Uma plataforma para o turismo acessível

Numa iniciativa conjunta, a Fundação Vodafone Espanha e a PREDIF, em colaboração com a Fundação Vodafone Portugal e a Accessible Portugal, desenvolveram a ideia de lançar uma plataforma sobre acessibilidades em turismo com recursos validados por especialistas. 

Disponível em Android, iOS e PC, esta plataforma apresenta a oferta turística em Portugal e Espanha e que em breve poderá agregar outros países. Tem ainda informação atual e validada sobre as condições de acessibilidade de hotéis, restaurantes, museus e monumentos, além de transportes adaptados, entre outros. Para melhor perceber como tudo funciona, falámos com Ana Mesquita Veríssimo, Corporate Responsability & Foundation Manager da Vodafone Portugal, e Ana Garcia, presidente da associação Accessible Portugal.

 

Como surgiu a plataforma Tur4all?

Ana Mesquita Veríssimo (AMV): A Tur4all foi criada originalmente em 2015 pela Fundação Vodafone Espanha, que nos contactou, posteriormente, no sentido de nos propor o alargamento do projeto para Portugal, visto que existia uma associação portuguesa, a Accessible Portugal, que poderia alavancar a plataforma. Dado que a inclusão tem sido, ao longo dos anos, uma das áreas de foco da Fundação Vodafone Portugal, achámos a ideia interessante, mas desde o início considerámos que para este projeto fazer sentido deveria ter o envolvimento do Turismo de Portugal, que é a entidade que tutela este setor no nosso País. Assim, lançámos à Accessible Portugal o desafio de envolver o Turismo de Portugal. Superado este desafio foi possível avançar com o projeto numa parceria entre as três entidades: a Accessible Portugal, que é proprietária e quem explora a plataforma; a Fundação Vodafone Portugal, que acompanha de perto todo o projeto e faz a gestão da componente tecnológica; e o Turismo de Portugal, que tem um papel importante no financiamento. Em Portugal a Tur4all, foi lançada em 2018.

 

Ana Mesquita Veríssimo, Corporate Responsability & Foundation Manager da Vodafone Portugal, e Ana Garcia, presidente da associação Accessible Portugal. Foto: Nuno Carrancho

Como tem vindo a evoluir a plataforma desde então?

AMV: A Tur4all está hoje muito mais desenvolvida do que o projeto original e inclusivamente está preparada para ser exportada para outros mercados. Hoje a plataforma está desenhada para Portugal e Espanha, mas é possível avançar para outras geografias. Para a Fundação Vodafone, um pressuposto importante para este projeto era que desde logo estivesse disponível em múltiplos idiomas. Neste sentido, a Accessible Portugal disponibiliza-o em sete idiomas, entre eles o mandarim.

De realçar que embora o projeto tenha nascido em Espanha, o desenho, a concepção e a vertente de usabilidade da plataforma em Portugal foram construídos de raiz. O papel da Fundação Vodafone nunca poderia ser apenas o de traduzir a plataforma para português, visto que há especificidades próprias de cada país e existem questões de separação de conteúdo dos recursos turísticos de Portugal e de Espanha porque os financiamentos são diferentes em cada país.

Esta plataforma aborda hoje os mercados de Portugal e Espanha, mas tem o potencial de tornar-se uma referência europeia. De resto, um dos pontos que aliciou a Fundação Vodafone a entrar neste projeto foi a abordagem que é dada ao tema do turismo. Deixou de ser o recurso turístico a definir o grau de acessibilidade e passou a ser o próprio turista a fazê-lo, consoante as suas necessidades em cada momento.

A plataforma está disponível no PC, em Android e em IOS, o que dá uma grande dimensão e flexibilidade. Está actualmente a ser trabalhada a vertente de acessibilidade da própria plataforma. A Accessible Portugal está a recolher o feedback dos próprios utilizadores no sentido de introduzir melhorias e este é um caminho que se vai fazendo e que nunca acaba porque a própria tecnologia está constantemente a evoluir.

 

De que forma a plataforma Tur4all é útil para os turistas com necessidades ao nível de acessibilidade?

Ana Garcia (AG): Esta plataforma vem dar resposta a uma vertente fundamental para o desenvolvimento do turismo acessível e inclusivo, fazendo uma abordagem disruptiva à deficiência. No entanto, o maior segmento a que a Tur4all pode mesmo dar resposta é o dos seniores, visto que, à medida que a idade avança, adquirimos, naturalmente, incapacidades transversais de mobilidade, audição, visão e orientação no espaço. Tendo isto em mente, e sabendo que são cada vez mais as pessoas em faixas etárias mais avançadas, ficamos com uma boa ideia de quem vão ser os turistas do futuro. E assim, esta acaba por ser uma plataforma muito poderosa em termos de inclusão, com um tema que está na moda, o turismo.

A Tur4all tem ainda o mérito de ir mexer com a procura – os turistas já utilizadores e os potenciais – e de qualificar a oferta. É através deste match da procura e da oferta que teremos uma rotação e uma utilização cada vez maior da plataforma. Ao conseguirmos chegar a estas duas áreas do negócio, a procura e a oferta, estamos a qualificar e a associar o tema da acessibilidade não necessariamente a rampas e a cadeiras de rodas, por exemplo, mas a qualidade, autonomia, segurança, e dignidade. Não se trata de trabalhar apenas para as pessoas deficientes possam fazer uma viagem à praia – é muito mais do que isso.

 

Como é compilada a informação que depois é disponibilizada ao turista?

AG: A Tur4all tem duas tipologias de entrada: numa delas a informação prestada é objetiva e muito detalhada, recolhida por técnicos, especialistas e peritos em acessibilidades; depois da visita técnica, esta informação vai dar vários outputs. Primeiro carregamos a plataforma com a informação recolhida; depois produzimos um relatório para a oferta turística onde apontamos lacunas e fazemos recomendações de melhoria. Por outro lado, também “agitamos” o lado da procura porque a plataforma permite a entrada dos utilizadores, que podem fazer reviews ou avaliações ou introduzir recursos turísticos que ainda não tenham sido auditados pela Accessible Portugal.

A plataforma tem ainda uma componente pedagógica importante, Para além de servir como ferramenta técnica, o Tur4all serve também de guião digital para quem não está familiarizado com o tema da acessibilidade. O foco também não está exclusivamente nas instalações do recurso turístico, sendo dado grande destaque à qualidade do serviço. 

 

Com base nessa informação, é o turista a definir o grau de acessibilidade que precisa…

AG: Exatamente. Dependendo do contexto turístico em que o turista viaja, ele é que decide o nível de acessibilidade que precisa. Se a pessoa viajar completamente sozinha, precisa de um nível de acessibilidade diferente daquele que precisará se estiver acompanhada. Do mesmo modo, o contexto de viagem em trabalho ou de férias pode influenciar o nível de acessibilidade que é necessário.

Assim, a Tur4all, além de ter um diretório muito extenso, faz também este trabalho de qualificação da procura. Dizer apenas que um recurso é 85% acessível não é suficiente porque depende do contexto de cada pessoa. 

 

Qual a abrangência da plataforma?

AG: Ao início pensámos que a Accessible Portugal teria apenas de fazer a tradução e adaptação do que já existia para português, mas rapidamente chegámos à conclusão de que havia muito mais a fazer. A Accessible Portugal é uma associação que faz a promoção do turismo acessível e tem uma ligação muito forte aos agentes, e por isso este know-how tinha de ser aproveitado.

A Tur4all abrange as sete regiões de turismo do País (Portugal Continental e ilhas) e estamos numa fase de alavancar esta plataforma para outros projetos. Estamos a fazer 400 auditorias na região Centro, vamos trabalhar nas escolas, com os municípios e com as comunidades intermunicipais, e já nos estamos a candidatar também para o Alentejo.

Outro aspeto importante a salientar é que a Tur4all não faz promoção turística. É o Turismo de Portugal é quem decide as áreas de promoção em cada ano e o Tur4all tenta acompanhar. 

Em suma, esta é uma plataforma com o objetivo de disponibilizar informação fidedigna, em tempo real e com qualidade. Esta informação serve depois para que o turista possa decidir se cada recurso turístico é ou não acessível para as suas necessidades em concreto.

 

Texto: Paulo Mendonça

Entrevista originalmente publicada na Forever Young em outubro de 2019

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