Das andorinhas com asas mais curtas aos elefantes sem presas: Como plantas e animais se têm adaptado para sobreviver aos humanos

A influência humana alcançou os mais remotos cantos do planeta, obrigando inúmeras espécies a adaptarem-se a um mundo moldado por atividades humanas. Estas mudanças evolutivas, por vezes insólitas, demonstram como as plantas e os animais têm respondido a um ambiente em constante transformação. Desde árvores tropicais que encolheram até aves a modificarem os seus ninhos, os exemplos multiplicam-se.

Árvores de mogno mais pequenas e sem valor comercial
O mogno, uma das madeiras mais valiosas do mundo devido à sua durabilidade e tonalidade vermelha profunda, é agora uma sombra daquilo que era. Árvores que antes atingiam 20 metros de altura são hoje arbustos de pouco valor comercial. Segundo explica ao The Guardian a Dra. Malin Rivers, conservacionista da Botanic Gardens Conservation International, a espécie ainda é abundante em algumas regiões, mas já não apresenta as majestosas dimensões do passado.

“Com a destruição das árvores maiores, estas não conseguiram reproduzir-se e transmitir os genes que promoviam o crescimento em altura,” explica Rivers. A exploração intensiva do mogno resultou numa diminuição superior a 70% da sua população em alguns países desde 1970, levando a que fosse considerado comercialmente extinto em muitas partes do Caribe.

Ninhos de pega com espigões anti-aves
Em cidades como Antuérpia, investigadores descobriram que as pegas começaram a utilizar espigões anti-aves – colocados em estruturas urbanas para evitar a sua presença – na construção dos seus ninhos. As pegas, conhecidas por construírem ninhos com ramos espinhosos para afastar predadores como os corvos, adaptaram-se ao ambiente urbano ao incorporar materiais artificiais. Segundo o investigador Auke-Florian Hiemstra, este fenómeno reflete uma tendência crescente de aves que utilizam detritos humanos para construir os seus abrigos.

Estrelas frágeis a preferirem garrafas de cerveja
No fundo do mar das Caraíbas, a espécie Astrophiura caroleae, uma estrela do mar descrita pela primeira vez em 2018, foi encontrada a viver em locais inusitados, como garrafas de cerveja descartadas. O Dr. Hugh Carter, especialista do Museu de História Natural, afirma: “Os membros deste género costumam viver em substratos duros, como rochas, mas esta espécie parece adaptar-se confortavelmente a detritos feitos pelo homem.” Um exemplo curioso é um espécime que foi encontrado a habitar um pneu descartado a 300 metros de profundidade.

Caracóis de casca mais clara para resistir ao calor urbano
Os caracóis Cepaea nemoralis, comuns em cidades holandesas, adaptaram-se ao aumento das temperaturas urbanas desenvolvendo conchas de tonalidades mais claras. Segundo o biólogo evolutivo Menno Schilthuizen, caracóis com conchas escuras correm maior risco de sobreaquecimento, enquanto os de casca mais clara conseguem manter-se mais frescos durante os dias mais quentes. Este fenómeno foi estudado com recurso a imagens recolhidas por milhares de cientistas amadores na Holanda.

Andorinhas com asas mais curtas para evitar atropelamentos
Nas estradas do sudoeste de Nebraska, EUA, andorinhas das escarpas (Petrochelidon pyrrhonota) adaptaram-se ao risco de atropelamento desenvolvendo asas mais curtas. Este ajuste evolutivo torna-as mais ágeis, permitindo-lhes desviar-se de veículos em movimento. A falecida investigadora Mary Bomberger Brown, da Universidade do Nebraska-Lincoln, comparou esta adaptação às diferenças entre um avião espião U2 e um caça, destacando a agilidade como fator essencial para a sobrevivência.

Elefantes sem presas: uma resposta à caça furtiva
Durante a guerra civil em Moçambique, a caça furtiva levou à quase extinção dos elefantes da savana africana no Parque Nacional de Gorongosa, com uma redução superior a 90%. Muitos dos elefantes que sobreviveram apresentavam uma anomalia genética: a ausência de presas, o que os tornava menos atrativos para os caçadores. Esta característica passou para as gerações seguintes e é agora observada em populações da Tanzânia.

Tanya Smith, conselheira sénior do WWF-UK, explica ao The Guardian que “a pressão devastadora da caça furtiva resultou num aumento significativo do número de elefantes nascidos sem presas, uma adaptação trágica que demonstra como a intervenção humana pode alterar profundamente uma espécie.”