‘Arcanjo’: Silencioso, com alcance ilimitado e capaz de lançar mísseis de cruzeiro. Conheça o novo submarino nuclear da Rússia
A Rússia continua a expandir as suas capacidades militares, apesar das sanções e pressões internacionais lideradas pela União Europeia, Estados Unidos e outros aliados. A mais recente demonstração desse esforço é a entrega do submarino nuclear Arkhangelsk (Arcanjo, em português) à sua Armada. A cerimónia oficial, realizada nos estaleiros de Sevmash, no mar Branco, marca mais um avanço na modernização da frota submarina russa, sublinhando a importância estratégica deste tipo de armamento no contexto global.
O Arkhangelsk, batizado também em homenagem à cidade do norte da Rússia próxima à Finlândia, é o terceiro submarino da classe Yasen-M (Projeto 885M), uma versão modernizada dos submarinos nucleares Yasen. A cerimónia de entrega, que contou com a presença de altos representantes do Ministério da Defesa russo e líderes militares, ocorreu após o lançamento oficial da embarcação, em novembro de 2023.
Este é o 141.º submarino nuclear construído nos estaleiros Sevmash para a Armada russa. Segundo o comandante em chefe da Armada russa, Alexander Moiseyev, a construção de submarinos desta classe continuará nos próximos anos. “Quatro novos submarinos de propulsão nuclear multipropósito – Perm, Ulyanovsk, Voronezh e Vladivostok – serão incorporados à nossa frota em breve”, anunciou Moiseyev, citado pela agência de notícias Tass.
Características técnicas e avanços tecnológicos
Os submarinos da classe Yasen-M são considerados um marco tecnológico na construção naval russa. Representam uma evolução em relação ao modelo original, com melhorias significativas na redução de ruído, armamento e sistemas de propulsão. Uma das inovações mais notáveis é o reator nuclear avançado que equipa estas unidades, permitindo-lhes operar praticamente sem limitações de autonomia.
Com uma velocidade máxima submersa de 65 km/h e uma velocidade silenciosa de 52 km/h, o Arkhangelsk é impulsionado por um reator que gera aproximadamente 43 mil cavalos de potência. A eslora da embarcação foi reduzida de 139 para 130 metros em comparação com o modelo original, mantendo uma manga de 13 metros.
Mais de 400 empresas russas participaram no desenvolvimento e construção do Yasen-M, que incorpora as mais recentes inovações em armamento, sistemas técnicos e radioelétricos.
O Arkhangelsk distingue-se pela sua capacidade de transporte e lançamento de uma ampla gama de armamento. Entre os principais sistemas estão os mísseis de cruzeiro Oniks e Kalibr, além do avançado míssil hipersónico Zircon.
Os mísseis Oniks, inicialmente concebidos para combate naval, também têm sido usados na guerra da Ucrânia para atingir alvos terrestres. Estes mísseis alcançam velocidades supersónicas superiores a 3.000 km/h e utilizam um padrão de voo que dificulta a sua deteção e neutralização por sistemas de defesa inimigos.
O míssil Kalibr, em serviço desde 1994, é um dos mais versáteis do arsenal russo. Com uma carga explosiva de 500 quilos, possui variantes subsónicas e supersónicas, capazes de atingir alvos a mais de 50 quilómetros com extrema precisão. A capacidade de voar a baixas altitudes – por vezes a apenas 20 metros da superfície – torna-o particularmente eficaz contra defesas aéreas.
O Arkhangelsk será incorporado à base naval de Zapadnaya Litsa, localizada no extremo norte da Rússia, próximo da Noruega. Esta base é a mais importante da Frota do Norte russa e desempenha um papel crucial na projeção de poder de Moscovo no Ártico e no Atlântico Norte.
Além do armamento avançado, o submarino está equipado com sistemas de espionagem e vigilância de última geração, reforçando a capacidade da Rússia em operações estratégicas tanto em tempos de paz como de conflito.
A introdução do Arkhangelsk ocorre num momento em que a Rússia enfrenta pressões crescentes devido à sua invasão da Ucrânia e às sanções económicas impostas pelo Ocidente. Apesar destas restrições, o Kremlin continua a investir em tecnologia militar avançada, demonstrando a sua determinação em manter a paridade estratégica com os Estados Unidos e outros rivais globais.
“Os submarinos da classe Yasen-M são uma contribuição inestimável para a segurança global e regional, permitindo-nos enfrentar desafios em qualquer cenário”, afirmou Moiseyev, reforçando a visão da Rússia sobre o papel estratégico destes submarinos.
Com esta nova adição, a Rússia reafirma a sua posição como uma das principais potências navais no mundo, numa altura em que o equilíbrio de forças no Ártico e no Atlântico continua a ser um tema central na geopolítica global.