Randstad Insight: Fazer a diferença

Por Pedro Empis | Executive business director outsourcing da Randstad Portugal

O que procuramos num profissional? Uma pessoa confiável e expedita, com pensamento crítico e iniciativa, criativa e proativa e todas as características adicionais que associamos ao sucesso. Deve ter ainda a tão necessária inteligência emocional e auto consciência para garantir que entende os colegas e que os colegas a entendem e, claro, deve ser especialista na sua área de atividade, mas desperta para o contexto global da empresa, do mercado e até do mundo que a rodeia. Alguém comprometido, que vive os valores e cultura da empresa todos os dias, das mais pequenas decisões aos momentos mais cruciais. Que está disponível para ir além da expectativa, que transforma experiência em valor e que quer sempre aprender mais.
Em boa verdade, todos queremos ter este modelo de profissional nas nossas equipas, contudo, há sempre um “mas”. Apesar de todo o processo de conscientização que tem vindo a ganhar forma nos últimos anos, continuam a existir preconceitos que levam a que o profissional que descrevo “tenha” que ter um determinado aspecto, realidade social, origem, orientação sexual, credo ou falta dele, idade, capacidade física e, em certos casos mental, entre outros atributos, que em nada se relacionam com o trabalho que irá desenvolver e os resultados que irá alcançar.
Vivemos no tempo de discursos politicamente corretos, pelo que oficialmente todos dirão que os fatores antes enunciados não têm lugar no seu processo de decisão ao selecionar uma nova pessoa para a sua equipa. O que muito provavelmente é verdade, se falarmos da vertente consciente dessa tomada de decisão. Acontece que o enviesamento é, na maior parte das vezes, de natureza inconsciente, ou, muito provavelmente não temos a auto consciência tão bem calibrada no que a este tema diz respeito para o detectarmos eficazmente, embora estejamos convencidos que sim.
Tudo isto a propósito de um paradoxo muito atual: a necessidade de dar voz aos grupos sub-representados na nossa sociedade e a escassez global de talento que o mercado de trabalho padece há vários anos. Por um lado, temos um conjunto de pessoas que pretendem ter uma palavra a dizer sobre o progresso do mundo, nomeadamente através do trabalho. Por outro, empresas cujos negócios sofrem com a falta de pessoas capazes de levar à prática os seus planos.
Do pride month às iniciativas para trazer de volta ao mercado as pessoas 45+, da necessidade de incluir as pessoas com deficiência física ou intelectual, às minorias étnicas e religiosas, da desigualdade salarial entre homens e mulheres a todo e qualquer tipo de descriminação que leva a que uma pessoa seja selecionada ou rejeitada por algo que não seja estritamente relacionado com a sua capacidade para executar as tarefas que lhe serão confiadas, existem já iniciativas que visam esbater estas barreiras, mas que precisam de um esforço coletivo e consistente por parte de todos os intervenientes do mercado.
Se formos capazes de ver para lá dos preconceitos teremos um mundo mais equitativo e justo para todos, ao mesmo tempo que permitimos que a diversidade suporte a performance das empresas e a sua saúde organizacional, evitando o pensamento coletivo dominante, inovando e criando mais valor. Até porque não nos podemos dar o luxo de deixar ninguém de fora, o que seria um contrassenso num ambiente de acentuada escassez de talento.
A alteração deste paradigma fará a diferença na vida das pessoas e das empresas, mas para isso é preciso tomar consciência e ação concreta nesta matéria. Vamos fazer a diferença?

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 208 de Julho de 2023






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