A União Europeia planeia ter a sua chamada “muralha de drones” totalmente operacional e integrada numa rede de capacidades de defesa aérea até ao final de 2027, segundo uma versão preliminar confidencial do Defence Readiness Roadmap 2030, a que o Euronews teve acesso.
O documento, que a Comissão Europeia deverá apresentar oficialmente esta quinta-feira, define as metas e prazos para a implementação das novas capacidades militares do bloco, no contexto de uma Rússia cada vez mais agressiva. A iniciativa surge após meses de negociações entre Bruxelas e os Estados-membros, com o objetivo de reformular profundamente a política de defesa europeia.
A Comissão Europeia já havia identificado nove áreas de capacidade prioritária para investimento urgente — incluindo munições, tecnologia de drones e sistemas anti-drones. O documento agora divulgado fornece, pela primeira vez, um calendário para a concretização dos principais projetos de defesa comum, entre os quais se destacam o Eastern Flank Watch, que inclui a European Drone Wall, o Air Defence Shield e o Defence Space Shield.
De acordo com o texto, tanto a muralha de drones como o reforço do flanco leste são considerados “os projetos mais urgentes”. O plano indica que a muralha deverá estar “plenamente funcional e integrada numa capacidade de drones baseada em rede até ao final de 2027”, enquanto o sistema de defesa do flanco oriental deverá estar operacional “até ao final de 2028”.
A muralha de drones será concebida como “um sistema tecnologicamente avançado e em múltiplas camadas”, com capacidades interoperáveis para deteção, seguimento e neutralização de drones hostis, bem como para ataques de precisão a alvos terrestres, utilizando tecnologia de drones, lê-se no documento.
O objetivo é garantir que esta capacidade seja “plenamente interoperável e conectada entre os Estados-membros”, permitindo uma consciência situacional europeia e uma ação conjunta na proteção de infraestruturas críticas, “em coordenação com a NATO”.
Mobilidade militar e interoperabilidade europeia
Outro eixo essencial do plano prende-se com a mobilidade militar, considerada uma das áreas-chave da nova política de defesa da União. A Comissão prevê que, até 2027, seja criada “uma área europeia de mobilidade militar com regras harmonizadas e uma rede de corredores terrestres, aeroportos e portos que permitam o transporte desimpedido de tropas e equipamento militar em todo o espaço da União, em estreita coordenação com a NATO”.
Atualmente, em alguns Estados-membros, os pedidos de trânsito de tropas ou material militar por parte de outros países da UE podem demorar até 45 dias a serem processados, o que representa um obstáculo logístico em caso de emergência.
A nova estratégia pretende eliminar esses entraves, reforçando a capacidade de resposta rápida europeia e a coordenação entre os exércitos nacionais.
Financiamento continua sem respostas concretas
Apesar da ambição do plano, o Defence Readiness Roadmap 2030 não apresenta novas fontes de financiamento para sustentar o aumento da despesa militar europeia — uma lacuna que já motivou críticas de vários Estados-membros.
O documento reitera apenas que a proposta para o próximo orçamento plurianual da UE prevê o aumento do financiamento da defesa para 131 mil milhões de euros, com 18 mil milhões destinados à mobilidade militar — um salto significativo face aos 1,76 mil milhões atribuídos no atual quadro orçamental.
Paralelamente, Bruxelas volta a apelar ao avanço da criação de uma Savings and Investments Union, que permita mobilizar investimentos privados para o setor da defesa. Também prevê que o Banco Europeu de Investimento disponibilize um “fundo de fundos” de mil milhões de euros em capitais próprios, destinado a apoiar o crescimento de empresas inovadoras e projetos de defesa, a ser lançado ainda antes do final do ano.
Novas metas para aquisições conjuntas
No esforço de reforçar a cooperação e reduzir custos, a Comissão estabelece novos objetivos: os Estados-membros deverão “organizar pelo menos 40% das suas aquisições de defesa de forma conjunta até 2027” e assegurar que “60% do orçamento de compras de defesa seja destinado à Base Tecnológica e Industrial de Defesa Europeia (EDTIB) e à Ucrânia até 2030”.
Segundo Bruxelas, esta estratégia visa acelerar entregas, reduzir custos e aumentar a interoperabilidade entre as forças armadas europeias, fortalecendo simultaneamente a indústria de defesa do continente.
Embora o plano reforce a urgência de uma defesa europeia coordenada, a ausência de mecanismos de financiamento específicos deixa em aberto a questão central: como será paga a nova muralha de drones que a União Europeia pretende erguer contra a ameaça russa nos próximos dois anos?













