Os segredos dos mísseis ATACMS: O que são, como funcionam e que uso vai fazer a Ucrânia destas armas fornecidas pelos EUA?

Num movimento que marca uma mudança significativa na política norte-americana, a administração Biden autorizou pela primeira vez o uso de mísseis balísticos fornecidos pelos Estados Unidos para ataques em território russo, de acordo com declarações de oficiais americanos. Os mísseis, conhecidos como Army Tactical Missile Systems (ATACMS), serão inicialmente utilizados contra forças russas e norte-coreanas, apoiando as operações ucranianas na região de Kursk, no oeste da Rússia.

Características e capacidades dos mísseis ATACMS

Produzidos pela Lockheed Martin, os mísseis ATACMS são projéteis balísticos de curto alcance que podem atingir alvos a até 306 quilómetros, dependendo do modelo. Cada míssil transporta uma carga explosiva de cerca de 170 quilos. A trajetória balística permite que atinjam altitudes elevadas antes de regressarem ao solo a velocidades extremamente altas, aumentando a eficácia contra alvos de grande valor.

Os ATACMS podem ser lançados de sistemas móveis HIMARS, fornecidos pelos Estados Unidos à Ucrânia, bem como de lançadores M270 mais antigos, enviados pelo Reino Unido e Alemanha. Apesar de frequentemente serem chamados de mísseis de longo alcance, os ATACMS têm um alcance inferior ao de mísseis de cruzeiro ou intercontinentais.

Um pedido antigo de Zelensky

Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem apelado ao fornecimento de armamento capaz de atingir alvos em território russo. Embora os Estados Unidos tenham começado a fornecer ATACMS no ano passado, a administração Biden até agora tinha restringido o seu uso dentro da Rússia, receando uma possível escalada do conflito por parte de Vladimir Putin. “Estamos a tentar evitar a Terceira Guerra Mundial”, afirmou Biden anteriormente, refletindo as preocupações da Casa Branca.

Além disso, havia resistência dentro do Pentágono, com oficiais alertando para o impacto de ceder mísseis de fornecimento limitado. Apesar disso, Zelensky enfatizou que os ATACMS são cruciais para o sucesso de contraofensivas ucranianas, assegurando que não têm intenção de atacar civis ou cidades russas.

Em resposta a estas restrições, Zelensky sugeriu recentemente que a limitação tinha sido levantada, sem confirmar diretamente. Numa mensagem à nação, declarou: “Coisas assim não são anunciadas. Os mísseis falarão por si mesmos.”

Possibilidades estratégicas e impacto militar

O principal objetivo do uso dos ATACMS será atingir concentrações de tropas russas e norte-coreanas, equipamentos militares, depósitos de munições e linhas de abastecimento nas profundezas da Rússia. Tais ataques poderiam enfraquecer as forças russas e norte-coreanas que se preparam para uma grande ofensiva com cerca de 50 mil soldados, visando recuperar territórios na região de Kursk, ocupados pela Ucrânia em agosto.

Embora não esteja claro quantos mísseis restam no arsenal ucraniano, estima-se que o fornecimento inicial incluía várias centenas de unidades destinadas a operações em territórios ocupados, incluindo a Crimeia. No entanto, os ATACMS podem ser um recurso crucial para equilibrar o campo de batalha, particularmente num momento em que a Rússia intensifica ataques a infraestruturas energéticas e posições ucranianas.

Histórico de uso em combates

Os ATACMS já demonstraram a sua eficácia em combates anteriores. Durante a Operação Tempestade no Deserto, em 1991, os Estados Unidos lançaram cerca de 30 destes mísseis contra lançadores de mísseis balísticos iraquianos e sistemas de defesa aérea. Durante a invasão do Iraque em 2003, mais de 400 mísseis foram utilizados, muitos equipados com submunições explosivas.

Posteriormente, o Pentágono restringiu o uso de munições cluster, devido ao elevado número de falhas que deixavam explosivos inertes no campo de batalha, representando um perigo para civis. Como solução, muitos ATACMS foram atualizados com uma única ogiva explosiva.

Reações e possíveis implicações

Esta decisão da administração Biden ocorre nos meses finais do mandato presidencial, num momento em que Donald Trump, recentemente eleito, promete buscar um fim rápido para a guerra na Ucrânia. A autorização para o uso dos ATACMS pode ser vista como um esforço para influenciar a abordagem da futura administração Trump em relação ao conflito.

Além disso, aliados tradicionais dos EUA, como o Reino Unido e a França, já sinalizaram apoio à decisão de permitir o uso de armamento ocidental em território russo. Este alinhamento internacional reforça a posição de dissuasão contra Moscovo, mas também aumenta a tensão global. Putin já ameaçou considerar tais ataques como um agravamento significativo, sugerindo possíveis retaliações.

Ao mesmo tempo, o conflito entra numa nova fase, com Kiev a ganhar ferramentas para expandir operações ofensivas e Moscovo a intensificar a retórica sobre uma escalada. As próximas semanas serão decisivas, tanto no campo de batalha como nas relações internacionais, com a transição política nos Estados Unidos a adicionar mais incertezas ao futuro do conflito.

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