“Um disparate aduaneiro”: Este é o território com as piores tarifas aplicadas por Trump (e não é a China, nem a Índia)

A nova política tarifária dos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump, trouxe um impacto inesperado para um pequeno e remoto território francês.

Pedro Gonçalves
Abril 3, 2025
12:46

A nova política tarifária dos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump, trouxe um impacto inesperado para um pequeno e remoto território francês. Saint-Pierre e Miquelon, um arquipélago situado ao largo da costa canadiana, com pouco mais de 6.000 habitantes, recebeu a taxa mais elevada da nova ronda de tarifas impostas por Washington: 50% sobre as suas exportações. A medida tem sido amplamente criticada e descrita como um “disparate aduaneiro”.

A justificação para esta penalização drástica reside num único episódio ocorrido em julho de 2024. Durante esse mês, uma empresa americana importou produtos de Saint-Pierre e Miquelon no valor de 3,4 milhões de dólares, um volume extraordinariamente alto para os padrões da ilha. Até então, o arquipélago mantinha um histórico de equilíbrio comercial com os Estados Unidos, com trocas reduzidas ou inexistentes ao longo da década anterior.

No entanto, ao aplicar a nova fórmula de cálculo de tarifas, Trump considerou que este período isolado gerou um défice de 99% e, como retaliação, impôs um arancel de 50% de forma “recíproca”. A decisão, baseada num critério estatístico questionável, transformou este pequeno território numa das maiores vítimas da nova política comercial da Casa Branca.

Reação internacional e impacto económico
A notícia causou surpresa e perplexidade na Europa. O governo francês ainda não emitiu uma resposta oficial sobre esta sanção específica, mas no Palácio do Eliseu preparam-se reuniões com os setores afetados. A possibilidade de um pedido formal para a remoção da tarifa não está descartada.

A economia de Saint-Pierre e Miquelon é modesta e baseia-se principalmente na exportação de produtos do mar e alguns bens industriais. Em 2023, o arquipélago exportou um total de pouco mais de 3 milhões de dólares, destacando-se os crustáceos processados (1,56 milhões), moluscos (995 mil dólares), polímeros de etileno (142 mil dólares), garrafas de vidro (115 mil dólares) e crustáceos não processados (75,7 mil dólares). Os principais destinos das suas exportações incluem o Canadá (2,7 milhões de dólares), Irlanda (177 mil), França (165 mil), Djibouti (155 mil) e Reino Unido (57,7 mil).

Embora pequena, a economia de Saint-Pierre e Miquelon mantinha um equilíbrio discreto no comércio internacional. Agora, com a imposição da tarifa de 50%, este território enfrenta dificuldades inesperadas.

Uma guerra comercial em expansão
A penalização imposta a Saint-Pierre e Miquelon insere-se num contexto mais amplo de tensões comerciais. Grandes economias como a China e a União Europeia também foram alvo das medidas tarifárias de Trump, enfrentando taxas de 34% e 20%, respetivamente. A escalada nas tarifas comerciais tem gerado preocupação em setores como a indústria agroalimentar e a produção de vinho na Europa, incluindo Espanha, onde os impactos já estão a ser avaliados.

A decisão de incluir uma ilha tão pequena e sem um peso económico relevante no centro desta política agressiva tem sido amplamente criticada. Para muitos, Saint-Pierre e Miquelon tornou-se um símbolo do que descrevem como um “disparate aduaneiro”, levantando questões sobre os critérios utilizados pela administração Trump na formulação das suas políticas comerciais.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.