Crise alimentar: Mulheres são hoje 59% mais afetadas pela fome do que os homens e a situação “vai piorar”, alerta ONG
Dos 828 milhões de pessoas afetadas pela fome em todo o mundo em 2021, cerca de 59% são mulheres, ou seja, cerca de 150 milhões a mais.
Os números são avançados pela organização humanitária internacional Care, que revela que a disparidade entre os sexos tem vindo a crescer, sendo que aumentou 8,4 vezes desde 2018, cita a ‘CNBC’. A guerra da Rússia na Ucrânia, que gerou fortes constrangimentos no abastecimento mundial de produtos alimentares, como os cereais, que são essenciais para a nutrição de muitos povos em países mais pobres, veio intensificar ainda mais a exposição dessas pessoas mais vulneráveis à ameaça da fome.
Emily Janoch, dirigente da Care, aponta que “não é apenas uma discrepância gritante, é uma discrepância que tem vindo a crescer rapidamente desde 2018”, e avisa que, tendo em conta que quase todos os países ainda combatem a pandemia de Covid-19 e os seus impactos sociais e económicos e que enfrentam também as consequências da guerra na Europa, “tudo nos leva a crer que a situação vai piorar”.
“Se olharmos para o impacto na agricultura no seguimento da crise dos fertilizantes russos. As implicações são astronómicas”, sublinha, acrescentando que “não sabemos exatamente como serão [essas implicações], mas sabemos que cairão pesadamente sobres as mulheres e as meninas”.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), publicado este ano, revela que as mulheres contam com uma menor segurança alimentar face aos homens em todas as regiões do mundo, sendo que essa desigualdade é ainda mais evidente em países mais pobres, especialmente no chamado Sul Global.
Por exemplo, na Somália, relatos apontam que, embora a insegurança alimentar seja generalizada, os homens comem refeições mais reduzidas, ao passo que as mulheres acabam por falhar completamente refeições inteiras.
Por sua vez, Rebecca Burgess, diretora regional do The Hunger Project UK, conta à ‘CNBC’ que “uma forma comprovada de ultrapassar barreiras sistemáticas ao sucesso das mulheres tem sido aumentar a sua participação no desenvolvimento de legislação local, regional e nacional”.