Montenegro ‘pediu’ moção de censura, vai Pedro Nuno responder: Quais os cenários possíveis de ação do PS?

Pedro Nuno Santos respondeu no debate do Estado da Nação à “chantagem” de Luís Montenegro e do seu Governo de “vitimização, lamentação, queixume”, referindo-se aos vários ‘desafios’ feitos pelo primeiro-ministro para que avançasse com uma moção de censura.

Executive Digest
Julho 21, 2024
9:00

Pedro Nuno Santos respondeu no debate do Estado da Nação à “chantagem” de Luís Montenegro e do seu Governo de “vitimização, lamentação, queixume”, referindo-se aos vários ‘desafios’ feitos pelo primeiro-ministro para que avançasse com uma moção de censura. O PS não será “muleta” e só vai apoiar medidas que interessem ao próprio partido. Isso implica aprovar orçamentos? “É praticamente impossível, porque temos visões muito diferentes”, antecipou o socialista.

Será isto uma sentença de morte para o executivo de Luís Montenegro? A situação pode não ser assim tão clara. Vários cenários podem desenrolar-se a partir de outubro, caso o Orçamento do Estado seja chumbado. Apenas num cenário, o terceiro, Montenegro sai a ganhar: se imitar António Costa – e sair vitorioso e reforçado de novas eleições.

Até lá, dar luz verde ao orçamento retificativo, como já admitiu o secretário-geral do PS, desde que o documento integre medidas de consenso, “serve sobretudo os objetivos táticos do PS”, diz o politólogo João Pacheco, em entrevista à CNN Portugal. É uma forma de “mostrar que é um partido colaborante, responsável”, e ter um argumento sólido para quando, mais à frente, a verdadeira crise se instalar.

“Pedro Nuno Santos fá-lo para depois cobrar à AD”, aponta João Pacheco. Ou seja, para tentar ter no OE2025 a “moeda de troca”, as medidas que verdadeiramente lhe importam. Ou para, em última instância, reconquistar votos pelo sentido de responsabilidade se for preciso ir às urnas mais cedo, “alegando que respondeu às necessidades mais prementes”.

Os politólogos ouvidos pela CNN Portugal admitem que o discurso de Pedro Nuno Santos tem sido claro e sólido. Ao contrário de Montenegro que, considera João Pacheco, “vai experimentando”. “Põe o açúcar e o sal na mesma medida. Significa que está a experimentar narrativas. Demonstra que não sabe o que esperar da oposição”, explica.

Bruno Ferreira Costa identifica no primeiro discurso de Montenegro “uma falha estrutural”: “Parece que dá uma visão de que há um mandato pleno para aplicar um Programa de Governo.” Pedro Nuno Santos, com a sua ausência no Palácio da Ajuda, criou “um facto político” e deu “um claro sinal” de que, apesar de já ter dado a mão ao PSD, por exemplo na eleição do Presidente da Assembleia da República, não quer uma “excessiva proximidade” com o Governo. Agora, veio “identificar discordâncias ao nível das políticas, princípios e prioridades”.

Cenário 1: PS Deixa o Chega com Montenegro

“É normal que este PS queira assinalar as diferenças. Mas, se não houver um caminho de aproximação ao nível das políticas dos dois partidos, é natural que haja um momento de rejeição”, aponta Bruno Ferreira Costa. Sem o PS, Montenegro poderá ter de virar-se para o Chega, cedendo no ‘não é não’, argumentando que o maior partido da oposição foi irresponsável e que, para garantir o bem do país, não resta outra alternativa senão tentar essa via.

“Pode ser o afunilar do caminho da AD para negociar com o Chega, ser o argumento que a AD precisa para negociar com o Chega”, traça João Pacheco.

Cenário 2: PS Força Montenegro curva à Esquerda

Pedro Nuno Santos tem dito que está disposto a aprovar medidas que respeitem o ADN socialista, acenando até com a possibilidade de deixar passar o orçamento retificativo, se ele refletir questões de consenso. Mas, após isso, se Montenegro quiser continuar a honrar o ‘não é não’, terá de ceder ao PS. É um caminho que satisfaz os socialistas, pois vinca o seu papel de “oposição colaborante” e vêem passar adiante as suas medidas. Contudo, para isso, Montenegro teria de virar mais à esquerda, abdicando do seu desejo de mudança.

“O PS tem interesse que este Governo leve o tempo suficiente para reconstruir a sua relação de confiança com os eleitores”, diz João Pacheco.

Cenário 3: Montenegro Faz de Costa

Quando a geringonça se desfez, a esquerda chumbou o Orçamento do Estado, António Costa foi a eleições e saiu de lá com maioria absoluta. É um cenário que também Montenegro pode replicar, dizem os especialistas. “Se encerrou o diálogo com o Chega e com o PS, é a porta a fechar-se”, diz Bruno Ferreira Costa. Mas, enquanto a porta se for fechando, Montenegro vai “dramatizando, colocando o ónus na oposição”, destacando sobretudo “medidas ou apoios sociais que incidem diretamente sobre setores da sociedade que têm reivindicado bastante”.

Cenário 4: Marcelo Não Quer Ficar com a Fama e Acaba Tudo em Duodécimos

O cenário acima só teria efeitos se Marcelo Rebelo de Sousa decidisse dissolver a Assembleia. Mas, diz Bruno Ferreira Costa, na tomada de posse avisou que o tempo é “muito curto” para cumprir o que “foi prometido em campanha”. Se não quiser ficar com o título de Presidente da República que mais ativa a chamada “bomba atómica”, a alternativa seria deixar um Governo em duodécimos. Este cenário prejudicaria o próprio Montenegro, concordam os politólogos, que não seria capaz de levar adiante o projeto de transformação que fixou para o país.

“Esta ideia das reformas estruturais está muito patente no discurso, mas fica a faltar a indicação de como implementar sem diálogo à esquerda ou à direita”, adverte o politólogo.

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