Os níveis de poluição caíram, um pouco por todo Mundo, durante o período de confinamento. Com as estradas vazias, os aviões em terra e algumas fábricas paradas, o ar tornou-se mais limpo. Mas e quanto à reciclagem? Passar grande parte dos dias em casa poderia ter levado a população a regredir no que à separação de resíduos diz respeito, mas pelo menos em Portugal o cenário parece ser o oposto.
Pedro Nazareth, director-geral do Electrão, conta à Executive Digest que os «portugueses mantiveram os seus hábitos de separação de resíduos». Aliás, a recolha selectiva de embalagens aumentou, desde o início do ano e até Maio, 9%, face ao período homólogo anterior.
O responsável adianta ainda que, no caso dos equipamentos electrónicos ou eléctricos de maior dimensão, existem muitas alternativas para os entregar, mas que as pessoas ainda não as conhecem. Isso faz com que «muitos sejam simples e erradamente depositados na rua».
Qual tem sido o impacto da pandemia nos hábitos de reciclagem dos portugueses?

Pelos resultados actualmente disponíveis, acreditamos que, apesar de todos os constrangimentos, os portugueses mantiveram os seus hábitos de separação de resíduos.
Mesmo numa altura em que o apelo era ficar em casa, e com alguns municípios a tomarem decisões de suspensão da recolha de resíduos porta a porta, motivadas pela manutenção da saúde pública, a recolha selectiva de embalagens tinha aumentado, desde o início do ano até Maio, 9%, face ao período homólogo do ano anterior.
O facto de as pessoas terem estado mais tempo em casa, de terem consumido e produzido mais resíduos e, ainda, de se terem dedicado, por isso, à separação e correcto encaminhamento de resíduos para reciclagem são algumas das variáveis que poderão estar na origem destes resultados.
No caso dos equipamentos eléctricos e das pilhas, a recolha diminuiu. No entanto, esta diminuição não é necessariamente um reflexo da mudança de comportamento. Pode, sim, estar relacionada com o facto de muitos dos locais de recolha, como centros comerciais, empresas, escolas, etc., terem estado encerrados durante este período, de sensivelmente três meses.
Qual é a estratégia pensada neste momento para incentivar à reciclagem?
A reciclagem é fundamental para o planeta e para a nossa saúde. Numa altura em que as preocupações com este tema estão na ordem do dia, é importante relembrar que a reutilização e a correcta separação e reciclagem dos resíduos são determinantes para se conseguir diminuir o impacto no ambiente e, consequentemente, na nossa saúde.
Há já vários efeitos que mostram isso mesmo – poluição atmosférica, dos rios e dos mares, contaminação dos solos, entre outros – e é importante relembrar e alertar as pessoas para esses temas. E é preciso consciencializar as pessoas porque a mudança começa em cada um de nós – uma mudança de comportamentos, que inclui a separação e o correcto encaminhamento de resíduos, mas também uma mudança de hábitos de consumo.
Esta é a base da estratégia para um aumento das quantidades recicladas em Portugal, suportada por um continuado investimento na qualidade do serviço dos sistemas de reciclagem, através de um número mais significativo de pontos de recolha, de melhorias na contentorização e na sinalética referentes à separação de resíduos, da melhoria do serviço de recolha em parceiros institucionais e empresariais.
Notam-se diferenças nos grupos demográficos que mais (ou menos) reciclam?
Não temos dados concretos sobre essa divisão. Acreditamos que a preocupação com o ambiente e a separação de resíduos é já um tema transversal a todas as faixas etárias. Sabemos, no entanto, que devido à sua natureza e ao facto de terem sido confrontados com estas questões mais cedo, antecipando o impacto no seu futuro, os mais jovens são mais activos. São os que sentimos como impulsionadores de mudanças de comportamento em casa e como motores de mudança na sociedade. Temos o exemplo recente da jovem Greta Thunberg, de todo o movimento que criou e que acabou por inspirar não só os mais velhos, mas o mundo inteiro.
Dentro dos equipamentos eléctricos/electrónicos e pilhas, quais aqueles que são mais entregues pelos portugueses?
Chegam aos Pontos Electrão todos os tipos de equipamentos eléctricos e não denotamos a prevalência de algum tipo de equipamento em específico. Falamos de computadores, impressoras, aspiradores, televisores, todo o tipo de electrodomésticos. São muitos os exemplos de pequenos equipamentos que são recolhidos no nosso contentor vermelho, o Electrão.
No caso dos equipamentos de maior dimensão, existem muitas alternativas para os entregar, mas nota-se que as pessoas ainda não as conhecem, o que faz com que muitos sejam simples e erradamente depositados na rua. Entre as opções adequadas, existem os centros de recepção do Electrão, a entrega do usado na altura da compra de um novo ou a recolha pelos sistemas municipais.
Outro problema que identificamos está relacionado com as lâmpadas que, apesar de terem locais de recolha específicos, continuam a ser erradamente colocadas no lixo comum ou no vidrão.
Sugerimos sempre a visita ao nosso site ondereciclar.pt, onde temos identificados os locais da nossa rede para, em função da tipologia de equipamento, a pessoa saber qual o local mais conveniente para a sua reciclagem.
Em termos de recolha de equipamentos, temos, por isso, que ter em especial atenção aos equipamentos que têm componentes perigosos e que provocam um maior impacto no ambiente: equipamentos com gases com efeito de estufa, equipamentos com mercúrio, fósforo, cádmio, entre outros.
Quais são os principais mitos que ainda resistem sobre a reciclagem?
Acredita-se, por exemplo, que depois da separação, os sistemas municipais de recolha colocam os resíduos todos juntos no camião da recolha. As pessoas desconhecem que o camião tem vários compartimentos, destinados a cada tipo de resíduo que não estão visíveis, ou que muitas vezes existem problemas de contaminação na recolha selectiva que obrigam a este tipo de procedimento.
Também é comum ouvir-se que, por pagarmos taxa de resíduos na água, os sistemas deveriam ter a capacidade de fazer a separação e reciclagem de resíduos. O que as pessoas não sabem é que os custos incluídos nessa taxa pressupõem que cada um de nós continua a ser responsável por separar e encaminhar os resíduos até ao local de recolha mais próximo.
É importante reconhecer que o sistema tem diversas especificidades e que os mitos se foram criando por desconhecimento. É por isso que apostamos num grande trabalho de comunicação, informação e sensibilização junto dos portugueses.
Independentemente dos factos que podemos transmitir às pessoas para desconstruir estes mitos, o mais importante é que percebam que não existe nenhuma razão para a desresponsabilização do nosso papel enquanto cidadãos. Temos um papel enquanto cidadãos, enquanto agentes de mudança, dando exemplos de boas práticas ambientais. Enquanto sociedade, devemos todos – e cada um de nós – fazer a coisa certa, e isso começa por separar os nossos resíduos. É um pequeno gesto, mas que tem um impacto enorme. Devemos assumir que o fazemos por nós, pelo nosso País, pela nossa sociedade, pelo ambiente e pelas gerações futuras.
Têm dados sobre o ranking dos países que mais reciclam? Em que lugar fica Portugal?
De acordo com os dados do Eurostat para 2016, na globalidade, os países que mais resíduos geram são a Finlândia, a Estónia e o Luxemburgo. A mesma fonte indica que os países que mais reciclam são a Itália, a Bélgica e a Letónia.
Portugal não se destaca, em nenhum dos casos e, apesar da tendência de crescimento na recolha de resíduos no nosso país, ainda temos um longo caminho pela frente para nos aproximarmos das metas que ambientais que temos e que, acima de tudo, nos garantem um planeta mais saudável, em que se produzem cada vez menos resíduos e onde vivemos de práticas sustentáveis, como a reutilização e a reciclagem.














