Miocardite, prurido, epilepsia: Portugueses com sequelas da vacina da Covid-19 processam o Estado

Vários doentes em Portugal estão a processar o Estado, alegando sequelas graves associadas à vacinação contra a Covid-19. Casos de miocardite, prurido e até crises de epilepsia são algumas das queixas que alimentam ações judiciais por parte de cidadãos que se sentem lesados e não encontram resposta nos canais de apoio médico. As vacinas, outrora promissoras como caminho para o fim da pandemia, são nestes casos apontadas como a causa de problemas que mudaram radicalmente a vida de muitos.

Paulo Almeida, de 57 anos, é um dos queixosos. Com uma carreira de mais de duas décadas na indústria farmacêutica, Paulo viu a sua vida transformada após tomar a vacina da Janssen em 2021. Reformado com um grau de incapacidade de 71%, que atribui à vacinação, Paulo descreve a sua experiência como “devastadora”. “O cansaço foi só o primeiro sinal, mas tudo foi piorando”, explica ao Correio da Manhã (CM). A sofrer de miocardite e com prurido constante, Paulo vive agora isolado da sua vida normal. “Não posso tomar banho nem pôr uma gota de água no corpo, ou fico a sofrer de ataques por uma hora”, afirma, descrevendo um quotidiano “quase como um homem das cavernas”.

Isabel Faria, empresária de 53 anos, é outra das pessoas afetadas. Após a vacinação com a Janssen, Isabel enfrenta desafios constantes, incapazes de serem superados com a rotina anterior. “Tem sido um inferno desde então, a vacina estragou-me a vida”, lamenta. Com dores severas, Isabel depende de doses diárias de morfina e, nos dias mais críticos, nem consegue sair da cama. “Preciso de ajuda para tudo, e há dias em que até me levam ao colo para me mover.” A sua condição limita drasticamente a liberdade de movimentos que antes fazia parte do seu trabalho, que exigia frequentes viagens e contacto com clientes.

Já Pedro Gonçalves, de 49 anos, que tomou a vacina da Pfizer, enfrenta um diagnóstico inesperado e assustador: epilepsia. Pedro descreve uma vida anteriormente saudável, agora marcada pela incerteza de ataques epiléticos que o impedem de praticar desporto ou de realizar atividades sem medo. “Tenho medo de sair para correr e sofrer um ataque. Isto acontece a qualquer momento”, afirma, mencionando que os ataques, apesar de controlados com medicação, alteraram permanentemente o seu dia-a-dia. Pedro chegou a estar 16 dias em coma induzido e foi aí que a confirmação médica chegou: a epilepsia seria um efeito adverso raro da vacinação.

Para estes três doentes, a decisão de avançar com processos judiciais contra o Estado representa um passo necessário em busca de reconhecimento e compensação pelos problemas enfrentados. “Sinto-me traído pelo sistema, por quem me devia proteger”, afirma Paulo, que, como Isabel, pretende ainda processar o Infarmed e as empresas farmacêuticas responsáveis. Isabel justifica o seu processo com a necessidade de responsabilização das autoridades sanitárias. Pedro, por sua vez, espera obter alguma justiça pelos impactos que considera irreparáveis.

Em resposta aos pedidos de esclarecimento do Correio da Manhã, a Pfizer reiterou que a sua vacina “apresentou um perfil de segurança favorável em todas as faixas etárias e foi fundamental para reduzir hospitalizações e mortes pela Covid-19”. A Johnson & Johnson, responsável pela vacina Janssen, indicou que dispõe de um sistema de farmacovigilância para monitorizar reações adversas e reduzir os riscos para os utilizadores. O Ministério da Saúde, no entanto, não respondeu aos pedidos de comentário.

Entre os profissionais de saúde, há também quem questione a segurança e os efeitos comunicados das vacinas contra a Covid-19. Gabriel Branco, médico de Neurorradiologia, considera que as complicações verificadas nos primeiros dois anos da campanha de vacinação foram “significativamente superiores às de outras vacinas ao longo dos últimos 10 anos”. Branco critica a Direção-Geral da Saúde (DGS) pela comunicação que comparou a segurança da vacina com a “água”, afirmando que casos de miocardite, embora raros, são uma realidade documentada.

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