“Fartos dos vampiros”: Professores criticam “inércia” do Governo para resolver a falta de docentes e ameaçam com novos protestos

O movimento Missão Escola Pública (MEP), composto por professores e profissionais da educação, criticou veementemente a resposta do Ministério da Educação, liderado por Fernando Alexandre, quanto à escassez de professores nas escolas públicas portuguesas. Acusando o Governo de “inércia” e de falta de medidas estruturais para resolver este problema, o MEP alerta para a urgência de se implementar soluções imediatas e estruturais, ameaçando mesmo recorrer a manifestações se não houver resposta.

Num comunicado enviado às redações, o MEP detalha um conjunto de propostas que considera essenciais para reverter a atual situação de falta de professores e estancar o descontentamento generalizado na classe. Entre as medidas defendidas estão a revisão das tabelas salariais, com valorização de todos os escalões e não apenas dos iniciais, e uma discussão ampla e imediata do Estatuto da Carreira Docente. O movimento propõe que esta revisão ocorra em colaboração direta com os sindicatos, para abordar questões que têm levado muitos professores a abandonar a profissão, incluindo o sistema de avaliação de desempenho docente (ADD), o modelo de gestão escolar, o excesso de burocracia, e a crescente indisciplina nas escolas. “O novo estatuto deverá ser implementado já no próximo ano letivo, uma vez que os problemas estão todos identificados,” sublinha o MEP.

Para o MEP, a solução não pode passar por sobrecarregar os professores que permanecem no sistema, considerando essa abordagem “uma completa ausência de noção do real, e de uma desumanidade alarmante.” O movimento realça que os professores, já exaustos, estão no seu direito de recusar horas extraordinárias e de usufruir do seu tempo de reforma sem que o Governo os pressione a assumir responsabilidades adicionais. “Colocar o ónus do suprimento das necessidades nos poucos professores que se encontram no sistema é de uma completa ausência de noção do real,” afirma o comunicado, apontando a insensibilidade das autoridades ao exigir mais dos professores que ainda estão no ativo.

O movimento Missão Escola Pública também rejeita categoricamente propostas que considera paliativas ou prejudiciais à qualidade do ensino, como a contratação de profissionais não qualificados, a redução da carga horária de disciplinas, o aumento do número de alunos por turma, e o alargamento do horário de trabalho dos professores. “Aceitar baixas qualificações para a docência e profissionais não qualificados para o efeito, alargar o horário de trabalho dos mesmos, reduzir a carga horária das disciplinas ou aumentar o número de alunos por turma também não podem ser a solução para o problema”, frisa o grupo.

O movimento, que reúne mais de 4 mil apoiantes, expressa um crescente descontentamento e uma sensação de desvalorização da Escola Pública, que descreve como estando votada “à morte” pelas políticas atuais. Manifestando-se contra o que chamam de “vampiros” e “falsos profetas,” os membros do MEP garantem que, caso o Governo continue sem agir, estão preparados para voltar às ruas em defesa da sua profissão e do ensino público de qualidade. “Se nada for feito, vamos voltar às ruas,” avisam, dirigindo-se também aos sindicatos para que estes “não adormeçam” e adotem ações que reflitam “toda a angústia e indignação de uma classe”.

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