Crianças sem telemóvel até aos 12 anos? Pais e escolas adotam medidas em todo o mundo

Depois de anos a apostar na integração do mundo digital nas escolas (e vice-versa) a UNESCO surpreendeu todo o mundo no ano passado com o pedido para “proibir os telemóveis” nas escolas. Têm crescido em todo o mundo e ganhado força, nesse sentido várias iniciativas para impedir que crianças com menos de 12 anos usem smartphones, e um projeto-piloto na Irlanda está a dar que falar.

A iniciativa partiu de pais de alunos de oito escolas primárias em Greystones, cidade costeira, com o objetivo de chamar a atenção para os efeitos nocivos da sobreexposição de menores de 12 anos a smartphones.

Em colaboração com as escolas, que proibiram telemóveis no recinto, os pais comprometeram-se a não fornecer os dispositivos aos filhos, pelo menos até estes completarem 12 anos.

A adesão ao projeto-piloto é voluntária, mas a maioria dos pais inscreveu-se e assinou o compromisso. “Se quase toda a gente o faz, é muito mais fácil dizer não. Quanto mais tempo pudermos preservar a sua inocência, melhor”, indica Laura Bourne uma das encarregadas de educação que participa, em declarações ao ABC.

O projeto foi lançado após um inquérito a pais e professores, conduzido pela Escola Pública St. Patrick e pela sua diretora, Rachel Harper.

“A infância está cada vez mais curta. As crianças de 9 anos sentem-se coagidas por outros menores a estar constantemente online. E eles não estão preparados emocionalmente. A ansiedade disparou. Algo tinha que ser feito”, relata.

O método foi uma forma de combater as ‘queixas’ das crianças que pediam telemóveis porque os colegas também tinham.

“A unidade faz a força e, quando os pais se sentem pressionados pelos filhos a comprar-lhes um telemóvel, a decisão de não o fazer já não os faz sentirem-se a exceção”, continua a responsável escolar. A ministra da Educação já reuniu com a diretora e tem estado a acompanhar os resultados, sendo que a ideia é que a medida possa vir a ser aplicada noutras escolas em todo o país.

Outros casos e medidas

Mas não é caso único: Nos EUA, em Silicon Valley, epicentro tecnológico do mundo, nas escolas de San Mateo, onde fica a sede da Meta, os telemóveis estão proibidos, e são colocados à entrada numa bolsa magnética, que os deixa inutilizáveis.

O Governo irlandês estuda também medida semelhante, sendo que, nos EUA, uma ação judicial coletiva contra as empresas donas de redes sociais como TikTok, WhatsApp, Instagram, YouTube e Snapchat espalhou-se por 10 estados e 44 distritos escolares.

“As empresas tecnológicas aproveitaram os cérebros imaturos das crianças e adolescentes para conceber algoritmos que satisfaçam o desejo de atenção e estatuto social e os tornem viciados nas suas aplicações”, indica a queixa.

Já na Suécia, a aposta deixou de ser na digitalização das salas de aula e do estudo, e os recursos que seriam investidos em dispositivos móveis e videojogos educativos, foram aplicados em livros escolares, manuais didáticos e mais professores.

Também este ano França, Itália e Países Baixos introduziram restrições aos telemóveis nas escolas a nível nacional.

Mas mesmo assim são poucos: apenas um em cada quatro países do mundo o faz nas escolas, indica a Unesco. E é uma restrição teórica, já que os alunos entregam o telemóvel ao entrar nas salas de aula, e recebem-no ao sair.

A Austrália é, neste aspeto, o país mais restritivo: é obrigatório deixar o telemóvel em casa e mesmo os alunos com autorização para o ter (por motivos médicos ou outros) têm de o guardar numa bolsa de chumbo que bloqueia sinais, quando os aparelhos não são necessários.

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