa crise ainda mais profunda.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.