Porque é que não deve levar seixos e pedras da praia para casa (para além de potenciais multas)
O Conselho de Cumberland, localizado no norte de Inglaterra, anunciou recentemente uma medida que tem gerado controvérsia: a imposição de multas até mil libras (cerca de 1200 euros) para quem for apanhado a retirar seixos e pedras das praias locais. Embora a decisão tenha frustrado muitos visitantes, a preservação dos ecossistemas costeiros e a prevenção da erosão são motivos cruciais para esta regulamentação, conforme indicam diversas investigações.
Visitar a praia é uma atividade que traz lembranças felizes para muitos, desde a infância. No entanto, é importante lembrar que a areia e os seixos das praias não são apenas elementos decorativos, mas sim partes essenciais de habitats que abrigam diversas espécies e que fornecem uma barreira natural contra a força das ondas do mar, protegendo casas e infraestruturas costeiras.
Muitas pessoas costumam levar um ou dois seixos como lembrança, ou até mesmo encher sacos para decorar os jardins. Existem ainda entusiastas que se encantam com a variedade de seixos em termos de cores, formas e até fósseis, resultantes da ação de antigos glaciares ou da erosão das falésias próximas.
Contudo, é pouco conhecido que retirar materiais das praias é ilegal no Reino Unido, de acordo com o Coastal Protection Act de 1949, destaca o The Conversation. Esta legislação foi implementada para conter a perda histórica de grandes quantidades de sedimentos, que eram extraídos das praias para serem usados como materiais de construção.
Certos trechos de praias de seixos em Inglaterra estão protegidos legalmente devido às suas qualidades ambientais. A Natural England designa estas áreas pelos habitats que criam e pelas espécies que dependem delas. Para os residentes próximos destas praias, a principal vantagem dos seixos é a sua capacidade de reduzir a erosão costeira e as inundações.
O volume de sedimentos na praia é essencial para a sua eficácia na mitigação desses riscos. Quanto maior a quantidade de seixos e sedimentos na praia, melhor ela consegue absorver a energia das ondas. A remoção excessiva de seixos, areia ou outros sedimentos diminui a capacidade da praia de atuar como uma barreira natural contra inundações e erosão.
Este volume de sedimentos muda naturalmente ao longo do ano, conforme a praia se ajusta às variações das ondas nas diferentes estações. As ondas transportam os seixos para dentro e fora da praia, organizando-os em diferentes regiões. Durante as tempestades de inverno, ondas mais fortes podem mover sedimentos maiores para a parte superior da praia, formando uma crista íngreme de seixos conhecida como berm.
A berm na parte superior da praia é frequentemente a primeira linha de defesa natural contra tempestades, absorvendo e dissipando a energia das ondas. Isso reduz o risco de as ondas ultrapassarem a praia ou corroerem muros de proteção e falésias.
Embora um indivíduo retirando alguns seixos possa não parecer um grande problema, o efeito cumulativo de muitas pessoas fazendo o mesmo pode ser significativo. A remoção dos seixos pode perturbar os processos naturais da praia e desequilibrar o seu estado dinâmico.
Dada a importância de manter os sedimentos na praia para proteção contra inundações e erosão, há pesquisas contínuas para entender melhor como as praias de seixos respondem às ondas e tempestades. Esta investigação é essencial para avaliar a eficácia de praias de seixos artificiais na mitigação dos riscos de erosão e inundações costeiras.
A monitorização do transporte de sedimentos é fundamental para o avanço desta pesquisa, com técnicas emergentes e de ciência cidadã sendo usadas para rastrear os sedimentos erodidos da praia.
Num contexto de mudanças climáticas, onde os riscos de inundações e erosão são cada vez mais intensos e frequentes, é crucial manter os sedimentos nas praias e permitir que elas desempenhem o seu papel natural de proteção costeira e habitat. Pedir às pessoas que não levem seixos das praias pode parecer uma medida pequena, mas é vital para ajudar a preservar a eficácia das praias na proteção das nossas costas.