Operações de espionagem da Rússia em “nível sem precedentes”. Putin prepara-se para “confronto direto com a NATO”, alerta chefe dos serviços de inteligência da Alemanha
As operações encobertas da Rússia atingiram um patamar de sofisticação e intensidade nunca antes visto, segundo advertiu Bruno Kahl, chefe do Serviço de Inteligência Estrangeira da Alemanha (BND), numa audiência parlamentar realizada esta segunda-feira. Durante a sessão, os principais responsáveis pelos serviços de inteligência alemães sublinharam os riscos crescentes das atividades de espionagem russa e as preparações para um eventual conflito militar com a NATO.
Kahl afirmou que o Kremlin está a intensificar o uso de medidas híbridas e encobertas, com o objetivo claro de dividir o Ocidente e enfraquecer a capacidade de defesa da Europa, ao mesmo tempo que reforça o seu poder militar para um possível ataque futuro. “A disposição de Moscovo para utilizar essas táticas atingiu um nível sem precedentes”, disse o responsável, acrescentando que “a confrontação militar direta com a NATO passou a ser uma opção para Moscovo”.
De acordo com Kahl, o principal objetivo do Presidente russo, Vladimir Putin, é isolar os Estados Unidos da Europa e restabelecer as fronteiras da NATO tal como eram no final dos anos 90, criando assim uma nova ordem mundial dominada pela Rússia. “Putin continuará a testar os limites do Ocidente e a intensificar o confronto,” advertiu o chefe da BND. Ele acrescentou que, até ao final desta década, as forças armadas russas poderão estar em condições, tanto em termos de pessoal como de equipamento, de lançar um ataque direto contra a NATO.
Kahl destacou ainda que, desde o início da guerra total contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, o Kremlin tem aumentado de forma significativa o seu investimento nas forças armadas, muito acima do que os países europeus estão a gastar. “O foco deste aumento de poder militar está, obviamente, na direção estratégica ocidental, ao longo da fronteira leste da NATO,” disse Kahl, referindo-se à crescente presença militar russa nas regiões fronteiriças com os países da aliança.
Thomas Haldenwang, chefe do Gabinete Federal para a Proteção da Constituição, a agência de inteligência interna da Alemanha, corroborou as preocupações de Kahl, afirmando que a Rússia tem exibido um comportamento cada vez mais agressivo no que diz respeito às suas operações de espionagem e sabotagem em território alemão. Haldenwang alertou que as atividades de espionagem russa aumentaram “tanto quantitativa como qualitativamente”, com Moscovo a demonstrar uma crescente disposição para pôr vidas humanas em risco para alcançar os seus objetivos.
“O serviço de inteligência russo tem intensificado as suas operações aqui na Alemanha, e não se trata apenas de espionagem tradicional, mas também de ações de sabotagem que colocam em perigo a nossa segurança interna,” afirmou Haldenwang. Ele destacou que as ações russas são cada vez mais sofisticadas e ousadas, levando a um aumento significativo das ameaças que o país enfrenta.
Uma das evidências mais claras da crescente ameaça russa foi revelada no início deste ano, quando as autoridades alemãs e norte-americanas frustraram uma conspiração russa para assassinar o CEO da Rheinmetall, uma das principais fabricantes de armas da Alemanha. A Rheinmetall tem desempenhado um papel crucial no apoio militar alemão à Ucrânia, fornecendo equipamentos bélicos essenciais, o que a tornou um alvo estratégico para Moscovo.
De acordo com informações divulgadas pela CNN International, o plano russo foi cuidadosamente arquitetado, mas acabou por ser descoberto a tempo, evitando o que poderia ter sido um golpe sério contra a indústria de defesa alemã. Este incidente ilustra bem o nível de ameaça que a Rússia representa atualmente para a Europa, especialmente em países que apoiam a Ucrânia na sua defesa contra a invasão russa.