Irão inicia “guerra contra as mulheres” e lança nova força policial para garantir uso do véu islâmico

A crescente pressão do governo iraniano sobre as mulheres atingiu um novo patamar com o lançamento de uma nova unidade policial, denominada “Safirane Mehr” ou “Embaixadores de Carinho”, que integra a Guarda Revolucionária iraniana. Esta força especializada tem como missão primordial garantir o cumprimento rigoroso do uso do véu islâmico, ou hijab, em locais públicos de Teerão e em outras cidades do país.

O general Hassan Hassanzadeh, comandante da Guarda Revolucionária de Teerão, afirmou que esta ação visa combater a “degeneração das famílias e especialmente dos jovens”, alegadamente incentivada por forças externas.

Hassanzadeh acusa os Estados Unidos e Israel de investirem recursos significativos em meios de comunicação, redes sociais e mercenários, visando “desafiar os valores religiosos iranianos e promover o desafio ao uso do véu”.

Esta intensificação na fiscalização e aplicação da lei surge após a recente atuação da Polícia da Moral, que desde o dia 13 de abril tem patrulhado as ruas do Irão no âmbito do plano “Luz”. Este plano já resultou em várias detenções de mulheres que não cumpriam adequadamente o uso do véu.

A resistência civil ao uso do véu ganhou força após a trágica morte de Mahsa Amini em setembro de 2022. Amini foi detida por uma infração relacionada ao uso do véu, desencadeando protestos que culminaram na morte de 500 pessoas. Desde então, o regime tem intensificado esforços para reforçar o uso do véu através de métodos coercivos e de propaganda estatal.

O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, intensificou a retórica contra as mulheres iranianas ao instá-las publicamente a “obedecerem” e a cobrirem o cabelo com o véu islâmico. Esta declaração foi acompanhada de ameaças de detenções, resultando na prisão de dezenas de mulheres nos últimos meses.

A jornalista e estudante universitária Dina Ghalibaf tornou-se um símbolo da resistência ao compartilhar nas redes sociais sua experiência traumática de detenção e agressão com um taser por não cumprir o uso do véu. Posteriormente, Ghalibaf foi transferida para a notória prisão de Evin em Teerão, onde está detida a laureada com o Prémio Nobel da Paz, Narges Mohammadi.

Mohammadi denunciou a situação precária das mulheres no Irão, afirmando que as autoridades transformaram as ruas do país “num campo de batalha contra as mulheres”. Ela criticou as táticas das autoridades, descrevendo-as como uma tentativa desesperada de aliviar a ilegitimidade e a perda de autoridade do regime através do uso da intimidação e do medo.

O movimento de protesto ganhou força nas redes sociais com o hashtag #guerracontraasmulheres, onde milhares de mulheres compartilham vídeos, relatos e experiências pessoais de repressão nesta nova onda de perseguição estatal.