Afefobia, ou o medo de ser tocado, multiplicou-se com a pandemia

É uma ansiedade muito intensa e desagradável, vivida com medo e de forma desproporcional, segundo a especialista Cristina Mae Wood, do Colégio Oficial de Psicólogos de Madrid.

Mara Tribuna
Fevereiro 8, 2021
12:20

Existem centenas de fobias específicas, desde o medo dos animais, das alturas ou mesmo do sangue. Com a pandemia, houve um medo em particular que se agravou e que ganhou outra dimensão: a afefobia, o receio de tocar e de ser tocado. É uma ansiedade muito intensa e desagradável, vivida com medo e de forma desproporcional, segundo a especialista Cristina Mae Wood, do Colégio Oficial de Psicólogos de Madrid.

A pandemia de covid-19 tem aumentado os casos de afefobia, uma vez que se trata de um vírus muito contagioso que se transmite entre humanos, como explica a psicóloga em declarações à agência de notícias Europapress. “Quando esse estímulo aparece, gera uma reação de ansiedade ou medo desproporcionado e a pessoa vive-o com grande desconforto e faz o que for preciso para o evitar”.

No entanto, não é um medo que surge apenas com a pandemia. A psicóloga reconhece que pode vir da infância, com pacientes que, por exemplo, na idade adulta não suportam ser tocados por terem sofrido abusos sexuais no passado e o toque lembra-lhes esse trauma. Também pode ser uma fobia que se aprende. “Se em criança visse como a minha mãe não suportava ser tocada, é previsível que eu também não gosto de ser tocada; eu aprendo esse comportamento e evito que isso aconteça”, explica Cristina Mae Wood.

Por outro lado, a especialista salienta que agora, devido à pandemia, muitas pessoas podem achar estranho quando alguém nos toca, ou mesmo quando veem alguém a tocar-se na televisão, quando antes o habitual era beijarem-se e abraçarem-se sem qualquer problema.

“O nosso cérebro não gosta de mudanças. Se não tocamos em ninguém há um ano, quando alguém se aproxima de nós ou nos o abraça é estranho. Agora quando vemos um filme e vemos pessoas a tocarem-se ou a abraçarem-se, isso faz-nos sentir estranhos e pensamos: ‘Que pena não o voltarmos a fazer’ ou ‘Que risco’, por exemplo. Mas não se pode evitar porque é um medo irracional”, acrescenta.

De acordo com a perita do Colégio Oficial de Psicólogos de Madrid, neste caso, o nosso organismo pode gerar tremores, suores, desconforto no estômago, falta de ar, aperto no peito e até vertigens.

Desta forma, “quando uma pessoa se aproxima de nós ou nos toca surgem pensamentos negativos e podemos fazer todo o tipo de interpretações más. Chama-se ‘avaliação de ameaça’ e desenvolvemos emoções como ansiedade, medo ou frustração. Questionamos também ‘Porque é que essa pessoa teve de me tocar?'”.

Além disso, nas pessoas que sofrem de afefobia, o medo também se pode estender aos entes queridos, que podem ser infetados com o novo coronavírus através de contactos sociais. Segundo Wood, isto faz com que as pessoas fiquem muito preocupadas e quanto mais se preocupam, mais ansiedade sentem, entrando num ciclo vicioso, no qual estão sempre a vigiar-se a si próprias, a ver se têm febre ou se foram infetadas.

Como a psicóloga identifica, as pessoas desconhecem frequentemente estes pensamentos e ações, pelo que pode ser muito incapacitante para a vida quotidiana. Na verdade, a perita prevê que quando a pandemia terminar as pessoas com afefobia terão ainda mais dificuldades, pois será mais complicado socializar.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.