Pode parecer surpreendente, mas a cor roxa, adorada por muitos, não existe de forma objetiva na natureza. De acordo com um novo estudo, o roxo não é uma cor com um comprimento de onda próprio no espectro da luz visível, mas sim uma criação ilusória do cérebro humano, que tenta resolver um “conflito” entre duas extremidades da luz: o vermelho e o azul.
O fenómeno ocorre quando os nossos olhos captam simultaneamente luz vermelha e luz azul. Estas cores situam-se em lados opostos do espectro visível — o vermelho na extremidade dos comprimentos de onda longos e o azul nos comprimentos mais curtos. O cérebro, confrontado com esta justaposição, não consegue processá-la através de um comprimento de onda contínuo, como faz com outras cores.
Para resolver este problema, o sistema visual “dobra” mentalmente o espectro da luz, transformando-o num círculo e unindo assim os extremos. É esta junção artificial que dá origem ao roxo, uma cor que não existe na realidade como luz monocromática, mas que é percebida como real graças a um processo de compensação neurológica.
Como vemos as cores: cones, cérebro e interpretações
A perceção da cor depende de células especializadas na retina chamadas cones, que captam diferentes comprimentos de onda da luz. Existem três tipos de cones:
- S cones, sensíveis a comprimentos de onda curtos (azul e violeta),
- M cones, que captam comprimentos médios (verde e amarelo),
- L cones, que reagem a comprimentos longos (vermelho e laranja).
Quando a luz entra no olho, estimula uma ou mais dessas células. Os sinais gerados viajam pelo nervo óptico até ao tálamo, onde são processados inicialmente, e depois seguem para o córtex visual, onde o cérebro interpreta que cor está a ser vista com base na intensidade e combinação dos cones ativados.
Se a luz se situar entre duas cores (por exemplo, entre o azul e o verde), ativa simultaneamente os S cones e os M cones, e o cérebro compara os níveis de ativação para produzir uma cor intermédia — como o turquesa. Este sistema permite-nos distinguir mais de um milhão de tons diferentes.
Contudo, o roxo escapa a esta lógica. Não existe luz com comprimento de onda correspondente à cor roxa. O que acontece, na verdade, é que o cérebro recebe sinais dos S cones (azul/violeta) e dos L cones (vermelho), mas não dos M cones (verde), e como não há um comprimento de onda entre vermelho e azul que os una, o cérebro “inventa” uma nova cor: o roxo.
O roxo fora do espectro visível
O tradicional acrónimo ROYGBIV — que designa as cores do arco-íris (Red, Orange, Yellow, Green, Blue, Indigo, Violet) — representa as chamadas cores espectrais, ou seja, cores que têm um comprimento de onda definido na luz visível. O roxo não faz parte desta lista.
Apesar de a palavra violeta ser frequentemente associada ao roxo, ela refere-se, na verdade, aos comprimentos de onda mais curtos do espectro, situando-se mesmo antes dos raios ultravioleta (UV), que já não são visíveis a olho nu e podem causar queimaduras solares.
Mesmo sendo uma construção cerebral e não uma entidade física, o roxo ocupa um lugar destacado na cultura humana. Historicamente associado à realeza, ao luxo, à espiritualidade e ao misticismo, continua a ser uma cor preferida por muitos — ainda que, tecnicamente, não exista como as demais.
Como observam os cientistas, o cérebro humano, ao tentar resolver a impossibilidade física de fundir o vermelho com o azul, oferece-nos uma solução elegante: uma cor “fantasma” que sentimos como perfeitamente real.
Assim, da próxima vez que olhar para algo roxo, lembre-se — está a ver uma criação engenhosa do seu cérebro, e não uma cor que exista objetivamente na luz.














