Crise no SNS: Menos idas às urgências até setembro, mas tempos de espera subiram
Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) atenderam menos 40.685 episódios de urgência entre janeiro e setembro de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. Apesar da redução na procura, o atendimento aos doentes tornou-se mais demorado, com 36% dos casos a ultrapassarem os tempos máximos previstos pela triagem de Manchester. No ano anterior, essa percentagem era de 30%, revelando uma deterioração na capacidade de resposta dos serviços.
Os dados foram divulgados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) na última sexta-feira, após quase um ano de interrupção na atualização dos indicadores de monitorização mensal e benchmarking hospitalar no Portal do SNS. Segundo indica Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), ao Jornal de Notícias (JN), as dificuldades na constituição de equipas podem estar na origem do agravamento dos tempos de espera. “Diria que é uma hipótese provável”, apontou o responsável.
A análise regional dos dados revela um cenário de maior pressão nos serviços de Lisboa e Vale do Tejo, onde apenas 65% dos episódios foram atendidos dentro dos tempos estipulados, contra 72% no mesmo período do ano anterior. A situação é ainda mais crítica no Alentejo, que registou uma descida de 14,4 pontos percentuais no cumprimento dos tempos máximos. No Norte, a diminuição foi menos acentuada, passando de 70% para 67%, enquanto no Centro e no Algarve as reduções foram de 5,5 e 3 pontos percentuais, respetivamente.
Nos primeiros nove meses de 2024, os serviços de urgência públicos atenderam 4,62 milhões de utentes, uma redução de 0,9% face aos 4,66 milhões registados em igual período de 2023. Parte desta diminuição pode ser atribuída à ligeira redução nos episódios classificados como pouco urgentes ou não urgentes, que passaram de 41,9% para 40,7%. Em Lisboa e Vale do Tejo, estas prioridades representaram 46% do total.
A Direção Executiva do SNS acredita que iniciativas como o projeto “Ligue Antes, Salve Vidas”, que promove a referenciação prévia dos utentes antes da ida às urgências, e os novos Centros de Atendimento Clínico em Lisboa e no Porto podem estar a contribuir para a redução da procura. Em declarações à Antena 1, destacou que o projeto conseguiu evitar quase 300 mil idas às urgências em apenas um ano e meio. Contudo, Xavier Barreto defende que é cedo para estabelecer uma relação causal, especialmente porque muitos grandes hospitais, como o Hospital de S. João, só estão agora a implementar estas medidas.
Apesar dos desafios enfrentados nos serviços de urgência, Xavier Barreto assinala que o SNS tem mostrado melhorias noutras áreas. “O SNS está de parabéns noutros indicadores, nomeadamente nas cirurgias e nas consultas médicas”, destacou o presidente da APAH, apontando para um esforço contínuo de otimização nos cuidados de saúde públicos.