Explicador: Afinal, o que é a energia sustentável? E como pode beneficiar as empresas?

A energia sustentável desempenha um papel vital tanto no cenário global quanto no contexto empresarial. Os líderes empresariais estão cada vez mais cientes da sua responsabilidade ambiental, e compõem estratégias para alcançar os seus objetivos de sustentabilidade.

A Agência Internacional de Energia (AIE) considera que o mundo pode alcançar o objetivo de “emissões zero” no setor da energia em 2050, triplicando para 2030, a capacidade de produção das energias renováveis. Isto permitirá que se alcancem os objetivos em meados do século e se limite o aumento global das temperaturas a 1,5 graus.

Para o organismo, apesar da “falta de ambição política e da cooperação” é possível que “os avanços dos últimos anos” possam ajudar a alcançar as metas inicialmente propostas.

Neste sentido, a AIE foca-se em triplicar em 2030 a capacidade de produção mundial de energias renováveis, com estratégias como o duplicar do ritmo anual do aumento das melhorias de eficiência energética, incrementar a venda de veículos elétricos e promover as medidas com vista ao corte das emissões de gás metano (do setor energético) em 75%.

Do ponto de vista das empresas, são cada vez mais as administrações que estão a alavancar os seus planos de sustentabilidade, com metas cada vez mais ambiciosas para reduzir a sua pegada ambiental o mais cedo possível.

 

O PAPEL DAS EMPRESAS

Empresas que investem em energias renováveis não contribuem apenas para um planeta mais saudável, mas colhem também benefícios económicos a longo prazo, como eficiência operacional, redução de custos e uma reputação positiva perante consumidores cada vez mais conscientes.

Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros, reforça esta ideia em declarações à Executive Digest. “Para além da evidente melhoria da imagem das respetivas empresas perante os cidadãos e a concorrência, existe naturalmente um contributo para o bem comum, mas também refletem essas práticas uma oportunidade de assegurar o fornecimento e uso de energia em termos futuros e com menos impacto negativo a vários níveis.”

No entanto, esta transição não acarreta apenas benefícios, pois traz consigo uma série de desafios para as organizações de todo o mundo, sendo um dos principais os fatores económicos, nomeadamente em períodos de crise económica.

O especialista acrescenta ainda: “É preciso também convencer alguns negacionismos que ultimamente têm despontado. Acresce ainda, por vezes, a necessidade de ultrapassar algumas restrições, nomeadamente a nível da decisão política”.

 

SER ATIVO A NÍVEL LOCAL E GLOBAL

As empresas, quando assumem o papel de promotoras de sustentabilidade, torna-se agentes de mudança na nossa sociedade. Ao integrar práticas sustentáveis nas suas operações, desde cadeias de fornecimento até processos produtivos, não reduzem apenas o seu impacto ambiental, mas estabelecem também padrões para toda a indústria e a para a sociedade.

“Esse papel depende bastante do historial de intervenção das empresas a esses níveis, mas representa também uma oportunidade de implementar ou aumentar essa intervenção. Todos conhecemos grandes campanhas realizadas por diversas empresas em vários domínios que constituíram marcos na sociedade e que ainda são recordadas por todos, explica Luís Gil.

Acrescenta ainda que “a sustentabilidade energética, por ser uma questão que preocupa a maioria dos cidadãos e dos stakeholders, terá oportunidade de vir a ser um desses marcos”

 

INTERVENÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES

As associações desempenham um papel preponderante na promoção e desenvolvimento de iniciativas relacionadas com a energia sustentável. Elas têm o papel de unir forças entre empresas, organizações não governamentais e entidades governamentais, por forma a catalisar mudanças significativas no setor energético.

Para além disso, desempenham um papel fundamental na advocacia por políticas que incentivam a transição para fontes renováveis, criam de padrões e diretrizes que impulsionam a inovação e a eficiência no uso de recursos, e dão indicadores fundamentais para guiar os gestores no caminho para as zero emissões.

Por exemplo, os dados da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) referentes ao ano de 2022 mostram que a incorporação renovável no ano passado foi de 78%, no total de 4.074 GWh produzidos. Isto representa um aumento de 37,7% face a 2021, e deve-se maioritariamente ao aumento da produção hídrica e eólica.

Fonte: APREN

Dados mais recentes mostram ainda que entre 1 de janeiro e 30 de setembro de 2023 foram gerados 31.333 GWh de eletricidade em Portugal Continental, dos quais 67,0 % tiveram origem renovável.

Fonte: APREN

“A maior utilização dos recursos endógenos e renováveis portugueses para a produção de eletricidade tem alterado a composição do mix de produção de eletricidade em Portugal e tem, consecutivamente, desempenhado um papel cada vez mais determinante na satisfação do consumo”, revela a REN – Redes Energéticas Nacionais.

Os dados das associações e intervenientes no setor são preponderantes para as definições de metas corporativas para alcançar a sustentabilidade empresarial a curto tercho.

Para o Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros, as associações têm um “papel muito importante, pois agregam e conhecem bem os seus associados podendo ser um apoio na implementação e promoção destas práticas. Pertencendo ao Conselho de Administração de uma dessas associações, sei bem que essa é uma preocupação generalizada a que as associações pretendem responder”.

 

INCENTIVOS PARA EMPRESAS

Para dar resposta às necessidades e ambições das empresas portuguesas, existem diversos programas, geridos por entidades diferentes, desde o Lisboa 2020 às Câmaras Municipais e ao Fundo Ambiental do Estado.

O Norte 2020, por exemplo, destinou no ano passado 10 milhões de euros às empresas que se propuseram a melhorar a eficiência energética das suas infraestruturas, com a incorporação de instalação de sistemas energeticamente eficientes.

Já o programa 2020 também apoiou as empresas de pesca e aquacultura no financiamento a soluções de eficiência energética.

Estes programas apoiam as empresas em diversas vertentes, desde melhorias à estrutura física dos edifícios das empresas, na área da mobilidade elétrica, economia circular, entre outros.

Para tal, as empresas devem informar-se sobre os programas de financiamento disponíveis nos canais do Governo, nas autarquias ou no IAPMEI.

Energias renováveis: quais as opções de financiamento?

Ao investir em fontes renováveis, práticas responsáveis e na construção de uma cultura corporativa direcionada para a sustentabilidade, as empresas não estão apenas a mitigar riscos, mas também a posicionarem-se como agentes positivos de transformação.

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