Porque é que as guerras na Ucrânia e em Gaza são incomparáveis?

A realidade internacional fica, todos os dias, invariavelmente marcada por notícias relativamente a dois dos maiores conflitos que afetam o mundo neste momento: a invasão da Rússia à Ucrânia, e a guerra em Gaza entre Israel e o Hamas. Mas os dois confrontos não podiam ser mais diferentes, ainda que muitos tentem traçar paralelos.

Aliás, até o Kremlin tem usado a comparação: “Imagine-se o que o Ocidente teria dito se a Rússia tivesse feito isto na Ucrânia”, dizia um propagandista russo recentemente na TV estatal.

A declaração não e falsa apenas porque Putin, com um mandado de detenção internacional por crimes de guerra emitido contra si, ter feito isso e muito mais em centenas de aldeias, vilas e cidades ucranianas, numa escala territorial maior, mas também porque as duas guerras são incomparáveis.

No caso da Ucrânia, trata-se de um país soberano que enfrenta uma invasão em larga escala, por parte de uma potência com poderio nuclear e que não esconde o seu objetivo de anexar ilegalmente tantos territórios ucranianos quanto possível ou fazer cair os poderes democraticamente eleitos, para os substituir por ‘fantoches’ do Kremlin.

Já em no caso de Israel e Hamas, a questão é mais complexa, ou não se tratasse de um conflito profundamente enraizado no tempo. Remonta a 1948, após a Segunda Guerra Mundial e criação do Estado de Israel – isto se não quisermos ir ao tempo das Cruzadas, ou até mais atrás…) – e deste então, recorda o El Mundo, o território (incluindo Gaza e território palestiniano) passou por ocupações, intifadas, guerras regionais, sem que a paz duradoura se instalasse.

Outra diferença é o facto de Kiev enfrentar um dos mais fortes e poderosos exércitos do mundo, o russo, apoiado em ajuda ocidental, no que respeita a apoio financeiro, treino de tropas, fornecimento de armas, munições, material e equipamento de guerra. Seriam estas duas realidades a equilibrar o conflito, até ao impasse que hoje se observa (numa altura em que o conflito está prestes a cumprir 3 anos).

Por outro lado, Israel tem um exército exponencialmente mais capaz, poderoso e bem-equipado do que as milícias islâmicas do Hamas. Enquanto um lado conta com última tecnologia de guerra e grandes apoiantes e fornecedores internacionais, do outro ataca-se com recurso a armamento antigo e recondicionado, fornecido alegadamente pelo Irão, de restos da guerra no país deixados pelas forças russas, mas também pela Coreia do Norte.

Também diferem neste aspeto: na Ucrânia ambos os lados combatem no mesmo território enquanto no caso de Israel-Hamas há um Estado que combate um grupo armado, que esta limitado lança-foguetes e armas de curto alcance.

Assinalam-se ainda diferenças geográficas e estratégias militares. Na Ucrânia, o conflito estende-se por 800 quilômetros, com áreas devastadas e a necessidade de reconstrução após operações militares intensas. Em contraste, Gaza é uma faixa estreita ( de 40 quilómetros de comprimento e 10 de largura) e densamente povoada, propícia a grandes perdas humanas em ataques israelitas contra o Hamas.

A componente religiosa acentua a complexidade do conflito, envolvendo locais sagrados do Judaísmo, Islamismo e Cristianismo, diferenciando-o da relação entre Ucrânia e Rússia, que compartilham a fé ortodoxa cristã como base.

As estratégias militares divergem: a Ucrânia e a Rússia enfrentam batalhas intensas de tanques e infantaria, enquanto Israel opta por dividir e atacar Gaza para limitar a capacidade ofensiva do Hamas, destruindo as redes de túneis e áreas estratégicas.

Os bombardeamentos indiscriminados em Gaza causaram mortes e deslocamentos em massa, enquanto na Ucrânia, ataques aéreos russos afetam cidades, apesar dos esforços para proteger a população civil, resultando em vítimas quase diárias.

Ambos os conflitos impactam a população civil, mas de maneiras distintas: a Ucrânia se defende dos ataques aéreos russos, enquanto Gaza enfrenta a devastação concentrada dos bombardeamentos das Forças de Defesa de Israel.

Israel e Hamas acusam-se mutuamente de usar estratégias prejudiciais aos civis, enquanto na Ucrânia, a Rússia bombardeia cidades sem reconhecimento público de alvos civis.

As forças israelitas não dispararam mais bombas do que Putin, mas a dimensão temporal dos conflitos e diferente, mas o fogo lançado contra Gaza é muito mais concentrado, pelo que com efeitos mais destrutivos e letais.

Os conflitos, apesar de todas diferenças, compartilham algumas coisas, de facto: as dúvidas sobre o prolongamento da violência e a falta de uma resolução imediata, com possíveis consequências políticas para líderes como Putin e Netanyahu, cujas ações podem gerar novos ciclos de violência.

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