De Madrid a Berlim: a estratégia das cidades europeias para travar a covid-19
Desde o início da pandemia, 37,5 milhões de pessoas foram infectadas com novo coronavírus em todo o mundo, 378.000 apenas neste domingo, o que representa um novo ‘recorde’ de casos diários.
Enquanto os Estados Unidos continuam o país com mais infecções e mortes por covid-19, a segunda onda da pandemia está a avançar na Europa. Um novo máximo de 120.000 novos casos foi registado nas últimas 24 horas. A curva marca uma forte ascensão do vírus, enquanto os governos europeus reforçam as mensagens de distanciamento social e a necessidade de limitar a actividade ao essencial. O objetivo é evitar um novo confinamento total que abale, ainda mais, as economias.
De Madrid a Berlim, a segunda vaga do novo coronavírus está a atingir, principalmente, grandes centros urbanos e as autoridades estão a reintroduzir medidas e restrições à vida social e noturna para impedir a propagação do vírus. Há um mês, a capital espanhola era o “epicentro” da pandemia na Europa. Agora, no início do Outono, Madrid não é a única a reportar dados epidemiológicos preocupantes. França, Itália, Alemanha, Reino Unido e República Checa estão a enfrentar um forte ressurgimento de casos, após o relaxamento das medidas impostas durante a Primavera.
Madrid
Embora Madrid esteja a tornar-se um “campo de batalha político” para as medidas que tanto a Comunidade como o Governo espanhol estabeleceram para impedir a propagação do vírus, existem actualmente mais de 600 municípios em todo o país com algum tipo de confinamento ou restrição.
Esta segunda-feira entram em vigor restrições, em Madrid, em quatro zonas sanitárias não afectadas pelo estado de emergência regional decretado na sexta-feira: Sierra de Guadarrama (Collado Villalba), Colmenar Viejo Norte (Colmenar Viejo), Valleaguado (Coslada) e Arganda del Rey. Além da mobilidade, estas áreas terão também limitações de capacidade e horários de abertura restritos, como nas outras áreas já afectadas por medidas.
Paris
Após semanas de um aumento de infecções e diferentes níveis de restrição em Paris, na última terça-feira, a capital francesa tornou-se uma cidade sem bares ou cafés abertos. Durante o fim-de-semana, dez outras cidades francesas passaram à mesma situação.
No domingo à tarde, Toulouse e Montpellier juntaram-se a Paris, Marselha, Aix-en-Provence e Guadalupe (Antilhas), Lyon, Lille, Grenoble e Saint-Etienne como cidades em “alerta máximo” – uma classificação que impõe o encerramento de cafés e bares e permite a abertura de restaurantes na condição de respeitarem um protocolo sanitário mais rigoroso: um máximo de seis pessoas por mesa, pelo menos um metro entre grupos e a obrigação de anotar os nomes e números de telefone dos clientes para os alertar em caso de contágio.
Entretanto, o número de infecções caiu drasticamente de quase 27.000, no sábado, para 16.101 nas últimas 24 horas.
Itália
A Itália está a reportar números que já não eram vistos desde Março, na fase inicial da pandemia.
Depois de ter sido o primeiro “epicentro” europeu da pandemia, nesta segunda vaga, a Itália está abaixo dos números diários da França, Reino Unido ou Espanha, mas subiu para ‘recordes’ que já não eram vistos desde Março. O Governo italiano comunicou 5456 novos casos de covid-19 este domingo – mais de 5000, como nos dois últimos dias, comunicou o Ministério da Saúde.
“A Itália não pode permitir outro confinamento. O sistema económico e comercial não pode permitir”, disse o chanceler Luigi Di Maio, citado pelo El Confidencial.
República Checa
O número de infecções sofreu um grande ‘salto’ na República Checa este fim de semana. Foram notificados mais de 8600 casos este sábado, fazendo com que se tornasse o país europeu mais atingido pela pandemia, relatou a Rádio Praga.
Segundo as autoridades sanitárias locais, foram registados 8618 novos casos na sexta-feira no país da Europa Central de cerca de 10,7 milhões de habitantes, aproximadamente o mesmo número de habitantes de Portugal.
Pelos cálculos da Rádio Praga, o nível de contágio na República Tcheca é actualmente 14 vezes superior ao do seu principal vizinho, a Alemanha. A partir da próxima segunda-feira, uma série de novas restrições entram em vigor no país, como o encerramento de piscinas públicas e ginásios, ou o encerramento antecipado de restaurantes e bares às 20h, com um máximo de 4 pessoas por mesa.
Reino Unido
O Reino Unido relatou 65 mortes e 12.872 novos casos de covid-19 este domingo. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vai anunciar num discurso na Câmara dos Comuns, esta segunda-feira, mais restrições para atrasar a propagação do novo coronavírus no país e deve introduzir um sistema de “semáforo” com três níveis para avaliar o risco em cada área geográfica, de acordo com a BBC.
Numa carta aos deputados de constituintes do norte da Inglaterra – a área com o maior pico de infecções – o conselheiro do Governo Edward Lister alertou que deveriam preparar-se para “medidas duras”, que serão discutidas com o líderes locais neste fim-de-semana. Johnson encontrou oposição das principais cidades do norte da Inglaterra – como Manchester , Liverpool, Sheffield, Newcastle ou Nottingham – à imposição das novas restrições, que incluiriam o encerramento de bares e restaurantes.
Alemanha
A lista de áreas de risco ou de especial incidência de covid-19, na Alemanha, aumentou nas últimas 24 horas em várias grandes cidades do país, como Essen, Stuttgart e Bremen. De acordo com a norma do Instituto Robert Koch (RKI), é considerada de risco uma zona onde são registadas 50 infecções em sete dias por 100.000 habitantes. A partir desse nível, são implementadas medidas territoriais especiais.
A capital superou a média de 52 casos para essa contagem de habitantes. Berlim entrou numa fase que envolve o encerramento da vida noturna e a divisão entre bairros considerados “zona vermelha” e outros onde o vírus ainda não se espalhou da mesma forma.
Como em Espanha, esta falta de ‘harmonia’ na legislação que afecta os diferentes bairros de uma cidade tem gerado confusão e protestos entre os empregadores sectoriais que exigem “normas claras” para poderem desenvolver, na medida do possível, a sua actividade.
Nas últimas 24 horas, o RKI notificou 3483 novos casos em todo o país e onze mortes. É uma queda clara em relação aos 4700 positivos e 15 mortes comunicadas no sábado – o maior número desde o início de Abril.