O presidente russo Vladimir Putin está mais próximo do que nunca de concretizar a sua visão de uma internet sob total controlo estatal. Em julho, o Kremlin anunciou que a VK Co., uma empresa de redes sociais controlada pelo governo, será responsável pelo desenvolvimento da nova aplicação nacional de mensagens: Max.
Mais do que uma simples app de comunicação, a Max apresenta-se como uma plataforma multifuncional que permite aos utilizadores enviar mensagens, gerir finanças, aceder a serviços públicos e até evitar filas em festivais de música, revela a ‘Bloomberg’.
A 16 de julho, Putin ordenou ao governo a criação de novas restrições a software e serviços de comunicação provenientes de países considerados “inimigos”. Dois dias depois, Anton Gorelkin, vice-presidente da comissão parlamentar de TI, sugeriu que o WhatsApp — a plataforma online mais usada na Rússia — poderá estar entre os alvos.
O conceito de “soberania digital” tem ganho terreno na Rússia, traduzindo-se na aposta em tecnologias nacionais e no afastamento de plataformas estrangeiras. O modelo desejado por Putin assemelha-se ao da China, onde a experiência digital é amplamente mediada por aplicações multifuncionais (“super apps”) e onde o governo tem um controlo apertado sobre as atividades online dos cidadãos.
A Max, por estar sob controlo indireto do Kremlin através da gigante energética estatal Gazprom e outros acionistas ligados ao Estado, representa um novo patamar no domínio da internet russa. “Para Putin, a ideia sempre foi clara: tudo deve estar sob controlo”, afirma Irina Borogan, investigadora do Center for European Policy Analysis à ‘Bloomberg’.
Desde a invasão da Ucrânia em 2022, a pressão sobre as plataformas internacionais tem aumentado. Facebook, Instagram e X (antigo Twitter) foram banidos. O acesso ao YouTube tem sido restringido, e a utilização do TikTok decaiu após a limitação de conteúdos estrangeiros. Paralelamente, o número de interrupções da internet disparou: só nos primeiros 27 dias de julho registaram-se 2.591 cortes no acesso à internet móvel, contra 654 em todo o mês anterior, segundo a ONG Na Svyazi.
O governo russo tem também recorrido a bloqueios seletivos de aplicações e proibido o uso de VPNs. Uma nova lei prevê multas para quem pesquisar conteúdos considerados “extremistas” e continua a endurecer a censura, como no caso de conteúdos LGBTQ+. Expressões mínimas de oposição à guerra podem resultar em penas de prisão severas.
A estratégia passa por canalizar o tráfego digital para plataformas controladas pelo Kremlin.
Putin, que já admitiu não usar a internet, começou a mudar de postura após os protestos de 2011, que foram amplamente organizados nas redes sociais. Desde então, a Rússia tem apertado o controlo legislativo e tecnológico da web, culminando em 2019 com uma lei que permite filtrar o tráfego e, potencialmente, isolar o país da internet global.














