Putin evita cimeira do G20 no Brasil devido a mandado de captura do TPI

O Presidente russo, Vladimir Putin, confirmou hoje que não participará na cimeira do G20 no Rio de janeiro em novembro, por ser alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI).

O Brasil é signatário do Tratado de Roma e seria obrigado a respeitar a decisão do TPI e a prender em solo brasileiro o dirigente russo, alvo de um mandado de captura do Tribunal por alegados crimes de guerra na invasão russa da Ucrânia.

Putin acrescentou que mantém “relações magníficas e amistosas” com o seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo que não faria sentido viajar “para afetar o trabalho normal do fórum”.

“Tenho uma relação de amizade com Lula. Iria lá de propósito para violar a decisão e arruinar a cimeira? Não. O governo russo terá um representante na cimeira”, afirmou o Presidente russo.

Ainda assim, Putin disse que seria possível desenvolver soluções diplomáticas para evitar a sua detenção, com base num acordo formal entre os dois governos e questionou a legitimidade do Tribunal, criado em 2002.

“É uma das organizações internacionais cuja jurisdição a Rússia não reconhece. Tal como muitos outros países do mundo. Penso que os Estados Unidos também não a reconhecem, a China não a reconhece, a Turquia não a reconhece, por isso, não acho que seja mau que exista uma organização internacional como esta, mas é necessário que seja universal”, disse.

“O respeito por um órgão que não é universal nem independente é muito baixo”, reiterou.

O TPI emitiu um mandado de captura contra Putin em março de 2023 pelo seu alegado papel na deportação sistemática de crianças ucranianas para a Rússia, o que impôs restrições consideráveis à capacidade de viajar do líder russo.

Putin vangloriou-se ainda sobre o papel do grupo BRICS, formado por nove países, na economia mundial, afirmando que o seu PIB conjunto ultrapassa os 60 biliões de dólares.

“O PIB conjunto do grupo ultrapassa os 60 biliões de dólares, enquanto a sua quota na economia mundial excede a do G7 e continua a crescer”, afirmou o chefe do Kremlin no Fórum Empresarial dos BRICS em Moscovo.

“O mercado internacional não pode sobreviver sem os BRICS, incluindo no domínio da tecnologia, como a inteligência artificial. Esta é a mudança mais tangível. É natural. O mundo está sempre a mudar. Novos líderes surgem”, disse o líder russo.

Segundo Putin, o crescimento económico dos membros dos BRICS “dependerá cada vez menos de influências ou interferências externas”, o que significa “soberania económica” e aumenta consideravelmente o potencial do grupo.

“O BRICS não é contra ninguém. O BRICS não é um grupo antiocidental. É apenas um grupo não-ocidental”, adiantou.

De acordo com Putin, mais de 30 países demonstraram interesse em aderir ao bloco, mas o Kremlin afirmou que, para já, o grupo não vai aceitar mais países membros, mas sim Estados associados.

“Estamos atualmente a trabalhar numa nova categoria de ‘Parceiros BRICS’ e precisamos de um consenso. Teremos o cuidado de nos guiar por dois princípios: primeiro, o multilateralismo e, segundo, a eficiência da organização. Ao ampliar o número de países, não devemos perder a agilidade do bloco e é isso que vai orientar os nossos próximos passos”, afirmou.

Durante a cimeira de Kazan, que terá lugar de 22 a 24 de outubro, os líderes dos países membros deverão definir os critérios para que outras nações possam participar nessa qualidade.

Durante a reunião, o Brasil assumirá a presidência dos BRICS por um ano, a partir de 01 de janeiro de 2025.

A Turquia, o Azerbaijão, Cuba e a Venezuela já manifestaram oficialmente o seu interesse em aderir aos BRICS.

O Brasil, a Rússia, a Índia e a China criaram o grupo BRICS em 2006, tendo a África do Sul aderido em 2010, acrescentando a letra “S” ao acrónimo.

Entretanto, em 2024, o agrupamento passou a incluir mais quatro membros: Egito, Irão, Emirados Árabes Unidos e Etiópia.

A Arábia Saudita, por sua vez, está a ponderar a sua participação no bloco como membro de pleno direito, uma situação que poderá ser esclarecida durante a reunião de Kazan.

No encontro, deverão ser discutidos os avanços nas negociações para a adoção de uma moeda alternativa ao dólar no comércio entre os membros do bloco e a criação da categoria de “países parceiros”.

Questões como a guerra no Médio Oriente também deverão ser abordadas mas o conflito na Ucrânia não estava na agenda.

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