Um novo estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) analisa os efeitos da inteligência artificial (IA) e da automação no mercado de trabalho em Portugal, que se prevê que tenham um impacto significativo no mercado laboral.
O policy paper, coordenado por Rui Baptista, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, categoriza 120 profissões em quatro grupos distintos, de acordo com o seu nível de exposição à digitalização:
- Profissões em ascensão (22,5% do emprego): associadas a competências avançadas e especialização tecnológica, apresentam um elevado potencial de crescimento e ganhos de produtividade.
- Profissões em colapso (28,8% do emprego): fortemente ameaçadas pela automação, exigem estratégias urgentes de requalificação para evitar um impacto severo no desemprego.
- Terreno dos humanos (35,7% do emprego): composto por ocupações de baixa exposição à automação e sem grande potencial para crescimento impulsionado pela IA.
- Terreno das máquinas (13% do emprego): profissões onde a tecnologia já está amplamente integrada, permitindo benefícios de produtividade, mas com poucas oportunidades para o trabalho humano no futuro.
O estudo destaca que a maior parte dos trabalhadores portugueses encontra-se em profissões que, embora protegidas da automação, também não têm potencial de crescimento através da IA. Por outro lado, quase um terço do mercado laboral pode enfrentar desafios significativos devido à digitalização, com profissões tradicionalmente seguras, como as vendas, a serem agora fortemente ameaçadas.
A análise revela que a exposição à IA varia significativamente entre as regiões do país. Distritos como Lisboa, Porto, Coimbra e Vila Real apresentam maior concentração de profissionais em ascensão, enquanto regiões como Braga, Aveiro e Viseu registam uma elevada percentagem de empregos em colapso. Já os distritos do interior, como Beja, Évora e Guarda, apresentam uma menor exposição à digitalização, mantendo-se sobretudo no “terreno dos humanos”.
Além das diferenças regionais, o estudo alerta para as lacunas na formação académica e profissional, sublinhando a necessidade de adaptação dos currículos ao novo contexto tecnológico. A aquisição de competências digitais, a literacia em IA e a formação contínua são apontadas como essenciais para garantir a empregabilidade a longo prazo.
Os autores defendem que as políticas públicas devem equilibrar a adoção tecnológica com mecanismos de proteção e requalificação dos trabalhadores mais vulneráveis. Entre as recomendações, destacam-se: a promoção da inovação e do empreendedorismo como motores do desenvolvimento regional; programas de requalificação direcionados para as profissões em risco de colapso; reformulação dos currículos educativos para incluir competências digitais e IA; estratégias regionais diferenciadas para mitigar os efeitos negativos da digitalização; reforço da proteção social e envolvimento das empresas na transição digital; incentivos para a adoção responsável da IA e da automação; monitorização e regulamentação ética das novas tecnologias.














