Formado acordo de coligação na Lituânia apesar de preocupações com antissemitismo

Três partidos lituanos fecharam hoje um acordo de coligação, apesar das críticas sobre uma das formações, o movimento populista Alvorada no Neman, cujo líder está a ser julgado por alegadas declarações antissemitas.

Os sociais-democratas classificaram-se em primeiro lugar nas eleições legislativas de outubro, derrotando os conservadores no poder, mas sem obter maioria.

A coligação reúne os sociais-democratas, a União Democrática “Em nome da Lituânia” e o Alvorada no Neman e terá uma maioria de 86 dos 141 mandatos do parlamento.

Por seu lado, o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, um antigo banqueiro apoiado pelos sociais-democratas, declarou hoje à imprensa que não irá nomear membros do partido Alvorada no Neman para o cargo de ministros e classificou a decisão de incluir os populistas na coligação como “um erro”.

“Deixei bem claro aos líderes do Partido Social-Democrata que não nomearei, e que eles não deverão sequer tentar nomear, candidatos do Alvorada no Neman”, afirmou, considerando a propagação de ideias antissemitas “impensável num mundo civilizado”.

“Eles podem tentar apresentar candidatos tecnocratas, mas não vejo quem, entre pessoas que se prezam, quisesse ver-se associado ao líder desse partido”, observou, acrescentando ser possível que ele crie “obstáculos à aplicação deste acordo de coligação”.

Nos termos do acordo, prevê-se que o Alvorada no Neman fique com três ministérios: Agricultura, Ambiente e Justiça.

O movimento Alvorada no Neman, que obteve 20 mandatos parlamentares, é liderado por Remigijus Zemaitaitis, que está a ser julgado por incitação ao ódio, depois de ter citado uma canção infantil antissemita sobre a morte de judeus, enquanto criticava ações israelitas na Cisjordânia.

Após a assinatura do acordo, os líderes da nova maioria procuraram tranquilizar a opinião pública, indicando que o documento inclui o compromisso de “combater o antissemitismo, a xenofobia e todas as formas de incitação ao ódio”.

Zemaitaitis expressou o seu apoio à luta contra o antissemitismo, dizendo à imprensa que “tais coisas não podem ser toleradas”.

O social-democrata Gintautas Paluckas, deputado e antigo vice-presidente da Câmara Municipal de Vilnius, assumirá o cargo de primeiro-ministro.

“Não há nem haverá antissemitismo no Governo”, asseverou, acrescentando que Zemaitaitis não ocupará qualquer cargo ministerial e que os sociais-democratas serão responsáveis pelos Negócios Estrangeiros e pela Defesa.

O acordo já foi alvo de fortes críticas no estrangeiro.

O senador norte-americano Ben Cardin, presidente da comissão de Negócios Estrangeiros do Senado, declarou no passado fim de semana que o Alvorada sobre o Neman “mina os valores fundamentais que unem as duas nações”.

Por seu lado, Paluckas afirmou ter falado com o presidente do Partido Social-Democrata alemão hoje de manhã e explicado a “situação factual”.

Após a nomeação e a posse do Governo, a Lituânia continuará a apoiar fortemente a Ucrânia.

“Apoiaremos totalmente a Ucrânia na sua vitória e na sua reconstrução”, lê-se no acordo.

Muitos dos 2,8 milhões de habitantes da Lituânia receiam que o Estado Báltico seja alvo de ataques, se Moscovo vencer a guerra contra a Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

Este ano, a Lituânia está a afetar 3,2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) à Defesa, muito acima do objetivo da NATO de 2%, e pretende aumentar esse orçamento para 3,5%.

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