EUA/Eleições: Assessor-chefe de Lula da Silva espera que Trump surpreenda e volte “mais maduro”

O assessor-chefe do Presidente brasileiro, Celso Amorim, admite que preferiria uma vitória dos democratas nas eleições nos Estados Unidos, mas espera que a eleição de Donald Trump traga “surpresas” e que o Presidente reeleito regresse “mais maduro”.

“É muito difícil poder dizer de antemão, mas a expectativa é que ele [Donald Trump] esteja mais maduro, compreenda que certas coisas não podem ser obtidas só na base da força, de expressões fortes, na base do grito, como dizemos no Brasil, e que, com isso, ele negocie”, disse à Lusa Celso Amorim, assessor-chefe do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na 7ª edição do Fórum de Paris para a Paz.

O também membro do Comité de Direção do Fórum de Paz de Paris acredita que este segundo mandato de Trump poderá “trazer surpresas”, mas defendeu na capital francesa, durante a sessão “História em construção: Qual será o impacto das eleições nos EUA no mundo?”, que o futuro Presidente norte-americano respeita os líderes mundiais “que são fortes”, o que pode originar um diálogo diferente do esperado.

O antigo chefe da diplomacia brasileira (2003-2010) mostrou-se a favor da democrata Kamala Harris, caso fosse norte-americano, partilhando a opinião relativa ao seu voto, já expressa pelo Presidente Lula da Silva, pela candidata opositora de Donald Trump.

“Tenho medo de dizer, porque, pessoalmente, eu tenho uma simpatia pelos democratas”, afirmou o político, caracterizando o Partido Democrata, como idealista, querendo transformar o mundo, mas admitindo que tal abordagem pode criar mais problemas, por não ter em conta a complexidade do mesmo.

Sobre a relação entre os EUA e o Brasil, Celso Amorim afirmou que o Presidente norte-americano não deverá “criar problemas”, defendendo um equilíbrio, tendo em conta que o país pretende uma boa relação com os norte-americanos, mas também pretende uma “excelente relação com a China, como com a Europa” e com a América do Sul.

“A nossa exportação (de aço) para a China é mais do que os Estados Unidos e para a União Europeia somados. Então, ele [Donald Trump] vai querer colocar um país grande como o Brasil, importante na América do Sul, tão mais ligado à China? Eu não sei”, acrescentou.

Celso Amorim espera que após a tomada de posse de Donald Trump, daqui a dois meses, os EUA possam negociar com a China, Rússia e também com o Brasil, “na questão, sobretudo, das florestas, que é muito importante”, compreendendo que “isso é fundamental para o mundo”, seguindo defende o chefe de Estado brasileiro que pediu responsabilidade pela preservação do planeta.

Contudo, o político afirmou ainda que o que o “preocupa mais do que qualquer coisa, são as ideias que Trump tem mostrado sobre a sustentabilidade e a indiferença sobre esses aspetos”, tendo em conta os problemas associados às alterações climáticas e à floresta da Amazónia.

Defendendo realismo no contexto da invasão russa da Ucrânia, país que pretende entrar para a Aliança Atlântica, Amorim alertou que mundo enfrenta duas grandes guerras, que podem tornar-se mundiais, “ou com grande capacidade de destruição”.

“Você pode ver o lado positivo da NATO, mas você também pode ver o lado perigoso da NATO. Quando você fala sobre a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, ou, melhor dito, a invasão da Ucrânia pela Rússia, que, claro, foi condenável e criticável, mas é muito ligado à expansão da NATO”, afirmou.

A 7ª edição do Fórum de Paris para a Paz começou hoje no Palais de Chaillot, com a presença do Presidente francês, Emmanuel Macron, dias após as eleições presidenciais nos EUA e na mesma semana em que as reuniões do G20 no Rio de Janeiro e da COP29 em Baku, prolongando-se até 13 de novembro.

Com a primeira edição do Fórum a ser realizada há sete anos, durante a primeira presidência de Donald Trump, a edição deste ano foi marcada pelas eleições para o Parlamento Europeu e por um contexto de guerras na Ucrânia e no Médio Oriente.