“Eu não sei bem o que aconteceu”: Causas do desastre com o submersível Titan podem nunca vir a ser apuradas, afirma cofundador da OceanGate

Guillermo Söhnlein, cofundador da OceanGate, declarou numa audiência realizada esta segunda-feira, que a causa da tragédia que levou à implosão do submarino Titan poderá nunca ser revelada. Falando no quinto dia de audiências públicas conduzidas pela Guarda Costeira dos EUA, Söhnlein destacou que o acidente “não era suposto acontecer” e que, mesmo com os esforços da investigação, o verdadeiro motivo por detrás do desastre pode permanecer desconhecido.

“Eu não sei o que aconteceu”, afirmou Söhnlein durante a sua declaração. “Não sei quem tomou que decisão, quando e com base em que informação. E, honestamente, não sei se algum de nós alguma vez saberá, apesar de todos os esforços investigativos da sua equipa.”

As audiências, que estão a decorrer em North Charleston, Carolina do Sul, e são transmitidas ao vivo pelo canal da Guarda Costeira, têm o objetivo de esclarecer o que levou à implosão do submersível no fundo do Oceano Atlântico, matando os cinco ocupantes a bordo.

O submarino Titan implodiu a cerca de 2 milhas abaixo do nível do mar no dia 18 de junho de 2023, enquanto fazia uma expedição aos destroços do Titanic. Os destroços do submersível foram encontrados a aproximadamente 330 metros da proa do famoso navio naufragado. Todos os cinco passageiros a bordo morreram, incluindo o fundador da OceanGate Expeditions, Stockton Rush, que pilotava o submersível de 6,7 metros de comprimento. Entre as vítimas estavam também um bilionário britânico, um explorador francês, um empresário de origem paquistanesa e o seu filho.

Söhnlein cofundou a OceanGate em 2009, juntamente com Rush, com o objetivo de tornar o oceano profundo acessível à humanidade. O projeto inicial da empresa envolvia a criação de uma frota de quatro a cinco submersíveis capazes de descer até três milhas e meia de profundidade, transportando até cinco passageiros. Os “especialistas de missão”, como a OceanGate denominava os seus passageiros, pagavam $250.000 por um bilhete para se juntarem a estas expedições.

Embora Söhnlein tenha deixado a OceanGate em 2013, continuou a ser acionista minoritário e manteve um relacionamento próximo com o seu antigo parceiro de negócios. Durante a sua declaração, realçou que o objetivo da empresa sempre foi proporcionar ao público uma experiência única no oceano profundo.

Apesar das declarações inspiradoras de Söhnlein sobre a missão da empresa, as audiências revelaram preocupações consideráveis sobre a segurança nas operações da OceanGate. Testemunhos de antigos funcionários da empresa, recolhidos durante os primeiros dias das audiências, destacaram que Stockton Rush, o CEO, colocava frequentemente maior ênfase na rapidez e na redução de custos do que na segurança das operações.

Ex-engenheiros da empresa relataram que Rush ignorava frequentemente preocupações técnicas que lhe eram apresentadas, optando por acelerar os processos em vez de lidar adequadamente com as questões de segurança identificadas. Estes relatos contrastam com a visão idealizada de Söhnlein sobre a missão da empresa, revelando um ambiente de trabalho onde a segurança era frequentemente sacrificada em prol de uma execução mais célere das missões.

Söhnlein concluiu o seu testemunho expressando esperança de que a exploração do oceano profundo continue, mesmo que a OceanGate não esteja mais envolvida nesse esforço. O responsável descreveu o oceano profundo como um “lugar mágico” e afirmou que espera que muitos outros possam ter a oportunidade de experimentar a sua imensidão e mistério.

“Espero que outros se sintam inspirados pela missão que começámos em 2009”, afirmou. Contudo, também reconheceu a probabilidade de que a OceanGate não sobreviva à tragédia e às investigações em curso.

As audiências continuarão nos próximos dias, com o objetivo de apurar responsabilidades e compreender as falhas que levaram ao trágico fim da missão do Titan, um projeto que começou com grandes ambições de exploração mas que terminou em tragédia e incerteza.

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