A administração norte-americana está a dar os primeiros passos para desenvolver uma inovadora arquitetura de defesa antimíssil baseada no espaço, inspirada em conceitos de ficção científica. Conhecido como “Golden Dome” (Cúpula Dourada), o sistema visa deter mísseis balísticos, hipersónicos e até ogivas nucleares ainda em voo, recorrendo a uma constelação de satélites e mísseis intercetores orbitais.
A proposta, que ganhou impulso com uma diretiva lançada em janeiro pelo Presidente Donald Trump, está agora a ser concretizada pela Missile Defense Agency (MDA), que lançou oficialmente, a 4 de abril, um aviso de participação industrial sob o título Industry Engagement for SBI supporting MDA Next-Generation Missile Defense and Golden Dome for America. A convocatória procura atrair empresas interessadas em participar no desenvolvimento do Space-Based Interceptor (SBI) — o pilar tecnológico do projeto.
Missão: intercetar ameaças a partir do espaço
O conceito do SBI assenta na instalação de intercetores em órbita, capazes de destruir projéteis inimigos durante as fases mais precoces do seu percurso, nomeadamente a fase de propulsão (boost-phase), considerada a mais eficaz para neutralizar ameaças antes que atinjam velocidades supersónicas ou libertem múltiplas ogivas.
Além dos intercetores, o programa procura soluções para um conjunto abrangente de tecnologias: componentes de propulsão, sensores, sistemas de deteção e seguimento (seekers), satélites, soluções cinéticas e não cinéticas, e opções de controlo de fogo. A MDA sublinha o interesse por propostas “inovadoras e disruptivas”, apelando especialmente à participação de empresas fora do circuito tradicional da defesa.
Evento em abril reúne indústria e forças armadas
O primeiro grande passo será dado entre 30 de abril e 2 de maio de 2025, quando a MDA, em parceria com a Força Espacial dos EUA, acolherá um evento de três dias no Complexo Von Braun, em Redstone Arsenal, Huntsville (Alabama). O objetivo é apresentar as linhas gerais do programa SBI e promover encontros individuais entre representantes do governo e potenciais parceiros da indústria.
O evento contará com sessões temáticas sobre temas como colaboração governamental e industrial, contratação e aquisição, segurança, estudos anteriores e arquiteturas propostas, análise de ameaças, cadeia de destruição (kill chain), testes e alvos, entre outros. Estão também previstos debates técnicos específicos com a liderança da MDA e com a equipa do programa SBI sobre tecnologias espaciais, defesa terrestre, avaliação de ameaças e capacidades avançadas.
Estratégia da administração Trump para a defesa do espaço
A “Cúpula Dourada” é o elemento central de uma estratégia de nova geração de defesa antimíssil delineada pela administração Trump em janeiro. Numa nota oficial, o Departamento de Defesa foi incumbido de criar uma arquitetura que responda à crescente ameaça de mísseis, incluindo o reforço de sensores espaciais de rastreamento de mísseis balísticos e hipersónicos, bem como o desenvolvimento de novos sistemas de interceção com capacidade de atuação em múltiplas fases do voo inimigo.
Entre os elementos mais inovadores destaca-se a introdução de capacidades não cinéticas, ou seja, métodos alternativos à destruição física convencional, como sistemas baseados em energia dirigida. Estas tecnologias deverão reforçar significativamente a capacidade de resposta norte-americana perante mísseis de difícil interceção.
Apesar do entusiasmo da administração Trump, o plano não está isento de críticas. Analistas e opositores políticos apontam incertezas quanto à viabilidade tecnológica do projeto, bem como à sustentabilidade financeira, tendo em conta os limites orçamentais atuais.
Ainda assim, a Casa Branca considera o programa uma prioridade de segurança nacional. Para garantir o sucesso do projeto, o governo defende uma cadeia de fornecimento segura e uma maior colaboração com países aliados, prevendo-se que, após a definição da arquitetura de defesa, o Secretário da Defesa reavalie a postura dos sistemas antimísseis em teatros internacionais, com vista a reforçar a cooperação internacional.
Este esforço pretende proteger não só o território norte-americano, mas também as tropas destacadas no estrangeiro e as populações aliadas, oferecendo uma rede de proteção comum e garantindo a convergência de interesses estratégicos.
O desenvolvimento da “Cúpula Dourada” poderá, assim, marcar o início de uma nova era na defesa aeroespacial, onde o combate a ameaças globais será feito diretamente a partir da órbita terrestre.
