Imprensa internacional vê lisboetas e nómadas digitais às ‘turras’. Aumento do custo de vida faz estrangeiros deixar Portugal

A cidade de Lisboa, que foi já visto como um paraíso para nómadas digitais devido aos arrendamentos baratos, invernos amenos, uma população jovem e um cenário social vibrante, enfrenta agora uma crise que está a afetar tanto os moradores locais como os nómadas digitais. A entrada de aproximadamente 16.000 pessoas a trabalhar remotamente, somado aos 6,5 milhões de turistas anuais, começou a gerar tensões na capital portuguesa.

Uma das causas desse mal-estar é a disparidade salarial, conta a ‘Euronews’. Para se qualificar para o visto de nómada digital, é necessário ganhar pelo menos 3.280 euros por mês, um valor muito superior ao salário médio dos portugueses, que é de 1.000 euros por mês. Esse aumento de poder aquisitivo entre os nómadas digitais tem contribuído significativamente para a inflação, afetando diretamente o custo de vida em Lisboa.

Para além disso, Portugal enfrenta uma das crises imobiliárias mais graves da Europa, com preços de imóveis que dobraram desde 2018. Os preços dos arrendamentos também dispararam: um apartamento de um quarto em Lisboa custa, em média, 1.200 euros por mês, um aumento de 17% em relação ao ano anterior. Os nómadas digitais pagam frequentemente mais de 2.500 euros por mês por apartamentos de curta duração no verão, enquanto uma família de quatro pessoas gasta entre 2.100 e 3.000 euros.

Portugal também possui um dos menores salários mínimos da Europa, 820 euros por mês, muito inferior aos 2.146 euros da Irlanda ou aos 2.571 euros de Luxemburgo. Esse desequilíbrio salarial tem sido um fator significativo na crise económica enfrentada pelos residentes de Lisboa.

A resposta das autoridades portuguesas não tardou. O governo decidiu acabar com o regime de Residência Fiscal Não Habitual (NHR), que oferecia uma taxa fixa de imposto de rendimento de 20%, a partir de janeiro de 2024.

Para combater a crise imobiliária, o programa Mais Habitação, aprovado em 2023, visa aumentar a disponibilidade de unidades de arrendamento de longo prazo e proteger os inquilinos contra aumentos abusivos. As novas licenças de Airbnb ou de arrendamento de curta duração em áreas costeiras também foram suspensas.

Enquanto Portugal enfrenta desafios para equilibrar o influxo de nômades digitais e a proteção dos seus residentes locais, outras cidades europeias estão prontas para acolher esses trabalhadores remotos com incentivos atrativos. Cidades como Budapeste, Tallinn e Bucareste oferecem vistos para nômades digitais e um custo de vida significativamente mais acessível do que Lisboa.

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