Como viver numa Europa a arder? Especialistas exigem mais esforços e medidas de prevenção, mas UE ‘empurra com a barriga’
Com as ondas de calor, segundo cientistas, com tendência a tornarem-se cada vez mais comuns na Europa (e noutros pontos do mundo), as imagens de devastação causadas por violentos incêndios florestais em Portugal, Espanha, Grécia ou Itália, como visto nas últimas semanas, tornar-se-ão também mais regulares. Nesse sentido, vários especialistas e políticos europeus assinalam que está na altura de o ‘velho continente’ tomar medidas mais assertivas para combater este flagelo.
Ainda que a UE esteja a tomar passos para constituir uma frota de meios aéreos de combate a incêndios, pouco tem feito para instituir medidas preventivas, como a gestão de florestas, apontam críticos ouvidos pelo Politico.
“Estamos a correr atrás do prejuízo. Até agora, a UE tem gasto os seus fundos quase exclusivamente em medidas de reação a fogos florestais”, lamenta a deputada alemã dos ‘Verdes’ Anna Deparnay-Grunenberg.
Os especialistas argumentam que será também necessário que, para controlo dos incêndios, a Europa precise de derrubar mais árvores “Temos de ter as florestas antigas relativamente limitadas em área. Não queremos montanhas cheias de florestas intocadas”, argumenta Gavriil Xanthopoulos, diretor do Instituto de Ecossistemas Florestais do Mediterrâneo.
Estas florestas sem gestão ou controlo são uma verdadeira armadilha, mesmo que possam parecer belas aos olhos de quem as visita. “Por ser selvagem, achamos bonito. Mas na verdade é mesmo muito perigoso”, indica Víctor Resco de Dios, professor de ciência florestal da Universidade de Lleida, explicando que o fator mais importante que ajuda os incêndios a espelhar-se são as grandes quantidades de material combustível.
Ainda que a maioria dos incêndios na Europa sejam causados por mão humana, a educação e prevenção de ignições não devem ser o foco principal, já que há outros fatores, como fenómenos naturais, que podem originar um fogo.
Com as alterações climáticas a tornarem a Europa mais quente e seca, reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa é vital também para reduzir o risco de incêndio. E associado a isso deve existir um controlo das quantidades de material combustível existente nas florestas.
Para além da limpeza de terrenos florestais, isso implicará também, segundo o especialista, o corte estratégico e seletivo de árvores, algo que, explica, “não é o mesmo que desflorestar”.
A área de floresta está a diminuir em todo o mundo, mas na Europa até aumentou nas ultimas décadas com cada vez mais pessoas a abandonarem as zonas rurais para viver nas cidades.
Sem o controlo rigoroso das florestas, estas tornar-se-ão mais densas, e dessa forma acumulando mais combustível para eventuais incêndios.
Bruxelas tem traçadas metas para restaurar os ecossistemas degradados na UE, mas as regras polémicas, que têm como objetivo garantir maior resistência da natureza às alterações climáticas podem ter efeitos nocivos se não forem aplicadas corretamente.
Por outro lado, as instituições da UE, na sua Estratégia Florestal 2030 definiu metas para melhorar a prevenção e monitorização de incêndios florestais, mas a legislação necessária para desenvolver a estrutura europeia de apoio a estas operações tem sido adiada. Estaria revisto que um projeto de lei fosse apresentado ainda nets deste verão, mas o tema entretanto desvaneceu-se como fumo da agenda da Comissão Europeia, com Adalbert Jahnz, porta-voz, a explicar que “não havia um momento específico” para o anúncio.
A monitorização das florestas, quando apresentada, terá também pela frente opositores em vários países. O Politico adianta que um grupo de 13 ministros da Agricultura, liderados pela Áustria, já manifestou reservas sobre a medida, argumentando que a UE não se deve meter em assuntos que consideram ser de âmbito nacional.
O investimento em Canadair, previsto por Bruxelas, de duplicação da frota existente, também não é a intervenção mais útil ou mais rentável, argumentam especialistas.
“Em Espanha o custo de apagar um incendio é de 19 mil euros por hectare. As atividades de prevenção têm um custo de 2 mil euros por hectare”, exemplifica Resco de Dios, alertando que a UE precisa de estar alerta e bem desperta, para encetar as devidas medidas para se preparar, antes que outra tragédia aconteça, porque certamente o cenário de incêndios que vemos vai voltar a repetir-se, ano após ano.