Tesla lança modelos mais baratos: mas será suficiente para enfrentar BYD e rivais europeus?

Desafio que se adivinha é monumental: enfrentar concorrentes chineses agressivos e marcas europeias que já oferecem elétricos acessíveis abaixo do limiar em que a Tesla pretende competir

Automonitor
Outubro 8, 2025
19:16

A Tesla revelou versões “Standard” do Model Y e do Model 3 a preços mais acessíveis (36.990 e 39.990 dólares), numa jogada destinada a reverter a queda de vendas e recuperar quota de mercado. No entanto, o desafio que se adivinha é monumental: enfrentar concorrentes chineses agressivos e marcas europeias que já oferecem elétricos acessíveis abaixo do limiar em que a Tesla pretende competir.

Segundo a agência ‘Reuters’, embora os novos modelos baixem o preço, muitos analistas consideram que o corte é insuficiente para “destravar” novo mercado. Alguns chegam a afirmar que esta estratégia é mais um “mecanismo de preço” do que um verdadeiro “produto-catalisador”. Além disso, há o risco de canibalização dos modelos existentes da Tesla — consumidores poderiam optar por versões menos equipadas em vez de pagar mais por extras, corroendo margens.

O panorama europeu: território já ocupado

Na Europa, o panorama é ainda mais hostil. O mercado já está repleto de elétricos abaixo de 30 mil euros, vindos de marcas chinesas e europeias, e a Tesla entra nesse espaço com preços relativamente altos.

A quota de mercado da Tesla naquele continente caiu para cerca de 1,5%, reflexo de um produto envelhecido e críticas ao comportamento público de Elon Musk. Enquanto isso, modelos como o BYD Dolphin Surf ou os compactos europeus pressionam fortemente a faixa de preço em que a Tesla deseja disputar.

A ameaça chinesa e o “boom” da BYD

Um dado simbólico: em 2025, a BYD ultrapassou a Tesla nas vendas de elétricos a bateria na Europa, pela primeira vez. Esta viragem revelou não só a força da indústria automóvel chinesa como a eficácia de uma estratégia de volume com preços agressivos. Modelos chineses já oferecem autonomia decente e funções avançadas sem inflacionar o preço. Isso torna mais difícil para a Tesla manter uma proposta de valor meramente baseada em marca, rede de carregamento e software.

Estratégia abandonada e risco de “falso barato”

Curiosamente, a própria Tesla cancelou em 2024 os planos para produzir um carro elétrico realmente barato (o “Model 2”), citando a competição chinesa feroz, lembrou a agência ‘Reuters’. Isso sugere que, por trás do anúncio, pode haver uma postura defensiva: lançar versões mais baratas dos modelos existentes em vez de arriscar num novo segmento.

Esse “falso barato” pode gerar expectativas frustradas: os modelos “Standard” cortam acabamentos, removem sistemas de assistência e reduzem componentes “premium”. Para muitos consumidores, o valor-percebido poderá não justificar o preço, especialmente se comparado a concorrentes que entregam mais “hardware” pelo mesmo valor.

Crítica ao modelo da Tesla: aposta arriscada em diferenciais intangíveis

A Tesla sempre apostou no ecossistema — rede Supercharger, atualizações over-the-air, autonomia otimizada e marca aspiracional. Mas essas vantagens tendem a esbater-se com a concorrência cada vez mais técnica e agressiva. Se o diferencial entre Tesla e concorrentes se tornar a “marca”, sem um valor tangível óbvio, muitos poderão optar por marcas que entreguem “mais carro” por menos euros.

Outro ponto: os investidores esperavam cortes mais ousados de preço. O recuo nos preços pode não trazer salto em volume suficiente para compensar margens mais estreitas. Vemos já reações negativas no mercado — as ações da Tesla caíram cerca de 4-5 % após os anúncios.

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