Urgências fechadas: Em dois meses, mais de 40 grávidas foram transferidas do SNS para maternidades do privado
Entre junho e os primeiros dias de agosto de 2024, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) encaminhou 42 grávidas para hospitais privados na Área Metropolitana de Lisboa, devido à saturação das maternidades públicas. O número reflete a pressão crescente sobre as unidades de saúde pública, especialmente durante o verão.
De acordo com o balanço feito pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e reportado ao PÚBLICO, as transferências foram realizadas para três hospitais privados com os quais o SNS possui protocolos: CUF Descobertas, Luz Saúde Lisboa e Lusíadas Lisboa. Esta medida foi estabelecida para garantir atendimento adequado às grávidas, quando as maternidades públicas não têm capacidade para acolher todas as pacientes.
Durante o último fim de semana, a Direção Executiva do SNS (DE-SNS) relatou que nasceram 146 bebés nas maternidades da região de Lisboa e Vale do Tejo, uma média de 73 partos diários. Entretanto, várias urgências obstétricas estiveram encerradas, nomeadamente em Almada, Amadora-Sintra, São Francisco Xavier, Loures, Setúbal, Leiria e Portimão.
As unidades que permaneceram abertas enfrentaram grande pressão. A Maternidade Alfredo da Costa (MAC), por exemplo, registou cerca de 60 partos e atendeu aproximadamente 400 grávidas desde a madrugada de sexta-feira até a manhã de segunda-feira. Maria José Costa Dias, enfermeira diretora da Unidade Local de Saúde (ULS) São José, indicou que a MAC teve de transferir cerca de dez puérperas e recém-nascidos para outros hospitais, devido à limitação de camas na unidade de internamento do puerpério, que dispõe apenas de 30 camas.
Com a crescente incapacidade das maternidades públicas para responder à procura, o anterior governo estabeleceu, em maio de 2023, um protocolo com os principais grupos privados de saúde. Este acordo visa garantir que grávidas de baixo risco sejam encaminhadas para hospitais privados quando as unidades do SNS não conseguirem atender à demanda. De acordo com o INEM, foram realizadas transferências de grávidas também em junho e julho, com um total de 35 mulheres encaminhadas para os hospitais privados durante estes meses.
Questões de Atendimento no Hospital das Caldas da Rainha
Ontem, ocorreu um caso controverso que envolve o Hospital das Caldas da Rainha. Uma mulher, que havia sofrido um aborto espontâneo em casa, dirigiu-se ao hospital apenas para descobrir que a urgência de obstetrícia estava fechada. Inicialmente, o hospital alegadamente recusou prestar assistência, sendo atendida apenas após insistência dos bombeiros.
Em resposta à situação, o Ministério da Saúde informou que o caso está a ser monitorizado e que a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) abriu um inquérito para investigar as circunstâncias do atendimento. O Hospital das Caldas da Rainha, parte da Unidade Local de Saúde Oeste, afirmou que a paciente foi admitida de imediato assim que o hospital tomou conhecimento da situação. A ULS Oeste garantiu que a admissão não foi recusada e que o atendimento foi realizado conforme os protocolos estabelecidos.
O INEM confirmou que a chamada para apoio foi recebida e que, após triagem, a ambulância dos Bombeiros Voluntários de Caldas da Rainha foi enviada ao local. A equipa de bombeiros, após observação, contactou o hospital que posteriormente concordou em receber a paciente. O caso destaca a contínua pressão sobre o sistema de saúde, especialmente durante períodos de alta procura e sobrecarga das unidades de emergência