Siemens: Tecnologia que transforma o mundo

Inteligência Artificial, metaverso e sustentabilidade dominaram o Siemens Tech Day, evidenciando Portugal como hub global de inovação e mostrando como as empresas se preparam para o futuro digital.

Executive Digest
Novembro 28, 2025
9:50

Inteligência Artificial, metaverso e sustentabilidade dominaram o Siemens Tech Day, evidenciando Portugal como hub global de inovação e mostrando como as empresas se preparam para o futuro digital.

A Nova SBE recebeu o Siemens Tech Day, dedicado à inovação tecnológica e ao papel das equipas portuguesas na criação de soluções com impacto global. O evento reuniu especialistas para demonstrar como a tecnologia está a transformar negócios e sociedade, com exemplos concretos de impacto imediato e futuro.

As primeiras palavras pertenceram a Sofia Tenreiro, CEO da Siemens Portugal, que destacou os paradoxos do presente: «Vivemos num mundo complexo. Por um lado, pedem-nos para não usar o ChatGPT porque não podemos copiar; por outro, exigem-nos que o usemos porque é um superpoder e temos de ser super-mulheres e super-homens». A CEO sublinhou também que, apesar da incerteza quanto ao futuro do trabalho, dois elementos permanecerão centrais: «as pessoas e a tecnologia, cada vez mais presente no dia a dia». Recordou ainda a evolução da Siemens em Portugal, passando de uma grande empresa industrial para a empresa tecnológica que é actualmente.

Entre as demonstrações práticas, salientou-se o impacto da tecnologia em três dimensões estratégicas. Na indústria, um gémeo digital de uma fábrica em Singapura permite antecipar falhas e optimizar processos antes da construção física, reduzindo custos e acelerando a inovação. Na formação, a realidade aumentada e virtual transformou programas tradicionais em experiências imersivas, seguras e gamificadas, diminuindo custos com equipamento e deslocações. Já na sustentabilidade, o Digital Business Optimizer facilita o cálculo do consumo energético e da pegada de carbono de edifícios, simulando cenários de descarbonização e apoiando decisões mais eficientes.

A Siemens aproveitou também o evento para evidenciar a dimensão global do trabalho desenvolvido em Portugal, que conta com mais de 60 nacionalidades entre os seus 4300 colaboradores no país.

AMEAÇA OU OPORTUNIDADE?

Bernardo Caldas, Director of Data da Mollie, foi o orador convidado para o keynote speech, onde explorou o impacto da inteligência artificial na sociedade e no mercado de trabalho. «As pessoas tendem a definir o mundo como bom ou mau, feliz ou triste. Gostam de estar demasiado calmas em relação à IA, como se nada estivesse a acontecer, ou demasiado alarmadas, como se fosse o fim do mundo». Para Bernardo, é essencial reconhecer simultaneamente o potencial e os perigos da IA: «Se não estás preocupado, começa a estar. Se estás demasiado ansioso, podes também resolver isso».

O responsável da Mollie foi directo sobre a forma como a IA afecta empregos, salientando que está a acontecer neste momento: «E afecta os empregos de pessoas que usam IA, mas também de pessoas que não usam IA. Toda a gente». Citou ainda um estudo de Stanford, que revelou a queda de 13% do emprego relativo entre os jovens dos 20 aos 25 anos, nos últimos três anos: «A economia está a crescer. Tudo deveria estar melhor. E está 13% pior».

Apesar destes riscos, Bernardo vê na IA um aliado para a criatividade, considerando que ignorar a tecnologia é pior do que enfrentar riscos: «A pior estratégia que se pode ter é não fazer nada, ignorar isto». A sua intervenção terminou com um incentivo à acção: «Comecem a experimentar. Tentem construir coisas, automatizar tarefas, explorar a IA na prática. Nunca na história da humanidade tivemos tantas oportunidades para criar e inovar sem grandes investimentos».

MUDAR COM RESPONSABILIDADE

A inovação está a transformar a forma como vivemos, trabalhamos e produzimos, mas traz consigo oportunidades e riscos. Foi este o tema da primeira mesa de debate, onde João Nascimento Gomes, Data & Analytics Lead na Siemens Portugal, destacou que a inteligência artificial, tal como a electrificação das frotas, oferece capacidades para tomar decisões mais informadas, reduzir emissões e experimentar soluções complexas de forma rápida e económica, embora levante questões urgentes sobre regulamentação, privacidade e segurança.

Já a digitalização permite acelerar processos industriais e o desenvolvimento de produtos de forma inédita. Tiago Mayer, Launch Manager da Volkswagen AG, exemplificou com o primeiro carro eléctrico da Volkswagen abaixo de 20 mil euros, mas alertou para os riscos de veículos permanentemente conectados e reforçou a necessidade de equilibrar a acção entre governos, empresas e sociedade, preparando todos para lidar com estas mudanças.

No sector energético, a IA tornou-se essencial para coordenar milhares de fontes de energia distribuídas e gerir sistemas complexos em tempo real. José Roque, Energy Segment Lead na EY Portugal, sublinhou a importância de cibersegurança e regulamentação adequada, observando que deixar apenas empresas ou governos a gerir estas tecnologias seria como conduzir um carro de Fórmula 1 sem travões. Em conjunto, os oradores reforçaram que a inovação tem dois lados, e que a responsabilidade de garantir que sirva a sociedade de forma inclusiva e segura deve ser partilhada por todos.

PARA ALÉM DO JOGO

O metaverso deixou de ser apenas sinónimo de jogos ou óculos de realidade virtual e começa a transformar sectores críticos como indústria, saúde, educação e infra-estruturas, ao combinar o real e o digital de formas inéditas. Karl-Heinz Schmid, Global Account Manager da NVIDIA, explicou que a utilização de computação acelerada permite reduzir o tempo de simulação industrial em cerca de 20% do que normalmente se perdia, acelerando o desenvolvimento e diminuindo desperdícios.

Sofia Marta, Country Manager do Google Cloud Portugal, destacou que a combinação de edge computing com inteligência artificial torna possível operar ambientes industriais de forma mais autónoma e eficiente, trazendo dados do OT (tecnologia operacional) para o IT (tecnologia da informação) em tempo real e permitindo decisões mais rápidas e precisas.

Relativamente à Fórmula 1, Jack Harington, Partnerships Group Lead da Oracle Red Bull Racing, explicou que cerca de 70 a 80% do ciclo de design dos carros já ocorre no mundo digital. Os pilotos e engenheiros testam virtualmente diferentes peças e ajustam o veículo para optimizar o desempenho, onde diferenças de milésimos de segundo podem ser determinantes na classificação final.

FORMAR PARA EVOLUIR

O ritmo acelerado da inovação obriga as empresas a repensar a formação, adoptando estratégias que vão além do simples upskilling e incorporam reskilling, cross-skilling e experiências mais envolventes.

Para João Pinto, Senior Director of Software Engineering da Adidas, muitos programas de onboarding e formações específicas são raramente actualizados, quando o mundo evolui demasiado rápido para que o conteúdo permaneça relevante.

Em paralelo, Vanessa Zdanowski, Executive Director da Escola 42, observa que formações tradicionais, passivas e baseadas em slides ou palestras monótonas, têm baixo impacto na retenção do conhecimento. A Escola 42 tem ajustado a sua metodologia, integrando inteligência artificial e outras ferramentas, com o objectivo de formar profissionais que saibam aprender de forma autónoma e contínua.

Carolina Natal, AI Solutions Architect da Siemens Portugal, enfatizou a necessidade de olhar para o erro como parte natural do processo de aprendizagem. Falhar não deve ser encarado como fracasso, mas como um passo atrás que permite avançar com mais segurança. A liderança é essencial nesse contexto, criando ambientes onde arriscar é permitido e dando o exemplo de que errar faz parte do desenvolvimento.

O Siemens Tech Day mostrou como IA e metaverso estão a redefinir modelos de negócio. Num mundo em que tecnologia e ética caminham lado a lado, inovar deixou de ser opcional.

Este artigo faz parte da edição de Outubro (n.º 235) da Executive Digest.

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