Ponte energética entre continentes: Azerbaijão, Uzbequistão e Cazaquistão lançam corredor verde para a Europa

Três países da Ásia Central — Azerbaijão, Uzbequistão e Cazaquistão — oficializaram a criação de uma aliança energética estratégica com o lançamento do Green Corridor Union LLC, uma empresa conjunta registada em Bacu que visa exportar energia renovável excedente da região para a Europa.

Pedro Gonçalves
Julho 15, 2025
14:55

Três países da Ásia Central — Azerbaijão, Uzbequistão e Cazaquistão — oficializaram a criação de uma aliança energética estratégica com o lançamento do Green Corridor Union LLC, uma empresa conjunta registada em Bacu que visa exportar energia renovável excedente da região para a Europa. Este novo corredor energético verde poderá tornar-se o primeiro elo transcontinental de eletricidade limpa entre o mar Cáspio e a União Europeia.

A iniciativa, que representa mais do que uma simples parceria energética, marca uma mudança geopolítica e económica que reforça a cooperação inter-regional, a sustentabilidade e a diversificação das fontes energéticas. A Europa, cada vez mais comprometida com metas de neutralidade carbónica, acompanha com atenção este novo eixo energético entre Leste e Oeste.

O projeto nasceu da declaração conjunta assinada pelos presidentes dos três países durante a COP29, em Bacu, onde foi assumido o compromisso de cooperação estratégica no domínio da energia verde. A poucos dias do arranque oficial da cimeira climática, os operadores nacionais Azerenerji (Azerbaijão), National Electric Grids (Uzbequistão) e KEGOC (Cazaquistão) assinaram os documentos fundadores da empresa, agora liderada por Farhad Mammadov.

O corredor energético será formado por uma complexa cadeia de infraestruturas de alta tensão, ligando as regiões ricas em sol e vento da Ásia Central aos mercados europeus. A energia percorrerá o Cazaquistão, cruzará o mar Cáspio por cabo submarino, passará pelo Azerbaijão e pela Geórgia, até chegar à Roménia — onde será integrada na rede elétrica europeia.

“A unificação dos nossos sistemas energéticos é um passo estratégico e histórico”, afirmou o ministro da Energia do Azerbaijão, Parviz Shahbazov. “Este é o início do Corredor de Energia Verde do Cáspio — o primeiro do seu género”. Shahbazov acrescentou que já foram assinados memorandos de entendimento com os parceiros e que se prevê a assinatura de um Acordo Intergovernamental durante a COP29. O Azerbaijão, com 8,4 GW de capacidade energética — dos quais mais de 21% provêm de fontes renováveis — exportou 1,2 mil milhões de kWh nos primeiros nove meses de 2024.

O Uzbequistão, por sua vez, está em plena transformação energética. O ministro da Energia, Jurabek Mirzamakhmudov, revelou que o país espera produzir mais de 135 mil milhões de kWh até 2030, com 10 a 15 mil milhões destinados à exportação, sobretudo provenientes de projetos solares e eólicos. Em entrevista à Euronews, Mirzamakhmudov destacou o crescimento exponencial do investimento estrangeiro: de 1,2 mil milhões de euros em 2023 para mais de 4,23 mil milhões previstos até ao final de 2024.

Kazakhstan vê o corredor como uma oportunidade estratégica para afirmar a sua liderança regional na transição verde. “Este é um dos projetos mais importantes para o nosso sector energético”, declarou o ministro da Energia, Erlan Akkenzhenov. “Permite-nos capitalizar o nosso potencial renovável e estabelecer uma rota de exportação sustentável para a Europa.” O país conta com o apoio do Banco Asiático de Desenvolvimento e do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, que já iniciaram estudos de viabilidade.

Para além da viabilidade técnica e logística — apontada como clara por Akkenzhenov —, o projeto terá de ultrapassar desafios complexos: a instalação de cabos submarinos exigirá engenharia de ponta e investimentos de vários milhares de milhões de euros. A coordenação política entre os países envolvidos e com os parceiros europeus será igualmente essencial para garantir a estabilidade do corredor.

A União Europeia, por seu lado, vê na iniciativa uma oportunidade para reforçar a segurança energética e cumprir os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e da estratégia Global Gateway, que visa investir em infraestruturas sustentáveis em regiões parceiras. As três nações já manifestaram o desejo de atrair financiamento e know-how europeu para impulsionar o projeto.

Com os estudos técnicos em curso e a estrutura legal já estabelecida, o Green Corridor Union LLC representa um novo marco nas ligações energéticas euro-asiáticas. Mais do que apenas uma rede de cabos de alta tensão, trata-se de um símbolo de integração entre sustentabilidade, inovação tecnológica e diplomacia energética, com potencial para alterar profundamente o mapa energético do continente europeu.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.