‘Kronos’: o caça submarino ucraniano que pode transformar para sempre a guerra naval
Terá a Ucrânia o ‘ás de trunfo’ da guerra naval guardado no Dubai? O ‘Kronos’, com uma silhueta negra que parece biológica e ameaçadora, é da responsabilidade do engenheiro ucraniano Alexander Kuznetsov, designer-chefe e fundador da ‘Highland Systems’, que pode muito bem ter construído o submarino do futuro.
Segundo o responsável, o novo submarino tem o potencial de transformar a guerra naval da mesma forma que os drones fizeram no ar. Ou melhor, 37, a quantidade de protótipos já construídos segundo o paradigma de Silicon Valley: ‘projete, construa, teste e não tenha medo de explodir’. Neste paradigma mais ‘leve’, a Highland Systems quer bater os lentos gigantes da indústria militar, da mesma forma que Musk fez com a SpaceX. “Quando os militares veem o ‘Kronos’, não conseguem acreditar que existe”, garantiu um representante da empresa, em declarações citadas no jornal espanhol ‘El Confidencial’.
A empresa ucraniana exibiu pela primeira vez o primeiro protótipo ‘Kronos’ funcional na feira internacional de defesa IDEX-2023 em Abu Dhabi no mês passado. “Tivemos alguns comandantes ativos e ex-comandantes de forças submarinas de países da NATO a inspecioná-lo em total descrença”, apontou o responsável, dando a chave do sucesso para a construção do ‘Kronos’: “São grandes empresas. Para aprovar qualquer coisa é necessário ir-se a 3 ou 5 chefes. Aqui não temos 5 chefes. Somos apenas um grupo de pessoas apaixonadas a trabalhar no meio do deserto. Aqui chega-se, avalia-se e decide-se. ‘Sim, isto está errado, vamos mudar.’ Demoramos 5 minutos. É a mentalidade de uma startup.”
Highland Systems informed whether Ukraine would be interested in the Kronos submarine for combat missions in the Black Seahttps://t.co/idMJYeXrno#UkraineFrontLines pic.twitter.com/ETRziWrZ66
— Ukraine Front Lines (@EuromaidanPR) February 26, 2023
A Highland Systems, liderada por Kuznetsov, de 40 anos, é formada por sete engenheiros que trabalharam na Ucrânia em várias empresas ligadas à defesa. NOs Emirados Árabes Unidos encontraram o sítio ideal para seguir os seus sonhos.
Entre os quais, um novo tipo de submarino. Ou melhor, de caça submarinos. Tinha de ser rápido, capaz de mergulhar e manobrar rapidamente, tanto debaixo de água como na superfície, e ser extremamente fácil de pilotar. Na visão de Kuznetsov, há duas versões: um modelo para transportar trabalhadores para fazer a manutenção de cabos de comunicação subaquáticos ou plataformas de petróleo, outro modelo de luxo para os multimilionários do mundo explorarem o oceano.
A technology demonstration. Kronos submarine looks like BatMobile. Still, I am doubtful that it can dive, because the hatches don't look waterproof 😊 But, it's compatible to the soul of Dubai&Abu Dhabi 🤣 pic.twitter.com/muEKVyjUmI
— Tayfun Ozberk (@TayfunOzberk) February 21, 2023
Mas depois veio a guerra na Ucrânia – e Kuznetsov e a sua equipa, assim como outros engenheiros e empresas do seu país, viraram-se para a defesa da sua pátria. A nova missão? Redesenhar o ‘Kronos’ para combater a marinha russa no Mar Negro.
O novo ‘Kronos’ teve de ser adaptado para operações militares, com novos recursos como sonar, capacidade de implantar minas magnéticas, controlar minidrones guiados por fio e lançar torpedos. Mas manteve o mesmo desenho básico, que era a sua principal vantagem. Desde então, evoluiu rapidamente através de 36 iterações de design que foram testadas pela primeira vez com simulações de computador e tamanhos de modelo cada vez maiores, tanto em túneis de vento como em grandes piscinas.
E o que traz de novo o ‘Kronos’? É inerentemente muito mais ágil do que os submarinos atuais, apontaram os responsáveis. Vejamos: os submarinos mantiveram basicamente o mesmo design durante décadas. Na 2ª Guerra Mundial, um submarino fazia uma mergulho forçado em cerca de 30 segundos. Agora, um submarino nuclear da classe Ohio leva 5 minutos para fazer um mergulho de emergência. E o ‘Kronos? Graças a uma combinação dos controlos das asas, do motor de turbina e dos tanques de lastro, pode realizar a mesma operação quase instantaneamente.
A lentidão com que giram os submarinos convencionais é outor problema: um submarino médio em velocidade máxima tem um raio de giro que pode ir de 230 metros a quase meio quilómetro. Também neste caso, graças à sua forma e superfícies de controlo, o ‘Kronos’ pode girar 180 graus “instantaneamente” em velocidade máxima. “Isso é muito bom para manobras debaixo de água. Nenhum outro no mundo tem essa capacidade”, informou a empresa sobre uma capacidade que, a confirmar-se, pode ser crucial para a guerra submarina.
A velocidade também é uma mais-valia, gerada através de uma pequena turbina elétrica: 27 nós (50 km/h), superior à velocidade máxima de um submarino nuclear da classe Los Angeles (20 nós, 37 km/h). Na superfície, no entanto, a sua velocidade é impressionante – 43 nós (80 km/h), em comparação com a velocidade máxima de 30 nós de embarcações militares típicas, como o ultramoderno contratorpedeiro USS Zumwalt, que chega a 32 nós.
Por último, os submarinos clássicos exigem mais de 100 marinheiros e custam centenas de milhões de euros para construir e manter. A tripulação do ‘Kronos’? Um piloto. A empresa garantiu ainda que o ‘Kronos’ pode patrulhar confortavelmente até 15 metros de terra, até uma profundidade crítica máxima de 820 pés – o seu design permite que se ‘deite’ no fundo do mar, a ouvir os seus sensores, como um predador à espera da presa.
Kuznetsov acredita que essas especificações operacionais, juntamente com sua capacidade de manobra extremamente ágil, farão do ‘Kronos’ um elemento disruptivo na guerra costeira. E está adaptado para encaixar pequenos torpedos, que podem ir até 3,4 metros de comprimento.
O ‘Kronos’, segundo um responsável da marinha americano na reserva, pode significar uma viragem nos jogos de guerra em águas rasas. Especialmente em locais como o Golfo Pérsico ou Mar Negro. A Highland Systems garantiu que meia dúzia de ‘Kronos’ chegavam para controlar o Mar Negro.