E se o futuro da mobilidade elétrica envolvesse não apenas aprimorar a química interna das baterias, mas também repensar a sua embalagem? E sobretudo usando um material que Portugal é líder mundial na produção e exportação?
Uma equipa da Universidade Técnica de Graz, na Áustria, desenvolve uma carcaça de bateria que abandona o alumínio tradicional em favor de uma estrutura híbrida de aço, madeira… e cortiça. Pode ver o vídeo aqui.
Os cientistas procuraram soluções não só por razões ambientais, mas também porque este invólucro ecológico é uma solução técnica ideal para testes exigentes de impacto e incêndio.
Na China, até meados de 2026, será exigido que, em caso de fuga térmica, o invólucro não apenas atrase o início do incêndio em cinco minutos (como é o caso até agora, incluindo a explosão), mas também impeça a ocorrência do incêndio. A Hyundai explicou recentemente que está a estudar a possível implementação de sistemas internos de extinção.
Nova construção de bateria
O projeto austríaco, batizado de Bio!Lib, reduz a pegada ecológica das baterias de fora para dentro. Em vez de alumínio, o material usualmente usado em estruturas de baterias, a equipa liderada pelo engenheiro Florian Feist optou por uma estrutura de aço muito fina.
Para aumentar a resistência, os perfis de aço são reforçados com um núcleo de madeira. Os módulos de bateria são separados internamente por nervuras de madeira para maior rigidez, e uma quilha de madeira abriga a fiação. Essa estrutura não é apenas leve e reciclável, mas também demonstrou excelente resistência a impactos.
No teste padrão de impacto lateral com poste (usado para simular colisões com postes de luz ou árvores), a taxa de intrusão foi semelhante à do Tesla Model S, um bom parâmetro para a segurança da bateria, dada a sua blindagem. O segredo? A madeira, com a sua estrutura celular natural, atua como uma estrutura dobrável que absorve energia com muita eficiência.
Cortiça, um ótimo isolante após ser atacada pelo fogo
Mas o que realmente chamou a atenção do setor foi a incorporação da cortiça como barreira térmica. Quando este material é exposto a temperaturas extremas, ele não queima: carboniza, reduzindo a sua condutividade térmica e protegendo a árvore… ou o que quer que esteja atrás dela. Assim, num teste pirotécnico que simulou um incêndio de bateria, o revestimento desenvolvido pela TU Graz resistiu a temperaturas de até 1.300 graus Celsius. No lado oposto à fonte de calor, a temperatura foi 100 graus mais baixa do que a do modelo equivalente da Tesla. Uma diferença enorme quando falamos sobre a segurança dos ocupantes do veículo.
O sobreiro, fonte da cortiça, poderá assim encontrar uma nova saída no mundo da indústria automóvel elétrica, para além das suas utilizações tradicionais em vinhos, revestimentos, moda, etc. Além de ser um recurso natural, renovável e de baixo impacto, oferece propriedades técnicas avançadas sem necessidade de processos industriais poluentes.
O próximo passo do projeto será estudar a viabilidade de usar madeira de baixo valor — proveniente de desbaste ou reutilização secundária — e abordar tanto a reciclabilidade dos componentes quanto a reutilização da cortiça após um ciclo de vida completo.














