Preço do carvão dispara 106% este ano. Vai chegar ao recorde de 2008?

O índice semanal de Newcastle, que em setembro de 2020 bateu no fundo, nos 46,18 dólares por tonelada métrica, começa a aproximar-se do recorde de julho de 2008, onde o preço desta matéria prima bateu nos 195,20 dólares, tendo em conta a mesma medida.

Fábio Carvalho da Silva
Agosto 19, 2021
10:48

O aumento da procura pela eletricidade e pelo gás levou a um rali do preço do carvão.

O preço do  carvão australiano no Porto de Newcastle, a referência para mercado asiático, subiu 106% este ano, para mais de 166 dólares por tonelada métrica, de acordo com a última avaliação semanal da sociedade analista de preços de commodities Argus.

O índice semanal de Newcastle, que em setembro de 2020 bateu no fundo, nos 46,18 dólares por tonelada métrica, começa a aproximar-se do recorde de julho de 2008, onde o preço desta matéria prima bateu nos 195,20 dólares, tendo em conta a mesma medida.

Na semana passada, o índice sul-africano Richards Bay, chegou a sexta-feira, com cada tonelada métrica de carvão a valer 137,06 dólares, tendo subido 55% desde janeiro.

No início deste ano, António Guterres pressionou todos os governos, empresas privadas e autoridades locais a ” acabarem com o vício mortal do carvão”, “um passo mais importante” para cumprir o Acordo Climático de Paris, de acordo com o secretário-geral da ONU.

Os Estados Unidos, a China e a Índia, os três maiores consumidores mundiais de carvão, estão a preparar-se para aumentar a utilização deste combustível fóssil, anulando a queda de emissões induzida pela pandemia, conforme revela a Bloomberg.

As centrais elétricas dos EUA vão consumir 16% mais carvão este ano do que em 2020, e depois mais 3% em 2022, informou na semana passada a Administração de Informação Energética norte-americana. Já a China e a Índia, que em conjunto representam quase dois terços da procura, não têm planos de reduzir a curto prazo a utilização do carvão.

Isto significa emissões mais elevadas e implica um retrocesso para a ação climática antes das conversações internacionais deste ano, destinadas a aumentar os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris, para reduzir os gases com efeito de estufa.

Nos EUA, os aumentos podem ‘minar’ o impulso do Presidente Joe Biden para restabelecer a América como líder ambiental, e aumentar a pressão para que implemente rapidamente a sua agenda climática.

Nos Estados Unidos, este aumento resulta da subida dos preços do gás natural e da recuperação económica da pandemia. Para a China e a Índia, é um reflexo do aumento da procura de eletricidade que mantém o carvão como a fonte dominante de produção de energia, apesar da crescente capacidade solar e eólica.

Biden já disse que os EUA pretendem atingir a neutralidade de carbono até 2050, e está a convocar uma reunião em abril que deverá incluir a China e a Índia.

O Presidente chinês, Xi Jinping, surpreendeu o mundo no ano passado com a promessa de atingir emissões líquidas neutras até 2060. Já a Índia ainda não assumiu nenhum compromisso semelhante, a longo prazo.

Embora a China tenha reduzido a uso de carvão nos últimos anos, o consumo total de energia no país aumentou, portanto, a sua utilização também aumentou.

A Índia está igualmente longe de ter energia limpa, embora o primeiro-ministro Narendra Modi tenha dito este mês que o país está a conseguir cumprir as promessas iniciais de redução de carbono previstas no Acordo de Paris, reduzindo a intensidade das emissões em relação aos níveis de 2005.

Embora o país tenha aplicado uma implementação ambiciosa de energia solar, o carvão continua a ser responsável por cerca de 70% da sua produção de eletricidade. De acordo com a Bloomberg Intelligence,o consumo nas centrais elétricas vai aumentar 10% este ano, e deve aumentar todos os anos até, pelo menos, 2027.

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