Atlantropa: a megaobra de engenharia que queria separar o Mediterrânio do Atlântico e juntar a Europa a África

Imagina um mundo onde a geografia não impõe limites, mas serve como uma tela em branco para a humanidade moldar de acordo com as suas necessidades. Foi com esta visão futurista que o arquiteto alemão Herman Sörgel, a 1 de março de 1928, apresentou o audacioso projeto Atlantropa, uma ideia destinada a transformar o Mediterrâneo e unir Europa e África numa megaestrutura que desafiaria as leis da física e a imaginação humana.

A proposta de Sörgel consistia na construção de uma gigantesca barragem no Estreito de Gibraltar, com o objetivo de isolar o Mar Mediterrâneo do Oceano Atlântico. O projeto visava gerar enormes quantidades de energia hidroelétrica, resolver crises energéticas e económicas na Europa e criar uma ligação física e política com África. Para muitos, esta ideia parecia retirada de um romance de ficção científica, mas Sörgel acreditava firmemente que a sua visão poderia revolucionar o mundo.

Atlantropa, inicialmente chamado de “Panropa”, foi concebido como muito mais do que uma simples proeza de engenharia. Sörgel acreditava que a barragem não só solucionaria a crise energética da Europa, mas também integraria África como uma extensão natural do continente europeu, abrindo portas a novos recursos e terras agrícolas.

A ideia central de Atlantropa era barrar o Estreito de Gibraltar com uma barragem de 35 quilómetros de comprimento e 300 metros de altura, criando a maior central hidroelétrica do mundo.

Além da barragem, o projeto previa a construção de um túnel sob o Estreito de Gibraltar, ligando a Europa a África, e uma ponte entre a Sicília e a Tunísia. O recuo do Mediterrâneo iria revelar novas terras férteis, ideais para a agricultura, e abriria espaço para novos assentamentos.

Apesar da grandiosidade de Atlantropa, o projeto levantou preocupações ambientais significativas. A secagem parcial do Mediterrâneo teria consequências devastadoras, com alterações climáticas drásticas, incluindo o aumento da aridez em África e na Ásia, além de mudanças nos padrões de precipitação. Especialistas apontam que este cenário poderia ter gerado tempestades de areia e sal, comprometendo a agricultura e a habitabilidade das novas terras.

Apesar da ousadia e inovação, Atlantropa nunca saiu do papel. A Segunda Guerra Mundial e os esforços de reconstrução europeus após o conflito relegaram o projeto ao esquecimento.

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