Fogos na TV “podem aumentar a probabilidade do fascínio”. Psicólogo traça perfil dos incendiários
Este ano já se cotam quase 3500 incêndios rurais e a esmagadora maioria tem mão humana: 98% tinham intervenção de pessoas e 64% deveram-se a negligência. Mas à parte do acidente, há quem seja fascinado com atear e ver arder incêndios. Esta ano já foram detidas 50 pessoas por suspeitas do crime de incêndio florestal.
André Tavares Rodrigues, psicólogo, assinala à CNN que é preciso fazer uma distinção do perfil de indivíduos que cometem este tipo de crimes.
“Há aqueles que são negligentes, numa questão acidental, e aqueles que têm comportamento criminoso, o que chamos perturbação disruptiva no controle de emoções”, indica.
Questionado sobre se é necessário um controlo mais apertado dos indivíduos com este segundo perfil em organismos de bombeiros, como o caso de um dos detidos este fim de semana, o especialista diz que “obviamente” devia ser feita essa avaliação prévia. “A dificuldade está em chamas a importância da saúde mental nestes acontecimento”.
Admitindo que “não é fácil” de detetar os indivíduos com o perfil de incendiário, o psicólogo ressalva que “é possível”, especialmente em contextos de comunidades pequenas ou redes internas.
“A ciência psicológica tem um conjunto de instrumentos e de avaliações que permite efetivamente perceber se determinado individuo tem ou não perfil desta perturbação. Podemos identificar quando o ato é feito de forma deliberada, e se há há excitação antes, quando tem prazer em planificar o ato”, explica, sobre estes criminosos que estão num quadro de psicopatia, “a ausência total de emoção relativamente ao outro”.
Estes incendiários começam a dar os primeiros sinais de alerta logo em tenra idade. “Não iniciam o seu percurso aos 30 ou 40 anos. Cometem crimes na idade adulta mas já têm antecedentes e comportamentos de delinquência na adolescência”, clarifica o especialista.
O psicólogo aponta ainda um efeito prejudicial da transmissão de imagens de incêndios nas televisões e noticiários, às vezes “horas a fio”. “São indivíduos que têm fascínio pelo fogo. e por isso devemos minimizar exposição dos fogos na televisão. Muitas horas de campos a arder pode aumentar a probabilidade do fascínio, e que venham a ativar fogos. Vemos muitos indivíduos que têm prazer em provocar [fogos]”, aponta.