Os desafios da liderança colocam-se hoje, mais do que nunca, em constante discussão devido ao ritmo vertiginoso a que o mundo avança. O SingularityU Portugal Summit: Supermassive está entre hoje e amanhã na Nova SBE a debater o futuro dos negócios e das lideranças.
David Roberts, especialista em disrupção tecnológica e liderança exponencial, acredita que um verdadeiro líder deve ser muito para além das competências, devendo dar mais relevo a aspetos da área comportamental como a humildade, coragem ou compaixão.
Em entrevista à Executive Digest, o especialista aponta quais as principais características que os líderes devem ter, os principais desafios e o que o futuro reserva para as lideranças.
O que é a liderança exponencial?
A ideia por trás da liderança exponencial é muito simples e vai além da tecnologia. O mundo está a mudar de uma forma massiva e dinâmica, e as empresas e governos estão a ter uma grande dificuldade em lidar com essa mudança.
Assim, eles precisam de líderes extraordinários que os ajudem a transformar. Muitas organizações e governos funcionam com um líder no topo, o que não funciona da melhor forma quando o cenário está em mudança.
A melhor forma de atuar é fazer um planeamento centralizado, mas uma execução descentralizada. Desta forma, a liderança exponencial assenta na ideia de que os melhores líderes sabem como criar novos líderes que criam outros líderes, e isso é verdadeiramente exponencial.
Uma organização com vários líderes opera com um planeamento centralizado e uma execução descentralizada, e ao longo do tempo toda a organização vai mudar.
Quais as principais competências que deve ter um líder?
Eu não acredito que são as competências que diferenciam os grandes líderes. Mesmo as empresas que têm pessoas com muitas competências, quando o mundo muda todas essas competências são inúteis.
Então o que é necessário? Atributos. Um grande amigo meu chamado Rich Diviney escreveu um livro intitulado “The Atributes”, que é sobre esta ideia de que os atributos melhoram com as mudanças, enquanto as competências não.
Atributos podem ser a curiosidade ou a humildade. Se for humilde um líder admite que não sabe tudo, se for curioso continuará a aprender até ser inteligente. Dou ainda como exemplo a perseverança e a persistência, sendo que a persistência é quando está a tentar fazer o mesmo vezes sem conta, enquanto a perseverança exige que seja tentado algo diferente todos os dias.
Eu acho que os três atributos mais importantes para um líder são a humildade, coragem e compaixão. Os líderes que desenvolverem estes três atributos serão os líderes mais extraordinários do mundo.
Os atuais líderes são proativos ao ponto de compreenderem e colocarem em prática novas ideias e ferramentas, ou ainda têm uma mentalidade muito tradicional?
Eu acredito que os líderes são bons a encontrarem novas ideias e a colocá-las em prática, mas não acho que essa seja a competência diferenciadora. O mais importante é ensinar os líderes a ouvir os clientes, a inovar, e acho que as grandes empresas são muito boas no que respeita a inovação.
O que não são boas é na disrupção, ou seja, em criar algo que vai “destruir” aquilo que está para trás, aquilo em que já são bons.
E como podemos saber se uma ideia é verdadeiramente disruptiva ou apenas inovadora?
Agora sabemos como o fazer. A diferença é que a inovação leva a concorrência, enquanto a disrupção “destrói” a outra coisa. Por exemplo, os carros não eram competitivos com os cavalos, os carros foram uma disrupção aos cavalos como meio de transporte e também toda a indústria, desde as celas aos acessórios.
O que aponta como principais entraves dos líderes das organizações?
O primeiro é se não temos o melhor talento nas empresas para resolver esse problema, ou pior, se o problema surge por não haver talento para dar resposta. O segundo é a cultura, ou seja, mesmo que tenha o melhor talento, se não tiver a melhor cultura esses talentos não têm o seu melhor desempenho.
Quais são os maiores desafios para os líderes no futuro?
Acredito que o maior problema do mundo não é a escassez, seja de água, de alimentos, de riqueza, o maior problema do mundo é a escassez de grandes líderes. O problema não é a falta de grandes líderes, mas sim que estes não queiram concorrer a cargos de relevo devido ao processo político.
Deixo algumas dicas para os líderes empresariais. Primeiro aconselho que os líderes não se foquem em resolver problemas, pois isso não é o melhor que a empresa é capaz de fazer. O melhor que podem fazer são coisas extraordinárias que na realidade não resolvem problemas. Nós não fomos à lua para resolver um problema, fomos à lua porque era extraordinário e foi algo que inspirou o mundo.
Em segundo, aconselho as empresas a encontrar e implementar uma cultura, encontrar o melhor talento ou formar o talento que têm dentro da empresa, muitas organizações não fazem nenhuma delas.
Por último, foquem-se nos atributos e no carácter, na humildade, na coragem, compaixão, integridade. Estes atributos criam excelentes líderes e inspiram todos à volta a serem bons líderes também.
