Sondagem revela o que os cidadãos ucranianos consideram aceitável no plano de paz dos EUA… e o que rejeitam em absoluto

País confronta-se com esta questão de cedências a Moscovo numa fase em que as negociações internacionais avançam, mas a guerra continua a desgastar a população

Francisco Laranjeira
Novembro 26, 2025
17:15

À medida que Washington pressiona por um plano de paz, que ecoa em parte exigências de Moscovo, a sociedade ucraniana debate um dilema central: se a paz implicar compromissos, quais podem ser aceites e quais são inaceitáveis. De acordo com o ‘Kyiv Post’, o país confronta-se com esta questão numa fase em que as negociações internacionais avançam, mas a guerra continua a desgastar a população.

O jornal colocou duas perguntas diretas aos ucranianos: se aceitam a possibilidade de concessões desagradáveis e quais seriam, na sua perspetiva, limites inultrapassáveis. Entre militares, a posição é clara. Yaryna Chornohuz, em missão na região de Kherson, afirmou que qualquer ordem para abandonar território sem combate seria “criminosa” e não seria cumprida, defendendo que a Ucrânia não pode ceder regiões como Kherson, Donetsk ou Zaporizhia.

Em Kiev, porém, onde o impacto da guerra se sente longe da linha da frente mas ainda sob o trauma de ataques recentes, muitos admitem que os compromissos são inevitáveis. Para Vyacheslav, um reformado, o essencial é distinguir “o que é aceitável e o que não é”. Hlib, estudante, considera inevitável alguma cedência, enquanto Olga, também estudante, acredita que a negociação faz parte de qualquer acordo.

Outros rejeitam totalmente essa hipótese. Vladyslav, funcionário bancário, diz que a Ucrânia não deve fazer concessões. Alina, estudante, sustenta que “não se deve ceder quando as forças armadas lutam pela independência”. Ihor, arquiteto, resume a posição: “Espero que não tenhamos de fazer concessões.”

Linhas vermelhas: forças armadas intocáveis, território em disputa

O ponto em que praticamente todos convergem é a rejeição de qualquer redução das forças armadas, tema que teria surgido em propostas preliminares envolvendo cortes de até 800 mil militares. Para a maioria dos entrevistados, esse cenário é “inadmissível”.

As concessões territoriais, porém, dividem opiniões. Para alguns, como Vladyslav, parar na linha de contacto atual poderia ser uma opção. Yuliana admite que Donetsk, Lugansk e Crimeia poderiam ser considerados num debate de concessões, mas reforça que a redução do exército “nem deveria ser discutida”. Hlib rejeita qualquer intervenção nas forças armadas ou na identidade nacional, mas admite que os territórios ocupados poderiam ser objeto de discussão. Outros, como Alina, consideram o tema tabu: “É a nossa terra, o nosso povo vive lá.”

A possibilidade de consagrar língua ou cultura russas na legislação ucraniana é amplamente rejeitada, vista como vitória simbólica para Moscovo. Alina defende um “não categórico” a qualquer ataque à identidade nacional. Já Olga adota visão mais confiante, acreditando que a sociedade ucraniana tem hoje maturidade suficiente para resistir à influência russa, mesmo que esta regressasse ao espaço público.

Paz possível, mas sempre provisória

Entre os entrevistados, há também quem apele a uma visão pragmática. Pavlo, operário, observa que “os planos mudam constantemente” e que a Ucrânia precisa primeiro de recuperar capacidade militar. Vyacheslav acredita que um cessar-fogo temporário pode ser inevitável, ainda que todos os acordos sejam, por natureza, transitórios. Hlib defende que as condições finais devem ser definidas pela liderança ucraniana e pelos aliados ocidentais.

Para Anna, estudante, trata-se de uma questão “sem resposta fácil”. No conjunto, as posições revelam consenso apenas num ponto: o reforço das forças armadas não pode ser posto em causa. Tudo o resto permanece em aberto num país exausto, mas ainda determinado a preservar soberania e dignidade.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.