Problema da imigração em Portugal visto lá fora: da ‘pequena Bangladesh’ ao porco no espeto

Jornal espanhol ‘ABC’ destacou os problema vividos na capital portuguesa, em particular perto da Praça do Martim Moniz

Francisco Laranjeira
Julho 21, 2025
16:21

Todos os caminhos vão dar a Roma, mas em Lisboa, todos os imigrantes do Bangladesh acabam na Rua do Benformoso, junto à famosa Praça do Martim Moniz. É desta forma que o jornal espanhol ‘ABC’ começou a reportagem sobre a imigração em Portugal, com referência a uma “espécie de centro de acolhimento onde encontram compatriotas e aprendem a sobreviver: como encontrar um lar, trabalhar e obter uma autorização de residência, o que muitas vezes abre as portas à Europa”.

Segundo a publicação do país vizinho, o Martim Moniz, “embora seja tradicionalmente uma zona de fusão cultural e religiosa, nos últimos anos muitos residentes têm-se queixado do aumento descontrolado da população estrangeira”.

“Percorrer a Rua do Benformoso é como sair de Portugal e aterrar em Daca: é raro ver um português e ainda mais raro encontrar uma mulher. Estima-se que existam mais de 60 mil bangladechianos no país — cerca de 20 mil só na capital —, além de indianos e paquistaneses. A maioria é muçulmana, pelo que existem muitas lojas que não vendem carne de porco e restaurantes onde se paga uma taxa fixa mensal de cerca de 100 euros por pessoa para todas as refeições”, indicou o jornal espanhol.

Os cidadãos do Bangladesh, apontaram, “vivem em condições de sobrelotação, por vezes mais de 25 por apartamento, em condições precárias e cozinhando com várias botijas de gás ao mesmo tempo, o que representa um perigo. O lixo acumula-se em corredores estreitos e casas com paredes descascadas, que precisam de uma demão de tinta há muito tempo”, apontou, lembrando que as autoridades portugueses referiram ter “registado até 900 pedidos de residência para a mesma morada”.

“Bom dia”, “boa tarde” e “tudo bem?”: poucos aprendem a falar português porque estas expressões bastam para trabalhar na Uber como estafetas de comida ou guias de tuk-tuk, sendo que muitas vezes falham a história de Portugal quando a contam aos turistas.

“Os que não se fixam em Lisboa mudam-se para a costa alentejana, onde trabalham de sol a sol em estufas de amoras e framboesas. Dormem em armazéns sem água canalizada, em colchões partilhados pelos quais pagam até 150 euros por mês. Uns nem sequer têm contrato, outros não recebem por todas as horas trabalhadas. Chegam quase todos endividados: mais de 15.000 euros para entrar em Portugal, que vão pagando aos poucos, descontados nos salários”, referiu o jornal espanhol.

“Em abril último, para celebrar o fim do Ramadão, mais de 4.000 muçulmanos, todos homens, reuniram-se na Praça do Martim Moniz, numa iniciativa organizada pelo Centro Islâmico do Bangladesh”, lembrou o ‘ABC’. O que não foi aceite pela extrema-direita portuguesa.

“Para celebrar o 51º aniversário do 25 de Abril, o partido de extrema-direita Ergue-te e o Movimento Habeas Corpus organizaram uma manifestação sob o lema ‘Vinde celebrar Portugal’. Planeavam assar um porco na brasa na Praça Martin Moniz, frequentada diariamente por milhares de imigrantes muçulmanos, que consideram impuro o consumo de carne de porco”, indicou. “A polícia proibiu a manifestação, alegando ‘risco de desordem pública’, e os organizadores defenderam-se alegando que estavam apenas a seguir ‘uma tradição portuguesa'”.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.